É uma minissérie em cinco capítulos do canal americano HBO, que teve sua estreia no domingo (3) com reprise às segundas.
Por Marcelo Marthe de Los Angeles
No seu último dia como garçonete de um restaurante barato. Mildred Pierce (Kate Winslet) depara com o que parece ser o ápice da virada que programou para sua vida. Ela está deixando o emprego ruim para abrir um negócio próprio. E um cliente bonitão acaba de lhe passar uma cantada: convida-a para um passeio na praia.
A proposta soa quase como um milagre, dada a trajetória da personagem-título da minissérie Mildred Pierce, da HBO, que estreou no Brasil no último domingo, dia 3, com reprise às segundas. Em um subúrbio da Los Angeles dos anos 30, em meio à depressão, essa dona de casa sustenta a família fazenda bolos e tortas para fora.
O marido não pega no batente e a trai enquanto ela pena na cozinha, quando Mildred lhe dá um ultimato, não se faz de rogado: abandona a mulher e as duas filhas. Na miséria. Mildred parte então para a busca excruciante por um emprego. Só depois de levar muitas portas na cara é que se resigna com a posição de garçonete — o que provocará o desprezo de sua filha mais velha, Veda (Morgan Turner, na infância e Evan Rachel Wood na fase adulta).
Os momentos de felicidade proporcionados pela aventura com Monty Beragon (Guy Pearce) — o bon vivant que a arrasta para a praia — são como um raio de luz para ela. Mas o brilho é fortuito. Ao voltar para casa, Mildred será torturada por uma cobrança: como pode se ausentar enquanto sua caçula repentinamente adoeceu e está à beira da morte no hospital?
Seu amor incondicional por Veda, a quem cerca de todo tipo de privilégio, será retribuído, ainda, com punhaladas cada vez mais fundas. A filha se revela uma víbora, cuja ambição encontrará um par perfeito no mau-caratismo de Monty. A essa altura, a sina de Mildred já está traçada: seu destino é sofrer, "Quanto mais amor Mildred devota à filha, mais isso -se volta contra ela.
A partir de certo momento, ela já não sabe se ainda a ama ou se quer estrangulá-la", resumiu Kate Winslet a VEJA numa sessão de entrevistas com o elenco e o diretor Todd Haynes em Los Angeles.
Voltagem emocional é o atributo que define o tipo de história em questão: o melodrama, E, se há um clássico dos clássicos no gênero, trata-se de Mildred Pierce. Mais do que pelo romance que lhe deu origem, de James M, Cain, a saga da mãe vilipendiada por uma filha monstruosa se tornou conhecida graças à sua versão para o cinema, dirigida nos anos 40 por Michael Curtiz e estrelada por Joan Crawford.
O filme exerceu influência inclusive sobre os folhetins brasileiros: o noveleiro Gilberto Braga teve-o como referência direta ao criar Maria de Fátima, a vilã memorável vivida por Gloria Pires em Vale Tudo. de 1998. "A oposição entre mãe e filha veio daí. E também o fato de a mãe cozinhar bem diz Braga. Deveras: Raquel, vivida por Regina Duarte, vendia sanduíches naturais nas praias cariocas.
Em seus cinco episódios, a minissérie da HBO consegue superar a fita dos anos 40 no quesito que mais a marcou: a tensão melodramática. Em sua adaptação, Michael Curtiz moldou a história ao gênero que fez sua fama, o filme noir. Em razão das injustiças de seus tempos, também inseriu boas pitadas de moralismo no estilo.
Todd Haynes — cuja identidade como cineasta é Tributária direta dos melodramas da velha Hollywood — conhecia o filme de cor debruçou-se sobre o romance original apenas em 2008. E isso teve o efeito de uma revelação: "Só então compreendi porque o autor julgava que certas liberdades do filme dispersavam a tensão entre mãe filha"
Ao contrário do clássico de 1945, a série não omite o sucesso de Veda como cantora lírica — detalhe que torna a história ainda mais perturbadora "o doloroso para Mildred é ver que suas aspirações para a filha se concretizaram. E, por isso mesmo, ela criou as condições para Veda se tornar a megera que é", pondera Haynes.
Mildred é, em resumo, urna mulher há beira da sepultura que ela mesma cavou — e a inglesa Kate Winslet a interpreta com tal naturalismo que não há exagero em considerar o papel um marco na carreira da estrela de Titanic.
Enquanto Joan Crawford não perdia a fleuma mesmo nos momentos de humilhação, Kate não tem pudor em se despir da vaidade e expor a erosão a que as rasteiras do destino submetem sua personagem. '"O que me arrebatou no livro foi notar que Mildred experimenta emoções assustadoramente plausíveis para uma mulher", diz a atriz.
É esse elemento, aliás, que torna os melodramas tão poderosos. Seu público típico, em geral do sexo feminino, se irmana com os sentimentos dessas mulheres.
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Postado por Jerry William no .: Mil Coisas em 4/21/2011 01:19:00 PM --
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