Da: Douglas Cardoso <cyberlander@gmail.com>
A: Undisclosed-Recipient@yahoo.com
Inviato: Gio 31 marzo 2011, 03:18:40
Oggetto: ►C◄ Síndrome de Munchaunsen
Tanya ligou para o 911 apavorada porque seu filho mais novo, Matthew, havia parado de respirar. Os paramédicos chegaram à casa e encontraram o menino bem. Outras ligações se sucederam, todas relacionadas a problemas cardiorrespiratórios: parada respiratória, desmaios, apinéia, dificuldade para respirar... Quando estava no hospital, sentada ao lado do leito do filho, Tanya se tranquilizava, sentia-se em paz. Articulada, era familiarizada com o vocabulário médico. Certa vez, os paramédicos encontraram o menino exausto, como se tivesse passado bons minutos lutando para sobreviver; como se a mãe o tivesse asfixiado. Reticentes, os médicos do hospital começaram a investigar o passado da família. Descobriram que se mudava frequentemente de cidade e/ou Estado. Descobriram até que, quatro anos antes, Morgan, a segunda filha do casal, havia morrido subitamente por causa indeterminada antes de completar um ano. Kimberly, a mais velha, lembra-se pouco do episódio da irmãzinha, já que tinha apenas três anos à época. Quanto a Matthew, jamais o viu passando por qualquer episódio respiratório. Eles só aconteciam quando mãe e filho estavam sozinhos. Tanya foi diagnosticada com síndrome de Munchausen por procuração. Isso significa que tudo o que aconteceu com Matthew foi provocado ou forjado pela mãe. A prova final foram pequenos sinais no rosto do menino, que indicavam asfixia. Tanya foi afastada dos filhos e condenada a quatro anos de prisão pela morte consciente da pequena Morgan.
Esta é uma das três histórias aprofundadas no documentário Minha mãe, minha assassina, que estréia no canal pago Discovery Home & Health no domingo (27), às 23h (assista à chamada no fim da reportagem). Histórias intrigantes e devastadoras; difícil é dormir depois de assistir. O programa traz a público uma doença pouco conhecida e diz que ela deve provocar a morte de milhares de recém-nascidos todos os anos sem que a família ou os médicos desconfiem. O paciente acometido pela síndrome de Munchansen normalmente é adulto e com grave transtorno psiquiátrico, que o leva a se ferir, a se injetar medicamentos ou saliva provocando inflamações generalizadas e até a forjar dores lancinantes para se submeter a cirurgias – que nunca deflagram qualquer doença. "O paciente sofre uma carência afetiva profunda e ninguém percebe. Naquele ambiente de tratamento intensivo, ele se sente bem. Se a equipe do hospital que ele frequenta descobrir a doença, ele vai para outro", afirma o psiquiatra Maurício Viotti Daker, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Quando acontece "por procuração", é a mãe que violenta o filho (na grande maioria dos casos), provocando nele sintomas ou mentindo para os médicos que eles aconteceram. Todo o drama em volta da criança satisfaz a mãe: da equipe médica ao ambiente hospitalar. "Ela gosta da doença, do jeito que os médicos e enfermeiros agem, gosta do doente ao lado, do drama... Ela é personagem de um filme dramático", afirma Reynaldo Gomes de Oliveira, pediatra da Faculdade de Medicina da UFMG e que mantém o site Munchausen Brasil. Segundo ele, é um distúrbio difícil de tratar. Alguns especialistas acreditam que nem exista tratamento.
Tanya tem todos as características das mães com Munchausen. De acordo com o pediatra, são mães carinhosas e dedicadas, comunicativas, extrovertidas, normalmente receberam algum tipo de treinamento médico ou de enfermagem (ou são profissionais de saúde) e, talvez por isso, usam jargões médicos e tentam criar um vínculo com os profissionais do hospital para que eles não desconfiem. Dali a pouco, passam a controlar o que será feito com o filho e estão sempre sugerindo um procedimento terapêutico ou diagnóstico, "quanto mais complexo e mais invasivo, melhor", diz Oliveira. Ele explica que a mãe é sempre colaborativa. Os pais, por outro lado, são descritos na literatura científica como "muito cordatos, quase bobões". O pai nunca sabe e é sempre afastado da criança pela mãe.
Em hospitais de cerca de 60 leitos na ala pediátrica, assim como o Hospital das Clínicas da UFMG, onde trabalha Reynaldo, é normal aparecer até dois casos mensais de síndrome de Munchausen por procuração. Mas o médico afirma que o Brasil não tem uma estatística oficial da doença. Entre os casos que acompanhou no HC, Oliveira já viu mãe injetar saliva na corrente sanguínea do filho para provocar infecção generalizada; induzir o filho ao vômito com medicamentos; provocar diarréia crônica que se assemelha a uma infecção intestinal rara; asfixiar o filho e causar parada respiratória; colocar sangue na fralda, ouvido e urina; até injetar os mais variados medicamentos no filho para intoxicá-lo. "Durante a hospitalização da criança é ainda mais fácil provocar (sintomas). As mães usam o soro que já está sendo usado pelo filho, rouba medicamentos, espera a madrugada e prepara tudo com calma", afirma.
Houve um caso, ele conta, em que uma mesma mãe produziu 14 eventos diferentes ao longo de cinco meses de internação do filho de 11 anos. Ela era aficionada por sangue: fazia com que ele aparecesse em tudo o que podia para provar que o filho estava com hemorragia. Certa vez, os médicos notaram que havia marcas de sangue no teto, que, segundo a mãe, teriam jorrado do ouvido do menino. "Os médicos pensaram: 'o sangue que sai da orelha não atingiria o teto da enfermaria. E, se todo esse sangue que o menino perdeu fosse sangue dele, ele estaria anêmico", lembra. Então a mãe passou a interferir nos procedimentos de enfermagem para tirar sangue dele. O menino não comia, era alimentado por nutrição parenteral (via sanguínea). "Às vezes a mãe consegue a cooperação da criança. Sem querer, ela condicionou seu filho a aceitar aquela situação", afirma.
Em outro caso, a mãe simulou um quadro de crise na vesícula e convenceu o médico a operar o filho. Depois da cirurgia – que não serviu para nada, a não ser prejudicar o menino –, foi a outro hospital e reclamou obstrução intestinal devido à operação anterior, uma vez que o filho não parava de vomitar. Reynaldo Gomes de Oliveira e seu colega de equipe entraram no quarto do paciente, que tinha acabado de vomitar, como indicava a sujeira no chão e o relato da mãe. Oliveira atentou para o fato do menino não estar com a boca cheirando vômito, tirou uma foto da cena e a analisou. "Ficou evidente que a mãe misturou resto de comida com água e, quando ninguém estava olhando, jogou no chão", diz Oliveira.
Nesses casos, a equipe médica fica "rendida" porque é treinada para acreditar no que a mãe conta, não para suspeitar. Acontece que, em casos crônicos, e pelos sintomas serem provocados ou forjados, os médicos não conseguem relacionar os resultados de exames com prováveis doenças, o quadro clínico da criança não faz sentido nem para o pediatra nem para especialistas, o resultado do exame está normal quando devia estar anormal... Então o médico pode começar a desconfiar. "Só a suspeita é suficiente para levar o caso ao poder público. Mas é uma coisa muito complicada, o médico fica constrangido", afirma Oliveira. Se não é o médico que descobre, é uma faxineira ou alguém da família que surpreende a mãe violentando a criança ou descobre seringas, medicamentos e outras pistas em armários e bolsas. "Eu não me aventuraria a dizer quantas crianças já morreram no Brasil vítimas dessa doença e ninguém nunca suspeitou", diz o pediatra.
Por aqui, os casos de síndrome de Munchausen por procuração são levados ao Juizado de Menores. Geralmente, o juiz só toma medidas drásticas, como colocar a criança sob tutela do Estado, em casos extremos. "O que é pior? Uma mãe 'doida' ou uma Fundação Casa?", questiona Oliveira. Nos EUA, alguns Estados consideram esse tipo de síndrome um crime, já que a mãe pratica violência contra o filho. Lá, a maioria dos casos é decidido por júri popular – que sempre coloca a mãe na cadeia. "Elas não resistem a essa compulsão, é uma doença muito estranha", afirma o psiquiatra Daker.
Entenda a doença |
O nome do transtorno vem do Barão de Munchausen, um nobre alemão que contava histórias exageradas e mentirosas sobre suas aventuras como militar. |
O que é a síndrome de Munchausen Acontece com adultos, normalmente solitários. O paciente provoca diversos sintomas e reações no corpo que exigem cuidados médicos, como injetar anticoagulante para estimular hemorragias, ou medicamentos para dar febre, ou ainda, se fere e não permite que a ferida cicatrize. Ele sabe que está se prejudicando, que pode até morrer ou perder um membro, mas não consegue parar, é uma compulsão. É muito comum o doente ter o "abdômen xadrez", todo cortado, de tanto que passou por cirurgias para checar se havia alguma alteracão nos órgãos abdominais que justificassem a dor (falsa) que sentia. Há casos em que o paciente começa a inventar que é psicótico, ele aprende como se comporta um psicótico e mimetiza suas atitudes. A doença normalmente deixa a equipe médica desorientada. |
O que é a síndrome de Munchausen por procuração Acontece quando um responsável ou cuidador provoca e forja, de forma persistente, sintomas na criança. Entre 85% a 95% dos casos acontece da mãe em relação ao filho. É considerada uma forma de violência física contra o menor por exigir uma série de exames e investigações extremamente penosos para a criança. As mães chegam a falsificar materiais colhido para exames, induzindo o médico a tratamentos desnecessários ou investigações complexas e agressivas. É mais comum acontecer antes dos cinco anos da criança, a média é de 20 meses, o que não exclui casos que duram até a adolescência. Uma boa porcentagem das crianças que morrem sem causa determinada pode ter sido vítima de uma mãe com a síndrome. Estima-se que entre 1% e 5% dos casos de crianças que morreram subitamente foram vítimas da síndrome de Munchausen. |
Assista à chamada do documentário Minha mãe, minha assassina
Paz, Força e Alegria
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