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Cone© LANÇAMENTO Livros Loureiro: Vida Depois da Vida - Dr. Raymond Moody, Jr.

VIDA DEPOIS DA VIDA -Dr. Raymond Moody,


Jr.
16.ª EDIÇÃO


O que acontece quando uma pessoa morre? Uma pesquisa séria e

impressionante do fenômeno da sobrevivência à morte física.
Nos últimos anos o Dr. Raymond Moody Jr. Conduziu um estudo
envolvendo mais de uma centena de indivíduos que
experimentaram a morte clínica e reviveram.
Os relatos de suas experiências são espantosamente semelhantes em
seus detalhes e fornecem uma prova incontestável da sobrevivência
do espírito humano depois da morte. Este livro vem confirmar o
que nós temos pensado durante dois mil anos: que existe vida
depois da morte!

DÉCIMA SEXTA EDIÇÃO

Para George Ritchie e, através dele, para Aquele a quem sugeriu.

A EXPERIÊNCIA DE MORRER
"Um homem está morrendo e, quando chega ao ponto de maior
aflição física, ouve seu médico declará-lo morto. Começa a ouvir um
ruído desagradável, um zumbido alto ou toque de campainhas e, ao
mesmo tempo, sente-se movendo muito rapidamente através de um
túnel longo e escuro. Depois disso, encontra-se repentinamente fora
do seu corpo físico... Logo outras coisas começam a acontecer.
Outros vêm ao seu encontro e ajudam. Vê de relance os espíritos de
parentes e amigos já mortos, e aparece diante dele um espírito
amigo de uma espécie que nunca encontrou antes — um espírito de
luz."


Agradecimentos


Muitas pessoas me auxiliaram e encorajaram durante a pesquisa e
redação deste livro e eu não poderia ter completado este projeto
sem o seu auxílio. Meu bom amigo John Ouzts foi quem me
convenceu a fazer minha primeira conferência pública sobre este
assunto. John Egle, da Mockingbird Books, foi quem primeiro me
incentivou a reunir minhas descobertas por escrito e forneceu apoio
e estímulo. Leonard, Mae, Becky e Scott Brooks forneceram-me
alojamento, alimentação e condução em muitas ocasiões, quando
precisei deles. Kathy Tabakian acompanhou-me em várias
entrevistas, e eu me beneficiei de longos debates com ela. Russ
Moores, Richard Martin e Ed McCranie, do Medicai College, da
Geórgia, deram-me valiosas sugestões e indicaram-me literatura
muito relevante a respeito do assunto. Minha esposa passou longas
horas relendo o manuscrito e as provas tipográficas. Finalmente,
gostaria, acima de tudo, de agradecer a todos aqueles que me
contaram seus encontros com a morte. Apenas posso esperar que
este livro seja digno de toda a confiança que cada uma das pessoas
acima mencionadas depositou em mim.

Prefácio

Tive o privilégio de ler, antes da publicação, uma cópia do livro do
Dr. Moody, Vida depois da vida, e fiquei contente por este jovem
estudioso ter tido a coragem de reunir suas descobertas e tornar
acessível ao grande público este novo tipo de pesquisa.

Como durante os últimos vinte anos tenho trabalhado com
pacientes vítimas de doenças incuráveis, tenho me preocupado cada
vez mais em encarar o próprio fenômeno da morte. Já aprendemos


muita coisa sobre o processo de morrer, mas ainda faltam muitas
respostas em relação ao momento da morte e às experiências que os
nossos pacientes têm quando se diz que estão clinicamente mortos.

A pesquisa, como a que o Dr. Moody nos apresenta no seu livro, é
que nos esclarecerá muitas questões e confirmará o que nos tem
sido ensinado há dois mil anos: que há vida depois da morte.
Embora o Dr. Moody não pretenda ter estudado a própria morte,
fica evidente, pelas suas descobertas, que o paciente moribundo
continua a ter informação consciente do seu ambiente depois de ter
sido declarado clinicamente morto. Isso coincide em muito com a
minha própria pesquisa, que utilizou relatos de pacientes que
morreram e vieram de volta, totalmente contra nossas expectativas
e muitas vezes para surpresa de alguns médicos bem conhecidos,
altamente especializados e certamente competentes.
Todos esses pacientes experimentaram o ato de flutuar para fora de
seus corpos físicos, associado com uma grande sensação de paz e
totalidade. Muitos estavam cônscios de outra pessoa que os
ajudava' em sua transição para outro plano de existência. A maioria
foi saudada por pessoas amadas que tinham morrido antes, ou por
alguma figura religiosa que tinha sido significativa durante suas
vidas e que coincidia, naturalmente, com suas próprias crenças
religiosas. Foi esclarecedor ler o livro do Dr. Moody no momento
em que me preparo para pôr no papel os resultados de minha
própria pesquisa.
O Dr. Moody deve estar preparado para um bocado de críticas,
vindas principalmente de duas áreas. Haverá membros do clero que
ficarão perturbados por quem quer que ouse pesquisar uma área
supostamente tabu. Alguns representantes de uma seita religiosa já
expressaram seu descontentamento diante de estudos como este.
Um sacerdote referiu-se a "vender barato a graça". Outros sentem
simplesmente que a questão da vida depois da morte deve
permanecer uma questão de fé cega, não posta em dúvida por
ninguém. O segundo grupo de pessoas do qual o Dr. Moody pode


esperar que reajam ao seu livro com preocupação são os cientistas e
os médicos que encaram estudos deste tipo como algo "nãocientífico".
Penso que alcançamos uma era de transição em nossa sociedade. É
preciso ter a coragem de abrir novas portas e admitir que nossos
instrumentos científicos atuais são inadequados para muitas dessas
novas investigações. Penso que este livro abrirá essas novas portas
para pessoas capazes de manter a mente aberta, e que lhes dará
esperanças e coragem de avaliar novas áreas de pesquisa. Elas
saberão que este relato do Dr. Moody é verdadeiro, e que foi escrito
por um investigador autêntico e honesto. É também corroborado
pela minha própria pesquisa e pelos resultados de outros que
pensam com seriedade: cientistas, eruditos e membros do clero que
têm tido a coragem de investigar este novo campo de pesquisa na
esperança de ajudar aqueles que precisam saber mais do que
acreditar.
Recomendo este livro a qualquer um que tenha a mente aberta, e
congratulo o Dr. Moody pela coragem de publicar seus resultados.

Elisabeth Kubler-Ross, doutora em
medicina.

Flossmoor, Illinois.

Introdução

Este livro, escrito como foi por um ser humano, reflete as opiniões,
os preconceitos e o passado de seu autor. Por isso, embora eu tenha
tentado ser objetivo e direto tanto quanto possível, certos fatos
acerca de mim mesmo podem ser úteis na avaliação de algumas das
afirmações extraordinárias que são feitas a seguir.


Em primeiro lugar, nunca estive eu mesmo próximo da morte, e
portanto não estou apresentando um relato de experiências de
primeira mão que eu mesmo tenha tido. Nem por isso posso
reivindicar uma objetividade total, uma vez que as minhas emoções
acabaram por ficar envolvidas neste projeto. Ao ouvir tantas
pessoas relatarem as experiências fascinantes de que trata este
volume, cheguei a sentir quase como se as tivesse vivido eu próprio.
Só posso esperar que essa atitude não tenha comprometido a
racionalidade e o equilíbrio de minha abordagem.
Em segundo lugar, escrevo como alguém que não está muito
familiarizado com a vasta literatura sobre fenômenos paranormais e
ocultos. Não digo isso para diminuí-la, e tenho confiança em que
uma familiaridade maior com ela possa aumentar minha compreensão
dos eventos que estudei. Na verdade, pretendo agora olhar mais
de perto alguns desses escritos e ver em que extensão as
investigações de outros são confirmadas pelos meus resultados.

Em terceiro lugar, minha educação religiosa merece algum
comentário. Minha família freqüentava a Igreja Presbiteriana;
entretanto, meus pais nunca tentaram impor suas convicções
religiosas ou crenças aos seus filhos. De modo geral tentaram, à
medida que eu crescia, encorajar quaisquer interesses que eu tivesse
desenvolvido por mim mesmo, e proporcionavam oportunidades
para que eu lhes desse continuidade. Assim, cresci tendo uma
"religião" que não era um conjunto de doutrinas fixas, mas sim uma
preocupação com doutrinas espirituais e religiosas, com
ensinamentos e questões. Acredito que todas as grandes religiões do
homem têm muitos conhecimentos para nos dar e que nenhum de
nós tem todas as respostas quanto às verdades profundas e
fundamentais de que a religião trata. Em termos de organização,
sou membro da Igreja Metodista.
Em quarto lugar, meu passado acadêmico e profissional é algo
diversificado — alguns diriam fraturado. Freqüentei os cursos de
pós-graduação em filosofia da Universidade da Virgínia e recebi


meu doutoramento na matéria em 1969. Áreas de meu especial
interesse em filosofia são ética, lógica e filosofia da linguagem.
Depois de ensinar filosofia por três anos em uma universidade do
leste da Carolina do Norte, decidi fazer medicina em uma
faculdade, e pretendo tornar-me psiquiatra e ensinar filosofia da
medicina em uma escola de ciências médicas. Todos esses interesses
e experiências contribuíram necessariamente para moldar a abordagem
que adotei neste estudo.
Minhas expectativas em relação a este livro são chamar a atenção
para um fenômeno que é ao mesmo tempo muito amplo e muito
bem escondido e, simultaneamente, ajudar a criar uma atitude
pública mais receptiva. Pois é minha firme convicção que este fenômeno
tem grande significado, não só para muitas disciplinas
acadêmicas e práticas — especialmente psicologia, psiquiatria,
medicina, filosofia, teologia e o sacerdócio —, mas também para a
maneira como conduzimos a nossa vida cotidiana.
Seja-me permitido dizer desde o começo que, com base no que
explicarei bem mais tarde, não estou tentando provar que existe
vida depois da morte. Nem creio que "prova" disso seja possível no
presente. Em parte por essa razão, evitei usar nomes reais e alterei
alguns detalhes identificadores das histórias, deixando ao mesmo
tempo seus conteúdos inalterados. Isso foi necessário, tanto para
proteger a intimidade das pessoas implicadas como, em muitos
casos, para obter a permissão de publicar a experiência inicialmente
a mim relatada.
Haverá muitos que acharão incríveis as afirmações deste livro e cuja
primeira reação será descartá-las sem mais aquela. Não tenho
nenhum argumento para censurar quem quer que se encontre nesta
categoria; eu próprio teria exatamente a mesma reação apenas há
alguns anos. Não estou pedindo a ninguém que aceite o conteúdo
deste volume e acredite nele com base apenas na minha autoridade.
Com efeito, como um lógico que desaconselha o caminho da crença
que procede de inválidos apelos à autoridade, peço especificamente


que ninguém o faça. Tudo o que peço a alguém que desacredite do
que lê é que investigue um pouco aqui e ali por conta própria. Já há
algum tempo venho lançando este desafio repetidamente. Dos que o
aceitaram, houve muitos que, céticos de início, chegaram a partilhar
minha perplexidade diante destes eventos.
De outro lado, haverá sem dúvida muitos que ao ler isto sentirão
um grande alívio, pois terão descoberto que não estão sozinhos no
ter tido tais experiências. A esses — especialmente se, como a
maioria, esconderam sua história, exceto de umas poucas pessoas
de confiança — só posso dizer isto: tenho a esperança de que este
volume possa encorajá-los a falar com um pouco mais de liberdade,
de modo que uma das mais intrigantes facetas da alma humana
possa ser mais claramente elucidada.

I
O fenômeno da morte


Como é que é morrer?
Essa é uma questão sobre a qual a humanidade se tem debruçado
desde que existem seres humanos. Durante os últimos anos tive
oportunidade de levantar essa questão diante de um número
considerável de audiencias. Esses grupos incluíam desde classes de
psicologia, filosofía e sociologia, passando por organizações
religiosas, clubes cívicos e audiências de televisão, até sociedades
profissionais de medicina. Com base nessa experiência, posso
afirmar com segurança que este tópico excita os mais poderosos
sentimentos em gente com os mais diversos tipos emocionais e
modos de vida.


Entretanto, a despeito de todo esse interesse, ainda permanece
verdade afirmar que é muito difícil para a maioria de nós falar sobre
a morte. Há pelo menos duas razões para isso. Uma delas é antes de
tudo psicológica e cultural: o assunto morte é tabu. Sentimos, talvez
apenas subconscientemente, que estar em contato com a morte, de
qualquer jeito, ainda que indiretamente, de algum modo nos coloca
em confronto com a perspectiva de nossa própria morte, aproxima-
nos de nossa morte e a torna mais real e pensável. Por exemplo, a
maioria dos estudantes de medicina, incluindo eu próprio, descobre
que mesmo o encontro com a morte que ocorre na primeira visita
aos laboratórios de anatomia no início do curso de medicina pode
provocar fortes sentimentos de mal-estar. No meu próprio caso, a
razão dessa resposta parece agora bastante óbvia. Ocorreu-me
retrospectivamente que não era inteiramente preocupação pela
pessoa cujos restos mortais eu via ali, embora esse sentimento
certamente estivesse presente. O que eu estava vendo naquela mesa
era um símbolo de minha própria mortalidade. De algum modo,
ainda que apenas pré-conscientemente, este pensamento deve ter
estado presente em minha mente: "Isto acontecerá comigo também".
Da mesma forma, falar sobre a morte pode parecer ao nível
psicológico um outro modo de aproximar-se dela indiretamente.
Muita gente sem dúvida tem a sensação de que falar sobre a morte
já é, com efeito, conjurá-la, trazê-la mais perto, de modo que seja
preciso encarar a inevitabilidade do nosso próprio fim. Assim, para
poupar-nos esse trauma psicológico, decidimos evitar o assunto
tanto quanto possível.
A segunda razão pela qual é difícil discutir a morte é mais
complicada, e tem suas raízes na própria natureza da linguagem.
Na sua maioria, as palavras da linguagem humana aludem a coisas
das quais temos experiência através dos nossos próprios sentidos
físicos. A morte, entretanto, é algo que jaz além da experiência
consciente da maioria de nós porque a maioria de nós ainda não
passou por ela.


Se é que vamos falar acerca da morte, então é preciso evitar tanto os
tabus sociais como os dilemas lingüísticos profundamente
estabelecidos que derivam de nossa própria inexperiência. O que
freqüentemente acabamos por fazer é falar por analogias
eufemísticas. Comparamos a morte ou morrer com coisas mais agradáveis
da nossa experiência, coisas com as quais temos mais
familiaridade.

Talvez a mais comum analogia desse tipo seja a comparação entre a
morte e o sono. Morrer, dizemos a nós mesmos, é como dormir.
Essa figura de retórica ocorre com muita freqüência no pensamento
e na lin--guagem cotidianos, bem como na literatura de muitas
culturas e de muitas épocas. Era aparentemente muito comum
mesmo no tempo dos antigos gregos. Na Ilíada, por exemplo,
Homero chama o sono de "irmão da morte", e Platão, na sua obra
Apologia, põe as seguintes palavras na boca de seu mestre,
Sócrates, que acaba de ser condenado à morte por um júri ateniense:

"[Agora, se a morte é só um sono sem sonhos,] deve ser um
benefício maravilhoso. Suponho que, se se diz a alguém que escolha
a noite na qual dormiu tão profundamente a ponto de nem sequer
ter sonhos e depois que a compare com as outras noites e dias de
sua vida, e então diga, dando a devida consideração, quantos dias e
noites melhores e mais felizes do que essa passou em todo o curso
de sua vida — bem, penso que. . . [qualquer] um acharia fácil contar
esses dias e noites em comparação com o resto. Se a morte é assim,
então digo que é um benefício, porque a totalidade do tempo, se
encarada dessa maneira, pode ser vista como não mais do que uma
só noite".

Nossa própria linguagem contemporânea está imbuída dessa
mesma analogia. Considere a frase "pôr para dormir". Se você leva
seu cachorro ao veterinário com a instrução de fazê-lo dormir,
normalmente quer dizer algo muito diferente do que diria ao levar


sua mulher ou seu marido a um anestesista com a mesma instrução.
Outros preferem uma analogia diferente, mas relacionada. Morrer,
dizem, é como esquecer.

Quando a gente morre, esquece todas as nossas mágoas; todas as

nossas memórias dolorosas e perturbadoras são obliteradas.
Velhas e difundidas como sejam, contudo, ambas as analogias, a do
"dormir" e a do "esquecer", são no fim das contas inadequadas no
que diz respeito ao consolo que nos proporcionam. São duas
maneiras diferentes de fazer a mesma afirmação. Ainda que nos
digam isso de uma forma algo mais aceitável, ambas dizem, com
efeito, que a morte é simplesmente a aniquilação da experiência
consciente, para sempre. Se é assim, então a morte não tem na
verdade nenhum dos aspectos desejáveis do dormir ou do esquecer.
Dormir é uma experiência positiva, desejável na vida porque se
desperta depois. Uma repousante noite de sono faz com que as
horas seguintes em que estamos despertos se tornem mais
agradáveis e produtivas. Se não fosse seguido pelo despertar,
nenhum dos efeitos benéficos do sono seria possível. Da mesma
forma, a aniquilação de toda experiência consciente implica não só a
obliteração das memórias desagradáveis, mas também a das
agradáveis. Assim, uma vez analisadas, nenhuma das analogias
chega a nos dar algum consolo ou esperança ao encarar a morte.

Há, no entanto, um outro ponto de vista que desaprova a idéia de
que a morte é uma aniquilação da consciência. De acordo com essa
outra e talvez mais antiga tradição, algum aspecto do ser humano
sobrevive mesmo depois que o corpo físico cesse de funcionar e seja
finalmente destruído. A esse aspecto persistente muitos nomes têm
sido dados, entre os quais "psique", "alma", "mente", "espírito", "eu",
"ser" e "consciência". Não importando o nome por que seja
chamado, a noção de que se passa para outro reino da existência
depois da morte física é das mais veneráveis entre as crenças
humanas. Há um cemitério na Turquia que foi usado pelos homens


de Neandertal há aproximadamente cem mil anos. Lá, impressões
fossilizadas permitiram aos arqueólogos descobrir que os homens
primitivos enterravam seus mortos em ataúdes de flores, indicando
talvez que viam a morte como a ocasião de uma celebração — como

o trânsito dos mortos deste mundo para outro. Com efeito, túmulos
encontrados em escavações muito primitivas em todas as partes da
Terra nos dão testemunhos da crença na sobrevivência humana
depois da morte.
Em resumo, deparamo-nos com duas respostas contrastantes à
nossa pergunta original acerca da natureza da morte, ambas de
derivação muito antiga, e, no entanto, sustentadas ainda hoje.
Alguns dizem que a morte é a aniquilação da consciência; outros,
com igual confiança, que a morte é a passagem da alma ou da
mente para uma outra dimensão da realidade. No que se segue não
pretendo contrariar nenhuma dessas duas respostas. Quero
simplesmente fornecer o relato de uma pesquisa que empreendi
pessoalmente.

Durante os últimos anos encontrei um grande número de pessoas
que estiveram envolvidas no que chamarei "experiências de quase
morte". Encontrei essas pessoas de várias maneiras. A princípio, por
coincidência. Em 1965, quando era estudante de filosofia na
Universidade da Virgínia, encontrei um homem que era professor
de psiquiatria clínica na faculdade de medicina. Desde o começo
fiquei impressionado com seu calor, bondade e bom humor. Foi
uma grande surpresa quando mais tarde vim a saber a respeito dele
um fato muito interessante, o de que tinha estado "morto" — não
uma, mas duas vezes, com o intervalo de dez minutos — e de que
tinha feito o relato mais fantástico sobre o que aconteceu com ele
enquanto esteve "morto". Mais tarde escutei ele próprio contar sua
história a um pequeno grupo de estudantes interessados. Na
ocasião fiquei muito impressionado, mas como tinha pouca base
para avaliar tais experiências, apenas "arquivei" a narrativa, tanto


na minha mente como sob a forma de uma gravação em fita

magnética que fiz na ocasião.
Alguns anos mais tarde, depois de ter recebido meu doutoramento
em filosofia, eu estava ensinando em uma universidade na parte
leste do Estado da Carolina do Norte. Em um dos cursos pedi aos
alunos que lessem o diálogo Fédon de Platão, trabalho em que a
imortalidade é uma das questões discutidas. Nas minhas aulas tinha
estado destacando as outras doutrinas que Platão ali apresenta, e
não as enfocara sobre a discussão da vida depois da morte. Um dia,
depois das aulas, um aluno pediu para falar comigo. Perguntou se
podíamos discutir o assunto da imortalidade. Tinha algum interesse
no assunto porque a avó dele tinha "morrido" durante uma
operação cirúrgica e tinha narrado uma experiência bastante
surpreendente. Pedi-lhe que contasse para mim, e, para minha
grande surpresa, relatou quase que a mesma série de eventos que
eu tinha escutado o professor de psiquiatria descrever alguns anos
antes.

A essa altura minha procura de casos tornou-se algo mais ativa e
comecei a incluir leituras sobre o tema da sobrevivência humana
depois da morte biológica nos meus cursos de filosofia. Contudo,
fui cuidadoso em não mencionar as duas experiências de morte em
meus cursos. Adotei, na verdade, a atitude de esperar para ver. "Se
esses relatos forem bastante comuns", refleti,

"irei provavelmente ouvir mais, se tão-somente levantar o tópico
geral da sobrevivência em discussões filosóficas, expressar uma
atitude simpática em relação a essa questão e esperar." Para minha
surpresa, encontrei em quase todas as classes, de mais ou menos
trinta alunos, pelo menos um estudante que me procurava depois
da aula para relatar uma experiência pessoal de "quase morte".
O que me surpreendeu desde o começo do meu interesse foi a
grande semelhança dos relatos, a despeito do fato de que vinham de
pessoas com as mais diversas religiões e diferentes circunstâncias


sociais e educacionais. Na ocasião em que ingressei na faculdade de
medicina, em 1972, já tinha coletado um número considerável
dessas experiências e comecei a mencionar o estudo informal que
estava fazendo a algumas das minhas relações na faculdade. Em
dado momento um amigo me convenceu a fazer uma palestra na
Sociedade de Medicina, e outras conferências se seguiram. Mais
uma vez descobri que depois de cada palestra alguém vinha me
contar uma experiência pessoal.

À medida que fiquei mais conhecido por causa desse interesse,
médicos começaram a me enviar pessoas que eles tinham
ressuscitado e que relatavam experiências pouco usuais. Outros
ainda me escreveram dando informações quando apareceram nos
jornais artigos sobre os meus estudos.
No momento presente, conheço cerca de cento e cinqüenta casos
desse fenômeno. As experiências que estudei recaem sobre três
categorias distintas:

1) Experiências de pessoas que foram ressuscitadas depois de terem
sido julgadas, consideradas ou declaradas mortas pelos seus
médicos.
2) Experiências de pessoas que, no decorrer de acidentes ou doenças
ou ferimentos graves, estiveram muito próximas da morte física.
3) Experiências de pessoas que, enquanto morriam, contaram-nas a
outras pessoas que estavam presentes. Mais tarde, essas outras
pessoas relataram para mim o conteúdo da experiência de morte.

Da vasta quantidade de material que podia ser derivado desses
cento e cinqüenta casos, obviamente ocorreu uma seleção. Às vezes
proposital. Por exemplo, embora eu tenha achado que os relatos do
terceiro tipo estejam de acordo e complementem bem as experiências
dos outros dois tipos, abandonei a maioria deles
considerando duas razões. Primeiro, porque ajudava a reduzir o
número de casos estudados a um nível que permitisse melhor
tratamento dos dados, e, segundo, porque issó me permitia ficar


tanto quanto possível com os relatos de primeira mão. Assim, entrevistei
com bastantes pormenores cerca de cinqüenta pessoas cujas
experiências sou capaz de relatar. Dessas, os casos do primeiro tipo
(onde morte clínica aparente ocorreu realmente) são certamente
mais dramáticos do que os do segundo tipo (nos quais só ocorreu
um roçar com a morte). De fato, sempre que faço conferências
públicas sobre este fenômeno, os episódios de "morte" são os que
invariavelmente provocam mais interesse. Notícias na imprensa às
vezes dão a impressão de que são o único tipo de caso com que
tenho tratado.

No entanto, ao selecionar os casos apresentados neste livro, evitei a
tentação de lidar só com os casos em que ocorreu o evento "morte".
Pois, como se tornará óbvio, casos do segundo tipo não são
diferentes, mas formam uma continuidade com os casos do
primeiro tipo. Além disso, embora as experiências de quase morte
sejam elas próprias notavelmente similares, tanto as circunstâncias
que as rodeiam como as pessoas que as descrevem variam
consideravelmente. Assim sendo, tentei dar uma amostra das
experiências que refletisse adequadamente essas variações. Com
essas restrições em mente, vamos agora voltar-nos para a
consideração do que pode acontecer, tanto quanto fui capaz de descobrir,
durante a experiência de estar morrendo.

II
A experiência de estar morrendo


Apesar da grande variação nas circunstâncias que rodeiam a
proximidade da morte e no tipo de pessoas que passaram por ela, a


verdade é que há uma notável semelhança entre os relatos das
próprias experiências. De fato, a semelhança entre os vários relatos
é tão grande que se podem facilmente separar cerca de quinze
elementos que reaparecem repetidamente na massa de narrativas
que coletei. Com base nesses pontos de semelhança, seja-me
permitido construir uma breve experiência, teoricamente "ideal" ou
"completa", que incorpore todos os elementos comuns na ordem em
que é típico que ocorram.

Um homem está morrendo e, quando chega ao ponto de maior
aflição física, ouve seu médico declará-lo morto. Começa a
ouvir um ruído desagradável, um zumbido alto ou toque de
campainhas, e ao mesmo tempo se sente movendo muito
rapidamente através de um túnel longo e escuro. Depois disso,
repentinamente se encontra fora de seu corpo físico, mas ainda
na vizinhança imediata do ambiente físico, e vê seu próprio
corpo a distância, como se fosse um espectador. Assiste às
tentativas de ressurreição desse ponto de vista inusitado em
um estado de perturbação emocional.

Depois de algum tempo, acalma-se e vai se acostumando à sua
estranha condição. Observa que ainda tem um "corpo", mas
um corpo de natureza muito diferente e com capacidades muito
diferentes das do corpo físico que deixou para trás. Logo
outras coisas começam a acontecer. Outros vêm ao seu
encontro e o ajudam. Vê de relance os espíritos de parentes e
amigos que já morreram e aparece diante dele um caloroso
espírito de uma espécie que nunca encontrou antes — um
espírito de luz. Este ser pede-lhe, sem usar palavras, que
reexamine sua vida, e o ajuda mostrando uma recapitulação
panorâmica e instantânea dos principais acontecimentos de
sua vida. Em algum ponto encontra-se chegando perto de uma
espécie de barreira ou fronteira, representando aparentemente


o limite entre a vida terrena e a vida seguinte. No entanto,
descobre que precisa voltar para a Terra, que o momento da
sua morte ainda não chegou. A essa altura oferece resistência,
pois está agora tomado pelas suas experiências no após-vida e
não quer voltar. Está agora inundado de sentimentos de
alegria, amor e paz. Apesar dessa atitude, porém, de algum
modo se reúne ao seu corpo físico e vive.
Mais tarde tenta contar o acontecido a outras pessoas, mas
tem dificuldade em fazê-lo. Em primeiro lugar, não consegue
encontrar palavras humanas adequadas para descrever esses
episódios não-terrenos. Descobre também que os outros caçoam
dele, e então pára de dizer essas coisas. Ainda assim, a
experiência afeta profundamente sua vida, especialmente suas
opiniões sobre a morte e as relações dela com a vida.
É importante ter em mente que a narrativa acima não pretende ser
representativa da experiência de alguma pessoa. É, antes, um
"modelo", um composto de elementos comuns encontrados em
muitas histórias. Introduzo esse modelo aqui apenas para dar uma
idéia preliminar e geral do que uma pessoa que está morrendo pode
experimentar. Uma vez que é uma abstração, e não um relato real,
na continuação do capítulo irei discutir em pormenor cada um dos
elementos comuns, dando muitos exemplos.

Antes disso, contudo, alguns fatos devem ser estabelecidos com a
finalidade de colocar o restante da minha exposição sobre a
experiência de morrer em uma perspectiva correta.

1) Apesar da notável semelhança entre os vários relatos, não há
dois deles exatamente iguais (embora alguns cheguem a ser
praticamente idênticos).

2) Não encontrei nenhuma pessoa que relatasse cada um dos
componentes individuais da experiência "completa". Muitos relatam


a maioria deles (isto é, oito ou mais em cerca de quinze), e alguns

chegam a incluir até doze elementos.
3) Não há nenhum dos elementos da experiência composta que
tenha sido narrado por todas as pessoas, que tenha aparecido em
todos os relatos. Não obstante, alguns desses elementos chegam
bem perto de serem universais.
4) Não há em meu modelo abstrato nenhum componente que
tenha aparecido apenas em um único relato. Cada um dos
elementos apareceu em várias e diferentes histórias.
5) A ordem na qual uma pessoa que está morrendo passa por esses
vários estágios delineados rapidamente acima pode variar da
ordem dada no meu "modelo teorético". Para dar um exemplo,
várias pessoas relataram ter visto o "ser de luz" antes de deixar seus
corpos físicos, ou ao mesmo tempo, e não, como no modelo, algum
tempo depois. Contudo, a ordem em que os negócios ocorrem no
modelo é uma ordem bastante típica, e grandes variações não são
comuns.

6) O quão longe a pessoa que está morrendo chega na experiência
hipotética completa depende de se a pessoa realmente passou pela
morte clínica aparente ou não, e, se sim, por quanto tempo ficou
neste estado. No geral, pessoas que estiveram "mortas" parecem
relatar experiências mais completas e detalhadas do que as que
apenas estiveram próximas da morte, e as que estiveram "mortas"
por mais tempo vão mais fundo do que as que estiveram "mortas"
por um tempo menor.

7) Conversei com algumas pessoas que foram declaradas mortas,
ressuscitadas, e que ao voltar não relataram nenhum desses
elementos comuns. De fato, disseram que não se lembravam de
absolutamente nada a respeito de suas "mortes". Bastante curioso
também, conversei com várias pessoas que foram consideradas
clinicamente mortas em ocasiões diversas com intervalo de anos, e


que relataram não experimentar nada em uma dessas ocasiões, mas
que tinham tido experiências bem complexas em outras.

8) Deve-se destacar que estou escrevendo principalmente sobre
relatos, narrativas ou lembranças de outras pessoas que me foram
transmitidos verbalmente durante entrevistas. Assim, quando
observo que um dado elemento da experiência "completa", abstrata,
não ocorreu em dado relato, isso não significa que necessariamente
não tenha ocorrido com a pessoa em questão. Significa apenas que a
pessoa não me disse que ocorreu, ou que não se pode depreender
do relato que a pessoa o tivesse indubitavelmente experimentado.
Dentro desse quadro, pois, vamos examinar alguns dos
estágios e acontecimentos comuns nas experiências de morrer.

Inefabilidade

A compreensão geral que temos da linguagem depende da
existência de uma grande comunidade de experiências comuns da
qual quase todos participamos. Esse fato cria uma grande
dificuldade, que complica todas as discussões que se seguem. Os
eventos vi vendados por aqueles que estiveram próximos da morte
estão fora da nossa comunidade de experiências, por isso bem se
poderia esperar que eles tivessem certas dificuldades lingüísticas ao
expressar o que lhes sucedeu. Com efeito, é isso precisamente o que
acontece. As pessoas em questão unanimemente caracterizam suas
experiências como inefáveis, isto é, "inexprimíveis".
Muitas pessoas fizeram observações no sentido de que "não existem
palavras para expressar o que estou tentando dizer" ou "não existem
adjetivos e superlativos que descrevam isto". Uma mulher colocou a
questão em termos sucintos quando disse:


"Bem, para mim é um verdadeiro problema tentar lhe contar isso,
porque todas as palavras que conheço são tridimensionais.
Enquanto passava por isso, ficava pensando: 'Ora, quando eu
estudava geometria, eles sempre me diziam que só havia três
dimensões, e eu sempre acatei isso. Mas eles estavam errados. Há
mais'. E, naturalmente, o nosso mundo — aquele em que estamos
vivendo agora — é tridimensional, mas o próximo certamente não.
E é por esse motivo que é tão difícil lhe contar isso. Só posso lhe
descrever com palavras que são tridimensionais. É o melhor que
posso fazer, mas não é na verdade o bastante. Não posso mesmo lhe
dar um quadro completo".

Ouvir a notícia

Inúmeras pessoas contaram que ouviram seus médicos ou outros
presentes efetivamente declará-las mortas. Uma mulher contou-me:

"Eu estava no hospital, mas eles não sabiam bem o que é que eu
tinha. Aí o Dr. James, meu médico, me enviou para o radiologista
no andar de baixo para um exame de rins para ver se descobriam.
Primeiro testaram a droga que iam usar, pois eu tenho um bocado
de alergia a remédios. Como não houve reação, aplicaram a droga
no meu braço. Quando fizeram isso, eu parei. Ouvi o radiologista
que estava tratando de mim ir até o telefone, ouvi-o claramente
discar, e dizer: 'Dr. James, perdi a sua paciente, a Sra. Martin'. E eu
sabia que não estava morta. Tentei me mexer para que eles também
vissem, mas não podia. Quando estavam tentando me ressuscitar eu
podia ouvi-los dizer de quantos centímetros cúbicos era a injeção


que iam me dar, mas não sentia a picada da agulha. Não sentia nada


quando me tocavam".
Em outro caso, uma mulher que havia tido anteriormente vários
episódios de perturbação cardíaca foi acometida de um ataque do
coração durante o qual quase perdeu a vida. Ela conta:


"De repente, senti o aperto de dores me comprimindo o peito, como
se uma barra de ferro tivesse sido enrolada no meio do tórax e
apertada. Meu marido e um amigo nosso me ouviram cair e
correram para me ajudar. Eu me encontrava numa profunda
escuridão, e através dela ouvia meu marido, como se ele estivesse
muito longe dizendo: 'Chegou a hora, desta vez chegou a hora!' E
meu pensamento era 'Sim, chegou' "


Um jovem que passou pela morte depois de um acidente de
automóvel diz: "Ouvi uma mulher que estava lá perguntar: 'Ele está
morto?', e alguém responder: 'É, parece que está morto' ".
Relatos desse tipo concordam muito com o que os médicos e outros
presentes lembram. Por exemplo, um médico me disse:


"Uma paciente minha teve uma parada cardíaca diante do cirurgião
que ia operá-la. Eu também estava presente e observei suas pupilas
se dilatarem. Tenta-. mos ressuscitá-la durante algum tempo, mas
não estávamos tendo nenhum êxito, e aí pensei que ela estava
perdida. Disse ao outro médico que estava trabalhando comigo:
'Vamos tentar mais uma vez e depois desistimos'. Dessa vez
conseguimos fazer o coração bater e ela voltou a si. Mais tarde
perguntei o que ela lembrava da sua 'morte'. Ela disse que não
lembrava muito, exceto me ouvir dizer: 'Vamos tentar mais uma vez
e depois desistimos' ".



Sentimentos de paz e quietude


Muita gente descreve sentimentos e sensações extremamente
agradáveis durante os primeiros estágios de suas experiências.
Depois de um grave ferimento na cabeça, os sinais vitais de um
homem eram imperceptíveis. Assim diz ele:

"No lugar do ferimento houve um flash momentâneo de dor, mas
logo toda a dor desapareceu. Tinha a sensação de estar flutuando
em um espaço escuro. O dia estava extremamente frio; no entanto,
enquanto eu estava naquela escuridão, tudo o que sentia era calor e

o maior conforto que jamais experimentei. Lembro-me de ter
pensado: 'Devo estar morto' ".
Uma mulher que foi ressuscitada depois de um ataque cardíaco
observa:

"Comecei a experimentar as mais maravilhosas sensações. Não
sentia coisa nenhuma, exceto paz, conforto, tranqüilidade — só
quietude. Sentia que todos os meus problemas tinham desaparecido
e pensava comigo mesma: 'Que paz e quietude, e não dói nada' ".

Um outro lembra:

"Eu só tinha um sentimento bom e intenso de solidão e de paz. . .
Foi lindo, e eu estava com tamanha paz na minha mente".

Um homem que "morreu" depois de ser ferido no Vietnam diz que
quando foi atingido sentiu "uma grande sensação de alívio. Não
houve dor, e nunca me senti tão relaxado. Tudo era tranqüilidade e
era bom".


O ruído


Várias sensações auditivas pouco comuns são relatadas em muitos
casos como ocorrências na morte ou perto dela. Às vezes algumas
delas são extremamente desagradáveis. Um homem que "morreu"
durante vinte minutos no decorrer de uma operação abdominal
descreve "um zumbido muito ruim vindo de dentro da minha
cabeça. Aquilo fez sentir-me muito mal. . . Nunca vou esquecer
aquele zumbido". Outra mulher conta como ao perder a consciência
ouviu "um barulho de campainha alto. Podia ser descrito como um
zumbido. E eu estava num estado de redemoinho". Já ouvi também
esse ruído perturbador ser descrito como uma batida, um estouro,
um trovejar, bem como um som "de assobio, como o vento".
Em outros casos o efeito auditivo parece assumir uma forma mais
agradável, musical. Por exemplo, um homem que foi revivido
depois de ter sido declarado morto ao chegar ao hospital relembra o
acontecido durante a experiência de morte:

"Ouvia o que pareciam ser sons de sinos repicando ao longe, como
que trazidos pelo vento. Soavam como harpas eólias, essas sinetas
de vento japonesas. . . Esse era o único som que às vezes eu podia
ouvir".

Uma jovem que quase morreu de hemorragia interna associada com
uma desordem de coagulação diz que no momento do colapso
"comecei a ouvir uma espécie de música, majestosa, uma espécie de
música realmente linda".

O túnel escuro


Simultaneamente, muitas vezes, com a ocorrência do ruído, houve
gente que teve a sensação de estar sendo muito rapidamente


puxada através de uma espécie de espaço escuro. Muitas e
diferentes palavras são usadas para descrever esse espaço. Já ouvi
descreverem-no como caverna, poço, buraco, cercado, funil, túnel,
vácuo, vazio, bueiro, vale e cilindro. Embora as pessoas usem aqui
uma terminologia diferente, é claro que todas estão tentando
exprimir uma certa idéia. Vejamos dois relatos em que "túnel" figura
com destaque.

"Isso me aconteceu quando eu era um menino de nove anos. Já se
passaram vinte e sete anos, mas foi tão marcante que eu nunca
poderia esquecer. Uma tarde, quando eu estava muito doente, me
levaram às pressas para um hospital. Quando chegamos, decidiram
que era preciso me anestesiar, não sei bem por quê, mas tinha
relação com a minha idade. Naquele tempo usavam éter. Respirei
éter através de uma gaze que puseram no meu rosto e, me contaram
depois, meu coração parou de bater. Naquele tempo eu não sabia
que era isso o que tinha acontecido comigo, mas, de qualquer jeito,
quando aconteceu tive uma experiência. Bem, a primeira coisa que
ocorreu — vou tentar descrever do jeito que senti — foi que havia
esse ruído de campainha brrrrnnnnng-brrrrnnnnng, bem ritmado.
Aí — você vai achar estranho — eu estava me movendo através de
um lugar comprido e escuro. Parecia uma espécie de bueiro. Não dá
para descrever com exatidão. Estava me movendo, no compasso do
ruído, todo o tempo um ruído de campainha".

Outro informante declara:

"Tive uma reação muito má a uma anestesia local, e parei de
respirar. — Tive uma parada respiratória. A primeira coisa que
aconteceu — foi muito rápido — era que eu estava passando por
um vácuo negro, escuro, com uma supervelocidade. Talvez possa
ser comparado com um túnel, acho. Me sentia como se estivesse


rolando por uma montanha-russa em um parque de diversões, indo
por esse túnel com uma velocidade tremenda".

Durante uma enfermidade, um homem chegou à beira da morte,
tanto que suas pupilas se dilataram e seu corpo começou a esfriar.
Conta:

"Estava completamente escuro, um vazio negro. É difícil explicar,
mas eu me sentia como se estivesse me movendo no vácuo. Como
se estivesse em um cilindro em que não havia ar. Uma sensação de
limbo, de estar metade aqui e metade em outro lugar".

Antes da ocasião de sua experiência, que ocorreu quando ele era
criança, um informante tinha tido muito medo do escuro. No
entanto, quando seu coração parou de bater em conseqüência de
ferimentos recebidos em um acidente com uma bicicleta, ocorreu o
seguinte:

"Tinha a sensação de estar me movendo através de um vale muito
fundo e escuro. A escuridão era tão profunda e impenetrável que eu
não podia ver absolutamente nada, mas foi a experiência mais
maravilhosa e libertadora que se possa imaginar".

Em outro caso, uma informante que havia tido peritonite relembra:

"Meu médico já tinha chamado meu irmão e minha irmã para me
verem pela última vez. A enfermeira me deu uma injeção para me
ajudar a morrer mais tranqüilamente. As coisas em volta de mim no
hospital foram ficando cada vez mais longe. Quando iam se
afastando, entrei de ponta-cabeça por uma passagem muito escura e
muito estreita. Só dava para um caber ali. Comecei a ir
escorregando para o fundo, cada vez mais fundo".


Uma mulher que esteve próxima da morte em um acidente de
trânsito fez um paralelo com um show de televisão:

"Havia uma sensação da maior paz e quietude, nenhum medo, e eu
me encontrava em um túnel — um túnel de círculos concêntricos. Vi
um programa na televisão chamado O túnel do tempo, onde as
pessoas viajavam para diante e para trás através desse túnel de
espirais. Bem, isso é a coisa mais próxima do que senti que posso
imaginar".

Um homem que esteve muito próximo da morte traça um paralelo
algo diferente, paralelo oriundo dos seus antecedentes religiosos.
Diz:

"De repente eu estava num vale muito fundo e muito escuro. Era
como se houvesse uma passagem, quase uma estrada, pelo meio do
vale, e eu estivesse indo por essa passagem. . . Mais tarde, depois
que eu estava bom, me veio o pensamento: 'Bem, agora eu sei o que
significa, na Bíblia, o vale da sombra da morte, porque estive lá' ".

Fora do corpo

É um truísmo para a maioria de nós, a maior parte do tempo, a
identificação de nós mesmos com os nossos corpos físicos.
Admitimos, naturalmente, que também temos "mentes". Mas para
quase toda a gente nossas "mentes" parecem mais efêmeras do que
nossos corpos. A "mente", afinal de contas, pode não ser mais do
que o efeito da atividade eletroquímica que ocorre no cérebro, que é
parte do corpo físico. Para muita gente é uma tarefa impossível


mesmo conceber o que seria existir de outro modo diverso do corpo
físico ao qual está acostumada.
Antes de suas experiências, as pessoas que eu entrevistei não eram,
como grupo, de nenhum modo diferentes da média das pessoas em
relação a essa atitude. É por essa razão que, depois de sua rápida
passagem pelo túnel escuro, a pessoa que está morrendo tem com
freqüência uma surpresa tão grande. Pois, nesse ponto, pode se
encontrar olhando o seu próprio corpo físico de um ponto fora dele,
como se fosse um "espectador" ou "uma terceira pessoa no quarto"
ou apreciando as figuras e os eventos "encenados em um palco" ou
"no cinema". Vejamos agora trechos nos quais esses episódios
fantásticos de estar fora do corpo são descritos.

"Eu tinha dezessete anos de idade e meu irmão e eu estávamos
trabalhando em um parque de diversões. Uma tarde decidimos ir
nadar com vários outros jovens. Alguém disse: 'Vamos nadar até o
outro lado do lago'. Eu já tinha feito isso em várias outras ocasiões,
mas naquele dia, por alguma razão, fui ao fundo, quase no meio do
lago. . . Fiquei me debatendo para cima e para baixo e de repente
me senti como se estivesse fora do meu próprio corpo, longe de
todo o mundo, em um espaço só para mim. Vi meu corpo na água a
uma distância de mais ou menos um metro, vagando para cima e
para baixo. Via o meu corpo pelo lado de trás e ligeiramente à
direita. Me sentia como se eu ainda tivesse a forma de um corpo
inteiro, embora estivesse fora do meu corpo. Sentia uma sensação
aérea quase indescritível. Me sentia como uma pena."

Uma mulher relembra:

"Há cerca de um ano, fui internada no hospital com um problema
no coração, e na manhã seguinte, deitada na cama do hospital,
comecei a sentir uma dor aguda no peito. Toquei a campainha ao
lado da cama para chamar as enfermeiras, e elas vieram e


começaram a cuidar de mim. Eu estava me sentindo muito sem conforto
deitada de costas e por isso me virei de bruços, e assim que
virei parei de respirar e meu coração parou de bater. Aí ouvi as
enfermeiras gritarem 'código rosa', 'código rosa'! Enquanto elas
estavam dizendo isso, eu me senti movendo para fora do meu
corpo, escorregando por entre o colchão e a borda da cama — na
verdade parecia que eu estava escorregando através da borda —
escorregando até o chão. Depois comecei a ir para cima, bem
devagar. Enquanto ia subindo vi mais enfermeiras entrarem
correndo no quarto — devia haver uma dúzia delas. Meu médico
estava no hospital fazendo sua ronda de visitas, e elas o chamaram
e vi-o entrar também. Pensei: 'Não posso imaginar o que ele está
fazendo aqui'. Continuei flutuando para cima até passar o lustre —
via o lustre de lado e com toda a nitidez —, e aí parei, flutuando
logo sob o teto e olhando para baixo. Sentia-me como se fosse um
pedacinho de papel que alguém tivesse soprado até o teto.

"Assisti-os me ressuscitarem lá de cima! Meu corpo estava deitado
lá em baixo, esticado na cama, bem à vista, e todos eles estavam em
volta. Ouvi uma enfermeira dizer: 'Meu Deus! Ela se foi!', enquanto
outra se abaixou para me fazer ressuscitar respirando boca a boca.
Eu estava olhando para a sua nuca, enquanto ela fazia isso. Nunca
me esquecerei de como era o cabelo dela, cortado curto, meio rente.
Bem, aí vi-os rolarem para o quarto aquela máquina e colocarem
eletrodos no meu peito. Quando deram o choque, vi todo o meu
corpo pular na cama e ouvi todos os ossos do meu corpo estalarem.
Foi a coisa mais terrível!

"Enquanto eu os via bater no meu peito e esfregar meus braços e
pernas lá embaixo, pensava: 'Por que estão tendo tanto trabalho?
Estou tão bem agora!' "

Uma jovem informante declara:


"Foi há dois anos, logo que eu completei dezenove anos. Eu estava
levando de carro um amigo meu para casa e, assim que cheguei a
um determinado cruzamento na cidade, parei e olhei dos dois lados,
mas não vi nada vindo. Comecei a atravessar o cruzamento e ouvi
meu amigo gritar com toda a força. Olhei e vi uma luz ofuscante, os
faróis de um carro que vinha voando em cima de nós. Ouvi um
barulho tremendo — o lado do carro sendo amassado — e houve
um só instante em que eu parecia estar indo através de um espaço
fechado e escuro. Foi muito rápido. Em seguida, eu estava
flutuando a uns dois metros da rua, a um metro do carro, digamos,
e ouvia o eco da batida zunindo. Via gente correndo e se
aglomerando em volta do carro, e vi meu amigo sair dele
obviamente em estado de choque. Podia ver meu próprio corpo
entre os destroços rodeado de gente e podia vê-los tentando me
tirar de lá. Minhas pernas estavam todas retorcidas e havia sangue
por toda parte".

Como bem se pode imaginar, alguns pensamentos e sentimentos
sem paralelo passam pelas mentes das pessoas que se encontram
nessa situação. Muita gente acha a noção de estar fora do corpo tão
impensável que, mesmo quando a está vivenciando, sente-se
conceitualmente muito confusa a propósito do que está ocorrendo e
não liga a experiência com a morte senão depois de um tempo
considerável. Elas imaginam o que lhes estaria acontecendo; por
que podem de repente ver a si mesmas de uma certa distância,
como se fossem espectadores?
As respostas emocionais a esse estranho estado variam
amplamente. A maioria relata, a princípio, um desejo desesperado
de voltar a seus corpos, mas não tem a menor idéia de como
proceder. Outras pessoas relembram que tiveram muito medo,
quase entraram em pânico. Algumas, entretanto, relatam reações
mais positivas à sua condição, como nesta narrativa:


"Eu fiquei muito doente e o doutor me colocou no hospital. Naquela
manhã uma espécie de névoa cinzenta me envolveu e deixei meu
corpo. Enquanto me sentia sair do meu corpo, sentia uma sensação
flutuante e olhando para trás via a mim mesmo na cama abaixo, e
não havia nenhum medo. Estava tudo quieto — muito pacífico e
sereno. Eu não estava nem um pouco perturbado ou amedrontado.
Apenas um sentimento tranqüilo, e era alguma coisa da qual eu não
tinha medo. Achei que talvez estivesse morrendo, e senti que se não
voltasse ao meu corpo estaria morto, falecido".

São notavelmente diversas as atitudes que diferentes pessoas
assumem em relação aos corpos que acabaram de deixar. É comum
uma pessoa relatar sentimentos de preocupação com o seu corpo.
Uma jovem, que era estudante de enfermagem na ocasião de sua
experiência, expressa um receio compreensível:

"Isto é meio engraçado, você sabe, mas na escola de enfermagem
eles procuram inculcar na gente que se deve doar nossos corpos à
ciência. Bem, durante tudo isso, enquanto eu os via tentarem me
fazer respirar outra vez, ficava pensando: 'Não quero que eles usem

o meu corpo como um cadáver' ".
Ouvi duas outras pessoas expressarem exatamente a mesma
preocupação quando se encontraram fora de seus corpos. É
interessante saber que ambas pertenciam também à profissão
médica — um médico e uma enfermeira. Em outro caso, essa
preocupação assume a forma de um pesar. O coração de um homem
parou de bater em conseqüência de uma queda em que seu corpo
ficou bastante machucado, e ele lembra:

"A certa altura — bem, eu sei que estava deitado ali na cama, mas
podia ver a cama e o médico que me tratava. Não. podia


compreender, mas estava olhando o meu próprio corpo deitado ali
na cama. E me sentia realmente mal quando olhava meu corpo e via
quão maltratado estava".

Várias pessoas me contaram terem tido sentimentos de estranheza
em relação a seus corpos, como nesta passagem algo notável:

"Homem, eu nem sabia mesmo que tinha esta aparência! Sabe, só
estou acostumado a me ver em fotografias ou em frente ao espelho,
e nesses dois apareço semple plano. Mas de repente lá estava eu —
ou meu corpo —, e eu podia vê-lo. Podia efetivamente vê-lo, visão
completa, de cerca de dois metros. Levou alguns momentos para
que eu me reconhecesse".

Em um dos relatos esses sentimentos de estranheza assumem uma
forma bastante exagerada e humorística. Um médico conta como,
durante sua "morte" clínica, estava ao lado da cama olhando seu
próprio cadáver, que então já tinha adquirido a coloração cinzenta
dos corpos após a morte. Desesperado e confuso, estava tentando
decidir o que fazer. Decidiu que o melhor era ir embora, já que
estava se sentindo tão mal. Quando era menino, seu avô tinha lhe
contado histórias de fantasmas, e, paradoxalmente, ele disse que
não se sentia à vontade ficando em volta daquela coisa que parecia
um corpo morto — ainda que fosse ele mesmo!
Por outro lado, algumas pessoas me contaram que não tiveram
nenhum sentimento especial em relação aos seus corpos. Uma
mulher, por exemplo, teve um ataque do coração e tinha certeza de
que estava morrendo. Sentiu estar sendo puxada através da escuridão
para fora do corpo e afastar-se rapidamente. Diz:

"Não voltei a olhar o meu corpo, não. Bem, eu sabia que estava ali e
que podia vê-lo se quisesse. Mas eu não queria olhar, nem um
pouquinho, porque sabia que tinha feito o melhor que me foi


possível na vida, e estava voltando a minha atenção agora para este
outro reino de coisas. Sentia que olhar para o meu corpo era olhar
para o meu passado, e estava decidida a não fazer isso".

Da mesma forma, uma moça cuja experiência fora do corpo ocorreu
depois de um desastre, no qual sofreu vários ferimentos, diz:

"Eu podia ver o meu próprio corpo todo esbanda-lhado no carro no
meio de toda a gente que se reuniu em torno, mas, sabe, não me
despertava nenhum sentimento. Era como um ser humano
totalmente diferente, ou talvez mesmo apenas um objeto. . . Sabia
que era o meu corpo, mas não sentia absolutamente nada em
relação a ele".

Apesar do mistério do estado incorpóreo, a situação é precipitada
sobre a pessoa que está morrendo tão subitamente, que pode levar
algum tempo até que o significado do que ela está experimentando
seja compreendido. Pode acontecer que fique fora do corpo por
algum tempo, tentando desesperadamente compreender todas as
coisas que estão acontecendo e que perpassam velozmente pela
mente, antes de perceber que está morrendo, ou mesmo "morta".
Quando essa compreensão chega, pode ser acompanhada de uma
poderosa força emocional e provocar pensamentos perturbadores.
Uma mulher se lembra de ter pensado: "Ah! Estou morta! Que
beleza!"
Um homem lembra que lhe ocorreu o seguinte pensamento: "Isto
deve ser o que chamam de morte". Mesmo quando essa
compreensão chega, pode estar acompanhada de certa confusão e
mesmo de alguma recusa em aceitar o estado em que se está. Um
homem, por exemplo, lembra-se de ter refletido sobre a promessa
bíblica de "três vintenas mais dez" anos, e protestado que teve
apenas "quase que só uma vintena". Uma jovem fez um relato muito
impressionante desses sentimentos, quando me disse que:


"Achei que tinha morrido, e não fiquei triste porque estava morta,
apenas não conseguia imaginar aonde devia ir. Meus pensamentos
e minha consciência eram exatamente como são na vida, mas eu não
podia compreender bem isso. Ficava pensando: 'Para onde é que se
deve ir? O que é que devo fazer?', e 'Deus meu, estou morta! Não
posso acreditar!' Porque a gente nunca acredita, eu acho, que vai
realmente morrer. É sempre com a outra pessoa que alguma coisa
vai acontecer, e, embora a gente saiba disso, bem no fundo a gente
nunca acredita. . . Aí então decidi que ia só esperar até que
desaparecesse toda aquela excitação e tivessem levado embora meu
corpo, e tentar ver então aonde ir dali em diante".

Em um ou dois dos casos que estudei, as pessoas que estavam
morrendo, e cujas almas, mentes ou consciências (qualquer que seja

o rótulo que você use) foram liberadas de seus corpos, dizem que
depois da liberação não se sentiam de modo algum como se
tivessem uma espécie de "corpo". Sentiam-se como se fossem
consciências "puras". Um homem relata que durante sua experiência
sentiu-se como se fosse "capaz de ver tudo ao redor de mim —
inclusive meu corpo, que jazia na cama —, sem ocupar nenhum
espaço", isto é, como se ele fosse um ponto de consciência. Alguns
outros dizem que realmente não conseguem lembrar se estavam ou
não em qualquer tipo de "corpo" depois de sair do corpo físico,
porque estavam muito tomados pelos eventos ao redor deles.
A grande maioria de meus informantes, entretanto, relata que se
encontrou em outro corpo depois de liberta do físico. Aqui,
contudo, entramos em uma área que é extremamente difícil de
tratar. Esse "novo corpo" é um dos dois ou três aspectos das
experiências de morte nos quais a inadequação da linguagem apresenta
os maiores obstáculos. Quase todos os que me falaram desse
"corpo" em dado momento ficavam frustrados e diziam: "Não dá
para descrever", ou qualquer outra observação com o mesmo efeito.

Não obstante, relatos sobre esse corpo guardam uma forte
semelhança um com o outro. Assim, embora diferentes pessoas
usem diferentes palavras e façam diferentes analogias, esses vários
modos de expressão parecem recair bastante sobre a mesma área.
Os vários relatos estão também decididamente de acordo quanto às
propriedades e características gerais do novo corpo. Assim, para
adotar um termo que o designe e que reúna todas as propriedades
razoavelmente bem, vou daqui por diante chamá-lo de "corpo
espiritual".
As pessoas que estão morrendo tendem a se tornar conscientes de
seus corpos espirituais em primeiro lugar através de suas
limitações. Descobrem, quando estão fora de seus corpos físicos,
que, embora possam tentar desesperadamente contar aos outros sua
condição, ninguém parece ouvi-las. Isso pode ser ilustrado bastante
bem com o seguinte trecho da história de uma mulher que sofreu
uma parada respiratória e foi levada para a sala de emergências,
onde a tentativa de ressurreição foi feita.

"Vi que eles estavam tentando me ressuscitar. Era mesmo muito
estranho. Eu não estava muito alto, era quase como se estivesse em
um pedestal, mas não muito acima deles, só talvez vendo-os de
cima. Tentei falar mas ninguém me ouvia, ninguém queria me
ouvir." Para complicar o fato de que está aparentemente inaudível
para as pessoas em volta, a pessoa em um corpo espiritual logo
descobre também que é invisível para os outros. O pessoal médico e
outros reunidos em volta de seu corpo físico podem olhar diretamente
para onde ela está, em seu corpo espiritual, sem dar o menor
sinal de que a estão vendo. Esse corpo espiritual também carece de
solidez; os objetos físicos do ambiente parecem mover-se através
dele com toda a facilidade, e é incapaz de tocar qualquer pessoa
ou objeto que tente apanhar.


"Os médicos e enfermeiras continuavam a trabalhar com afinco
sobre o meu corpo para conseguir fazer o coração bater e eu voltar
para lá, e eu ficava tentando dizer: 'Deixem-me em paz. Tudo o que
eu quero é ficar sozinha. Parem de me massagear'. Mas eles não me
podiam ouvir. Aí tentei mover as mãos para evitar que
continuassem batendo no meu corpo, mas nada acontecia. Não
conseguia nada. Era como se acontecesse não sei bem o quê, mas eu
não podia segurar as mãos deles. Parecia que eu estava tocando as
mãos e tentava movê-las — quando ia dar um puxão, elas
continuavam onde estavam. Não sei se as minhas mãos passavam
pelas mãos deles ou o quê. Eu não sentia nenhuma pressão das
mãos deles quando tentava movê-las."

Ou:

"Chegava gente de todas as direções para olhar os destroços. Eu
podia ver e estava no meio de uma passagem estreita mesmo. De
qualquer forma, eles passavam por mim e pareciam não me notar.
Continuavam andando com o olhar em frente. Quando se
aproximavam muito eu tentava fazer a volta, sair do caminho, mas
eles apenas passavam através de mim"

Além disso, é um relato invariável o de que este corpo espiritual é
também imponderável. A maioria começa a notar isso quando,
como nos trechos acima citados, descobre que está flutuando quase
até o teto da sala, ou no ar. Muitos descrevem uma "sensação
flutuante", "não sentir mais peso", ou "uma sensação de boiar" em
relação aos seus novos corpos.
Normalmente, enquanto nos nossos corpos físicos, temos muitas
maneiras de perceber onde os nossos corpos e suas várias partes
estão localizadas no espaço em um dado momento e se estão ou não
se movendo. A visão e o sentido de equilíbrio são importantes a


esse respeito, naturalmente, mas há também um outro sentido
relevante. Cinestesia é o nosso sentido de movimento ou tensão nos
tendões, juntas e músculos. Em geral não temos consciência das
sensações que nos vêm através do sentido cinestésico porque a
nossa percepção tornou-se embotada pelo uso quase constante.
Suspeito, entretanto, que, se ela fosse interrompida de repente,
notaríamos imediatamente a sua ausência. E, de fato, diversas
pessoas comentaram comigo que estavam cônscias da falta de
sensações de peso corporal, movimento e sentido de posição enquanto
nos seus corpos espirituais.
Essas características dos corpos espirituais, que a princípio parecem
ser limitações, podem, com igual validade, ser encaradas como a
ausência de limitações. Pense nelas desta maneira: a pessoa em um
corpo espiritual está em uma posição privilegiada em relação às
outras pessoas ao seu redor. Pode vê-las e ouvi-las, mas elas não
podem vê-la nem ouvi-la. (Muito espião consideraria esta uma
situação invejável.) Da mesma forma, embora a maçaneta da porta
pareça passar através da mão quando esta a toca, isso realmente não
tem importância, uma vez que logo se descobre que se pode passar
através da porta. Viajar, uma vez que se pega o jeito, é
aparentemente muito fácil nesse estado. Os objetos físicos não
constituem barreiras, e o movimento de um lugar a outro pode ser
extremamente rápido, quase instantâneo.
Além disso, apesar de não poder ser percebido pelas pessoas em
corpos físicos, todos os que o experimentaram estão de acordo que o
corpo espiritual é, contudo, algo, por mais impossível de descrever
que seja. Há um acordo em que o corpo espiritual tem uma forma
ou contorno (algumas vezes globular ou de uma nuvem amorfa,
mas também, algumas vezes, essencialmente a mesma forma do
corpo físico) e mesmo partes (projeções ou superfícies análogas a
braços, pernas, cabeças, etc). Mesmo quando se. descreve a forma
como sendo em geral arredondada na configuração, se diz com


freqüência que tem extremidades, em definitivo um alto e um baixo,
e mesmo as "partes" já mencionadas.
Ouvi esse novo corpo ser descrito de muitas maneiras diferentes,
mas pode se ver que é mais ou menos a mesma idéia que está sendo
formulada em cada caso. Palavras e frases que têm sido usadas por
vários informantes incluem "nevoeiro", "nuvem", "fumaça", "vapor",
"neblina", "transparência", "nuvem de cores", "padrão ou feixe de
energia" e outras, para expressar significados semelhantes.
Finalmente, quase todos observam a intemporali-dade desse
estado fora do corpo. Muitos dizem que, embora tenham de
descrever o interludio que passaram no corpo espiritual em termos
temporais (uma vez que até a linguagem humana é temporal), o
tempo não foi na verdade um elemento de suas experiências como o
é na vida física. Cito aqui passagens de cinco entrevistas nas quais
alguns destes aspectos fantásticos da existência em um corpo
espiritual são relatados em primeira mão.

1. "Perdi o controle do carro em uma curva, e o carro deixou a
estrada e levantou-se no ar; lembro-me de ter visto o céu azul e vi
que o carro estava caindo numa vala. No momento em que o carro
deixou a estrada, disse a mim mesmo: 'Estou acidentado'. Neste
ponto, como que perdi o senso do tempo, e perdi minha realidade
física na medida em que isso se referia ao meu corpo — perdi
contato com o meu corpo, meu ser, meu eu no meu espírito, ou
qualquer que seja o rótulo que você lhe dê —, e podia sentir-me
como se estivesse sendo tirado de mim, saindo pela minha cabeça. E
não era nada que doesse, era só como se fosse uma espécie de
abandono, ficando ele acima de mim. . .
"Meu 'ser' dava a sensação de ter uma certa densidade, quase, mas
não uma densidade física — como se fosse, não sei bem, ondas ou
algo assim, acho; nada realmente físico, era quase como se estivesse
eletrificado, se é que você entende o que digo. Mas dava a sensação
de haver alguma coisa. . . Era pequeno, e dava a sensação de ser

meio circular, sem limites rígidos. A gente poderia comparar com
uma nuvem. . . Parecia quase como se ele estivesse nos seus
próprios limites. . .
"Quando ele saiu do meu corpo, parecia que uma grande
extremidade tinha saído primeiro, e a extremidade menor por
último. . . Dava uma sensação de muita leveza, muita. Não havia
nenhuma tensão no meu corpo (físico); as sensações eram
totalmente separadas. Meu corpo não tinha peso. . .
"O ponto mais incrível de toda a experiência foi o momento em que

o meu ser estava suspenso acima da parte da frente da minha
cabeça. Era quase como se ele estivesse tentando decidir se queria
deixá-la ou ficar. Parecia que o tempo tinha ficado parado. No
princípio e no fim do acidente tudo se passou extremamente rápido,
mas neste momento em particular, quase como no meio do acidente,
quando o meu ser estava suspenso acima de mim e o carro estava
tombando sobre a lombada, parecia que estava levando um tempão
para o carro acabar de cair, e durante esse tempo eu realmente não
estava ligando muito para o carro, para o acidente ou para o meu
próprio corpo — só com minha mente. . .
"Meu ser não tinha características físicas, mas tenho de descrevê-lo
com termos físicos. Podia descrevê-lo de tantas maneiras e com uma
porção de palavras, mas nenhuma delas estaria totalmente correta.
É tão difícil de descrever!
"Finalmente o carro tocou o solo e capotou, mas meus únicos
ferimentos foram: o pescoço torcido e um pé esfolado."
2. "Quando saí do meu corpo físico foi como se tivesse saído do meu
corpo e entrado em algo diverso.
Não achei que fosse apenas no nada. Era um outro corpo. . . mas
não um outro corpo humano comum. Era um pouquinho diferente.
Não era exatamente como um corpo humano, mas também não era
qualquer pedaço grande, globular, de matéria, não. Tinha for

ma, mas não tinha cores. E ainda sei que tinha alguma coisa que se
poderia chamar de mãos.
"Não dá para descrever. Estava mais fascinado com tudo em volta

— vendo meu próprio corpo ali e tudo —, por isso não pensei no
tipo de corpo em que estava. E tudo parecia ir tão rápido. Na
realidade o tempo não era um elemento — e no entanto era. As
coisas parecem andar mais depressa depois que você sai do seu
corpo."
3. "Lembro-me de ter sido empurrada na maca até a sala de
operação, e as horas seguintes foram o período crítico. Durante esse
tempo, eu ficava entrando e saindo do meu corpo físico, e podia vêlo
bem de cima. Mas, enquanto isso, eu ainda estava em um corpo
— não um corpo físico, mas algo que pode ser descrito melhor como
um padrão de energia. Se eu tivesse de pôr isso em palavras, diria
que era transparente, um ser espiritual por oposição ao ser material.
No entanto, definitivamente não tinha partes."
4. "Quando meu coração parou de bater. . . me senti como se fosse
uma bola redonda e quase talvez como se pudesse ser uma pequena
esfera — como uma bola de tênis — do lado de dentro dessa bola
redonda. Não consigo descrever melhor."
5. "Eu estava fora do meu corpo olhando-o de uma
distância de cerca de dois metros, mas ainda pensava, exatamente
como na vida física. E o lugar onde eu estava pensando era um
pouco mais alto do que minha altura corporal normal. Eu não
estava em um corpo como tal. Podia sentir algo, uma espécie de. . .
como uma cápsula, talvez, como um forma pura. Eu não podia vêla;
era como se fosse transparente, mas não de verdade. Era como se
eu apenas estivesse lá — uma energia, talvez apenas estivesse lá
como uma pequena bola de energia. E na verdade não tinha cons

ciência de nenhuma sensação corporal — temperatura, ou qualquer
dessas coisas."

Em seus relatos, outras pessoas mencionaram brevemente a
semelhança entre seus corpos físicos e os novos. Uma mulher me
disse que enquanto estava fora de seu corpo "ainda sentia uma
forma corporal inteira, pernas, braços, tudo — mesmo não sentindo
peso". Uma senhora que assistiu à tentativa de ressuscitá-la, de um
ponto logo abaixo do teto, diz: "Eu ainda estava em um corpo.
Estava esticada e olhando para baixo. Movi minhas pernas e notei
que uma estava mais quente que a outra".
Assim como o movimento não sofre empecilhos no estado
espiritual, isso também, muitos lembram, acontece com o
pensamento. Vezes e mais vezes ouvi contar que quando as pessoas
se acostumavam com a sua nova situação começavam a pensar mais
rapidamente do que em sua existência física. Por exemplo, um homem
me disse o que lhe aconteceu enquanto estava "morto":

"Coisas que agora não são possíveis então o eram. A mente fica tão
mais clara. É tão bom. Minha mente era capaz de assimilar tudo e
chegar a uma explicação para tudo, da primeira vez, sem ter que
pensar mais de uma vez. Depois de certo tempo tudo o que eu
estava experimentando chegou a significar algo para mim, de certa
forma".

A percepção no novo corpo tanto se assemelha à dos corpos físicos
como é diferente dela. De certa forma, a percepção espiritual é mais
limitada. Como vimos, a cinestesia como tal está ausente. Em uns
poucos casos, as pessoas relataram que não tinham a sensação de
temperatura, enquanto na maioria dos casos sensações agradáveis
de "calor" foram relatadas. Ninguém, em todos os meus casos,


relatou qualquer sensação de cheiro ou de paladar fora dos seus
corpos físicos.
De outro lado, os sentidos que correspondem aos sentidos físicos da
visão e da audição ficam definitivamente intatos no corpo espiritual,
e parecem na verdade mais intensos e mais perfeitos do que na vida
física. Um homem conta que enquanto esteve "morto" sua visão
parecia incrivelmente mais poderosa, e, em suas próprias palavras,
"não consigo bem entender como é que eu conseguia ver tão longe".
Uma mulher recorda suas experiências observando que "parecia
que esse sentido espiritual não tinha limites, e era como se eu
pudesse olhar qualquer coisa em qualquer lugar". Esse fenômeno foi
descrito de forma bastante pictórica neste trecho da entrevista com
uma mulher que esteve fora de seu corpo depois de um acidente.

"Havia muito movimento, gente correndo ao redor da ambulância.
E, sempre que eu olhava para uma pessoa e imaginava o que ela
estava pensando, era como o focalizar de uma lente zoom,
exatamente uma aproximação de zoom, e lá estava. Mas parecia
que uma parte de mim tinha ficado onde eu estava, metros longe do
meu corpo. Quando eu queria ver alguém a distância, parecia que
parte de mim, como uma espécie de radar, ia até aquela pessoa. E
me parecia, na ocasião, que eu poderia participar in loco de qualquer
coisa que acontece no mundo."

"Ouvir", no estado espiritual, pode aparentemente ser assim
chamado só por analogia, e a maioria diz que na verdade não ouvia
vozes ou sons físicos. Às vezes, pareciam apreender os pensamentos
das pessoas ao redor, e, como veremos mais adiante, esse mesmo
tipo de transferência direta do pensamento pode desempenhar um
papel importante em estágios subseqüentes da experiência da
morte. Como diz uma senhora:


"Eu podia ver todas as pessoas em volta e podia entender o que
estavam dizendo. Não que as ouvisse, auditivamente, como estou
ouvindo você. Era mais como ficar sabendo o que estavam
pensando, exatamente o que estavam pensando, mas apenas na
minha mente, e não no vocabulário real delas. Compreendia um
segundo antes de que abrissem a boca para falar"

Finalmente, na base de um único mas muito interessante relato,
parece que mesmo graves ferimentos no corpo físico de modo
algum afetam adversamente o espiritual. Neste caso, um homem
perdeu a maior parte da perna em um acidente que resultou na sua
morte clínica. Ele sabia disso, porque via o seu corpo ferido, a
distância, quando o médico estava tratando dele. Enquanto isso,
fora de seu corpo:

"Eu sentia meu corpo, e estava inteiro. Sei disso.
Sentia-me inteiro e percebia que estava com todas as partes ali,
embora não estivesse".


Neste estado fora do corpo, pois, a pessoa fica separada dos outros.
Pode ver as outras pessoas e compreender seus pensamentos
completamente, mas não pode ser vista nem ouvida por elas. A
comunicação com os outros seres humanos fica efetivamente interrompida,
mesmo ao sentido do tato, uma vez que o corpo
espiritual carece de solidez. Por isso, não é de surpreender que,
depois de certo tempo nesse estado, apareçam profundos
sentimentos de isolamento e solidão. Como disse um homem, ele
podia ver tudo no hospital à sua volta — todos os médicos, enfermeiras
e demais pessoas indo e vindo na realização de suas tarefas.
No entanto, não se podia comunicar com ninguém de modo algum,
e, por isso, "estava desesperadamente só".


Muitos outros me descreveram esse intenso sentimento de solidão
que os acometia nesse ponto.

"Minha experiência, tudo aquilo por que passei, foi tão fascinante,
mas é mesmo indescritível. Desejava que os outros estivessem ali
comigo para ver também, e tinha a sensação de que eu nunca seria
capaz de descrever para ninguém o que estava vendo. Tinha também
a sensação de estar solitário porque queria que alguém mais
experimentasse o que acontecia, junto comigo. Mas também sabia
que ninguém poderia estar lá. Sentia na ocasião que eu estava em
um mundo privado. Aí senti mesmo uma onda de depressão."

Ou:

"Eu era incapaz de tocar qualquer coisa, incapaz de comunicar-me
com qualquer das pessoas em volta. Era uma sensação terrível, um
sentimento de isolamento completo. Sabia que estava
completamente só, só comigo mesmo".

Ou ainda:

"Eu estava completamente espantado. Não podia acreditar no que
estava acontecendo. Não é que estivesse preocupado ou pensando
em coisas como: 'Oh, não! Estou morto e meus pais ficaram; eles
estão tristes e nunca mais vou vê-los outra vez'. Nada como isso
jamais passou pela minha cabeça.
"Sabia todo o tempo que estava só, muito só — quase como se eu
fosse um visitante de algum outro lugar. Foi como se todas as
relações tivessem sido cortadas. Era como se não houvesse amor ou
coisa alguma. Tudo era tão. . . técnico. Não entendo, realmente."


Os sentimentos de solidão das pessoas que estão morrendo logo
desaparecem, no entanto, à medida que se aprofundam na
experiência de quase morte. Pois, em algum momento, outros lhes
vêm dar ajuda na transição por que estão passando. Assumem a forma
de outros espíritos, freqüentemente os dos parentes ou amigos
falecidos que a pessoa em questão conheceu enquanto estava viva.
Em um grande número de casos, entre aqueles que entrevistei, um
ser espiritual de um caráter muito diverso aparece. Nos próximos
parágrafos vamos examinar esses encontros.

Encontrando outros

Muitos me contaram que em certo ponto, enquanto estavam
morrendo — algumas vezes bem cedo na experiência, outras só
depois da ocorrência de outros eventos —, tornaram-se cônscios da
presença de outros geres espirituais na sua vizinhança, seres que
aparentemente lá estavam para ajudá-los na transição para a morte,
ou, em dois casos, para dizer que sua hora ainda não tinha chegado
e que deviam voltar a seus corpos físicos.

"Passei por essa experiência quando estava dando à luz uma
criança. O parto foi muito difícil e perdi uma porção de sangue. O
médico deu-me por perdida e disse a meus parentes que eu estava
morrendo. No entanto, eu estava bem alerta o tempo todo, e mesmo
quando estava ouvindo ele dizer tudo isso senti que estava
voltando. Nesse momento percebi toda aquela gente que estava lá,
parecia quase uma multidão parada em volta do teto do quarto.
Eram, todas, pessoas que eu tinha conhecido na minha vida
passada, e que já tinham morrido. Percebi minha avó e uma menina
que conheci na escola, e muitos parentes e amigos. Parecia-me ver


especialmente suas faces e sentir sua presença. Todos pareciam
felizes. Era uma ocasião muito feliz, e senti que tinham vindo me
proteger e me guiar. Era como se eu estivesse voltando para casa e
eles estivessem lá para me saudar ou receber com boas-vindas.
Nessa ocasião tive a sensação de que tudo era luz e beleza. Foi um
momento lindo e glorioso."

Um homem relembra:
"Várias semanas antes de eu ter quase morrido, um bom amigo
meu, Robert, tinha sido morto. Bem, no momento em que saí do
meu corpo tive a sensação de que Robert estava ali, bem junto de
mim. Podia vê-lo na minha mente e sentir que ele estava ali, mas era
estranho. Não via seu corpo físico. Podia ver coisas, mas não na
forma física, no entanto tão claramente como se fosse na forma
física: sua expressão, tudo. Isso faz sentido? Ele estava ali, mas não
tinha um corpo físico. Era uma espécie de corpo claro, e eu podia
sentir cada parte dele — braços, pernas e tudo —, mas não estava
vendo fisicamente. Não pensei que isso era estranho no momento
porque não tinha mesmo precisão de vê-lo com meus olhos. De
qualquer modo, eu não tinha olhos.
"Eu ficava perguntando: 'Bob, para onde eu vou agora? Que
aconteceu? Estou morto ou não?' E ele nunca respondeu, nunca
disse uma palavra. Mas, muitas vezes, enquanto eu estava no
hospital, lá estava ele, e eu perguntava outra vez: 'O que está
acontecendo?', mas sempre sem resposta. Depois veio o dia em que
os médicos disseram: 'Ele vai viver', e Bob desapareceu. Não o vi
mais nem senti sua presença. Era como se ele estivesse esperando
até que eu ultrapassasse a fronteira final para daí me dizer, me dar
os detalhes do que estava acontecendo."

Em outros casos, os espíritos que as pessoas encontram não são
gente que tenham conhecido durante a vida física. Uma mulher


disse que viu durante a sua estada fora do corpo não apenas seu
próprio corpo espiritual transparente, como também um outro, de
outra pessoa que havia morrido recentemente. Ela não sabia quem
era essa outra pessoa, mas fez esta observação interessante: "Eu não
via essa pessoa, esse espírito, como se tivesse qualquer idade
determinada, de jeito nenhum. Eu não tinha mesmo nenhuma sensação
de tempo".
Em uns poucos casos, as pessoas vieram a acreditar que os seres que
encontraram eram seus "espíritos guardiães". Um homem ouviu de
um tal espírito: "Ajudei você através deste estágio da sua existência,
mas agora devo entregá-lo a outros". Uma mulher me disse que
quando estava deixando seu corpo detectou a presença de dois
outros seres espirituais, e eles se identificaram como "ajudantes
espirituais" dela.
Em dois casos muito semelhantes, pessoas me contaram que
ouviram uma voz que lhes disse que elas ainda não estavam mortas
e que deviam voltar. Como uma delas narra:

"Ouvi uma voz, não uma voz de homem, mas como se viesse de
além dos sentidos físicos, me dizendo o que devia fazer — voltar —,
e não senti nenhum medo ao voltar para o meu corpo físico".

Finalmente, os seres espirituais podem tomar uma forma algo mais
amorfa.

"Enquanto eu estava morto, naquele vácuo, falava com pessoas —
não posso dizer, porém, que estivesse falando com gente corporal.
No entanto, tinha a sensação de que havia gente em volta de mim;
eu podia sentir sua presença, e podia sentir que estavam se movendo,
embora não pudesse ver ninguém. Em um ou outro
momento me encontrava falando com uma delas, mas não podia vêlas.
E, sempre que tentava imaginar o que estava acontecendo,
vinha o pensamento de uma delas, de que tudo estava bem, que eu


estava morrendo mas iria ficar bom. Por isso, minha condição nunca
me preocupou. Vinha sempre uma resposta delas para cada
pergunta que eu. formulava. Não deixavam que minha mente
ficasse vazia."

O ser de luz

O que é talvez o mais incrível elemento comum dos relatos que
estudei, e é certamente o elemento que tem o mais profundo efeito
sobre o indivíduo, é o encontro com uma luz muito brilhante.
Tipicamente, em sua primeira aparição, a luz é tênue, mas
rapidamente fica cada vez mais brilhante, até que alcança um brilho
extraterreno. Contudo, ainda que essa luz (dita branca ou "clara")
seja de um brilho indescritível, muitos fizeram questão de
acrescentar que de modo algum dói nos olhos ou ofusca, nem
impede de ver outras coisas ao redor (talvez porque a essa altura
não tenham "olhos" físicos para ser ofuscados).
Apesar da manifestação inusitada da luz, ninguém expressou
qualquer dúvida de que se tratasse de um ser, um ser de luz. Não
apenas isso, é um ser pessoal. Tem uma personalidade bem
estabelecida. O amor e calor que emanam desse ser para as pessoas
que estão morrendo estão completamente além das palavras, e elas
se sentem completamente rodeadas por eles, completamente à
vontade e aceitas na presença desse ser. Sentem uma atração
magnética irresistível para essa luz. Uma atração inelutável.
É interessante que, enquanto a descrição acima, do ser de luz, é
totalmente invariável, a identificação do ser varia de indivíduo a
indivíduo e parece estar muito em função dos antecedentes
religiosos, da educação ou das crenças da pessoa em questão.
Assim, a maioria dos que foram educados como cristãos, ou que


têm essa crença, identificam a luz com Cristo, e algumas vezes
traçam paralelos bíblicos em defesa de sua interpretação. Um
homem e uma mulher judeus identificaram a luz com um "anjo".
Estava claro, entretanto, em ambos os casos, que as pessoas não
queriam com isso significar que o ser tivesse asas, tocasse uma
harpa, ou mesmo que tivesse aparência ou forma humana. Havia
apenas a luz. O que cada qual estava tentando comunicar era que
tomavam o ser como um emissário, ou um guia. Um homem que
não tinha qualquer crença ou educação religiosa anterior à experiência
simplesmente classificou o que viu como "um ser de luz". O
mesmo rótulo foi usado por uma senhora de fé cristã, que
aparentemente não sentia nenhuma compulsão em chamar a luz de
"Cristo".
Pouco depois da sua aparição, o ser começa a se comunicar com a
pessoa que está morrendo. Notadamente, essa comunicação é da
mesma espécie direta que já encontramos em descrições anteriores,
de como a pessoa no corpo espiritual pode "apreender os pensamentos"
daqueles que estão em volta. Pois, aqui também, as
pessoas declaram que não ouviram nenhum som ou voz física
vindos do ser, nem responderam a ele usando sons audíveis. Em
vez disso, relatam que ocorre uma transferência direta e
desimpedida de pensamentos, e de modo tão claro que não há
qualquer possibilidade quer de desentendimento, quer de mentir
para a luz.
Além disso, essa troca desimpedida nem mesmo ocorre na
linguagem nativa da pessoa. No entanto, ela a entende
perfeitamente e fica cônscia instantâneamente. Não pode nem
mesmo traduzir os pensamentos e intercâmbios que tiveram lugar
enquanto estava próxima da morte na linguagem humana que
precisa falar agora, depois de sua ressurreição.

O passo seguinte da experiência ilustra claramente a dificuldade em
traduzir essa linguagem não-falada. O ser quase imediatamente
dirige um certo pensamento à pessoa a cuja presença chegou tão


dramaticamente. Em geral as pessoas com quem conversei tentaram
formular o pensamento como se fosse uma pergunta. Entre as
traduções que ouvi, estão: "Você está preparado para morrer?",
"Você está pronto para morrer?", "O que é que você fez de sua vida
que possa mostrar?" e "O, que você fez com a sua vida já é suficiente?"
As duas primeiras fórmulas, que acentuam "preparação",
podem de início parecer ter um sentido diferente das outras duas,
que acentuam "realizações". No entanto, alguma base para a minha
suposição de que todos estão tentando expressar o mesmo
pensamento vem da narrativa de uma mulher que colocou a
questão assim:

"A primeira coisa que ele me disse, que ele como que perguntou, foi
se eu estava pronta para morrer, ou que é que eu tinha feito com
minha vida que desejaria lhe mostrar".

Além disso, mesmo no caso mais comum em que a "questão" é
fraseada, parece, depois de algum esclarecimento, que leva a mesma
força. Por exemplo, um homem contou-me que, durante a sua
"morte",

"A voz me fez uma pergunta: 'Vale a pena?' E o que ela queria dizer
era se tinha valido a pena levar a vida que eu estava levando até
aquele ponto, saben-do o que eu agora sabia".

Incidentalmente, devo insistir em que a questão, a pergunta,
profunda e final como parece ser no seu impacto emocional, não é
feita como uma condenação. O ser, todos parecem concordar, não
faz a pergunta para acusar ou para ameaçar, pois sentem todos o
total amor e aceitação vindos da luz, qualquer que seja a resposta.
No entanto, o ponto da questão parece ser o de fazê-los pensar
sobre suas vidas, refletir. É, se quiserem, uma pergunta socrática,


feita não para obter informação, mas para ajudar a pessoa que está
sendo inquirida a prosseguir por si própria no caminho da verdade.
Vejamos alguns relatos de primeira mão sobre esse ser fantástico.

1. "Ouvi os médicos dizerem que eu estava morto, e foi aí que me
senti como se estivesse vagando, mais como se estivesse flutuando
por essa escuridão, que era uma espécie de lugar fechado. Não há
na verdade palavras que descrevam isso. Tudo era bem negro,
exceto que, bem longe de mim, eu podia ver essa luz. Era uma luz
bem, bem brilhante, mas no início não muito grande. Foi crescendo
à medida que eu ia chegando mais perto.
"Eu estava tentando chegar até aquela luz no fundo porque achava
que era Cristo, e estava tentando alcançar aquele ponto. Não foi
uma experiência assustadora. Foi mais como uma coisa agradável.
Pois, sendo cristão, imediatamente liguei a luz com Cristo, que
disse: 'Eu sou a luz do mundo'. E eu disse a mim mesmo: 'Se chegou
a hora, se vou morrer, então já sei quem é que espera por mim lá nó
fundo, lá naquela luz'."
2. "Eu me levantei e fui até o vestíbulo beber água, e foi então, como
eles descobriram mais tarde, que meu apêndice supurou. Fiquei
muito fraco e caí.
Comecei a me sentir como que vagando, um movimento do meu ser
real para dentro e para fora do meu corpo, e a ouvir uma linda
música. Flutuei pelo hall e para fora da porta até a varanda. Lá
começou a se juntar uma névoa cor-de-rosa, parecia quase como
uma nuvem, em volta de mim, e aí flutuei através da cerca como se
ela não existisse e fui subindo até essa luz pura e clara como cristal,
uma luz branca que iluminava. Era linda e brilhante, tão radiante,
mas não ofuscava meus olhos. Não é uma espécie de luz que se
possa descrever na terra. Não cheguei propriamente a ver ninguém

nessa luz, e, no entanto, ela possuía certa identidade, mesmo. É uma


luz de perfeito amor e perfeita compreensão.
"Me veio à mente o pensamento: 'Vós me amais?' Não era bem na
forma de uma pergunta, mas acho que a conotação do que a luz
disse era: 'Se você me ama, volte e complete o que começou na vida'.
E durante todo esse tempo eu me sentia como se estivesse rodeado
de uma plenitude de amor e compaixão."


3. "Eu sabia que estava morrendo e que não havia nada que pudesse
fazer, porque ninguém me ouvia. . . Eu estava fora do meu corpo,
não há dúvida sobre isso, porque podia ver o meu corpo lá na mesa
de operação. Minha alma estava fora! Tudo isso me fez sentir muito
mal no início, mas depois veio aquela luz bem brilhante. Parecia
inicialmente um tanto frouxa; depois, era um feixe enorme. Era só
uma quantidade enorme de luz, não tinha nada de
parecido com o facho de luz de uma lanterna, era só luz, luz demais.
E me dava calor; eu sentia uma sensação de quentura.
"Era uma luz brilhante, branco-amarelada, mais para o branco.
Tinha um brilho imenso; mas não dá para descrevê-la. Parecia que
ela cobria tudo, embora não me impedisse de ver ao redor de mim
— a sala de operação, os médicos e enfermeiras, tudo. Dava para
ver claramente e a luz não ofuscava.
"No começo, quando veio a luz, eu não sabia bem o que estava
acontecendo, mas aí ela perguntou — me perguntou assim — se eu
estava pronto para morrer. Estava falando como se fosse uma
pessoa, mas não havia pessoa alguma. Era a luz que estava falando,
mas só uma voz.
"Agora, acho que a voz que estava falando comigo sabia mesmo que
eu não ia morrer. Sabe, ela estava mais me testando do que
qualquer outra coisa. Mas, no momento em que a luz falou comigo,
me senti realmente bem — segura e amada. O amor que vinha dela

é inimaginável, indescritível. Era uma pessoa agradável para ter
junto da gente! E tinha também senso de humor, se tinha!"

A recapitulação

A aparição inicial do ser de luz e suas perguntas não-verbais e de
sondagem são o prelúdio de um momento de intensidade
surpreendente, durante o qual o ser apresenta à pessoa uma
recapitulação panorâmica de sua vida. É muitas vezes óbvio que o
ser pode ver toda a vida do indivíduo e que ele próprio não
necessita dessa informação. Sua única intenção é provocar a reflexão.
A recapitulação só pode ser descrita em termos de memória, uma
vez que este é o fenômeno familiar mais próximo dela, mas aqui
também existem características que a colocam longe de qualquer
tipo normal de lembrança. Em primeiro lugar, é
extraordinariamente rápida. As memorizações, quando são
descritas em termos temporais, seguem-se rapidamente umas às outras,
como se em ordem cronológica. Outras não têm relação
nenhuma com uma ordem temporal. A lembrança era instantânea;
tudo aparecia de uma vez, e todas as coisas podiam ser abrangidas
só com um relance mental. Como quer que seja expressa, todos parecem
concordar em que a experiência se passa em um só instante
do tempo terreno.
Mas, a despeito de sua rapidez, meus informantes concordam em
que a recapitulação, quase sempre descrita como uma exibição de
imagens visuais, é incrivelmente vívida e real. Em alguns casos,
conta-se que as imagens são vistas em cores vibrantes, tridimensionais
e até em movimento. E, mesmo que estejam perpassando
rapidamente, cada imagem é percebida e reconhecida. Até mesmo


as emoções e sentimentos associados com as imagens podem ser
novamente experimentados.
Alguns dos que entrevistei declaram que, embora não o possam
explicar adequadamente, tudo o que fizeram lá estava, nessa
recapitulação — do mais insignificante ao mais significativo. Outros
explicam que o que viram foi, essencialmente, os pontos principais
de suas vidas. Alguns declaram que, mesmo depois de um período
de tempo posterior a suas experiências de recapitulação, ainda
podem se lembrar de eventos de suas vidas com pormenores
incríveis.

Algumas pessoas caracterizam isso como um esforço educacional
por parte do ser de luz. Quando estão testemunhando a exibição, o
ser parece acentuar a importância de duas coisas na vida: aprender
a amar outras pessoas e adquirir conhecimento. Vejamos um
exemplo representativo de um relato desse tipo.

"Quando a luz apareceu, a primeira coisa que me disse foi: 'Do que
você fez na sua vida, o que é que tem para me mostrar?', ou algo
com esse sentido. E foi aí que começaram os flashbacks. Pensei: 'Ei,

o que é que há?', porque, de repente, eu estava de volta à minha
infância. E daí por diante era como se estivesse caminhando desde o
começo mesmo da minha vida, ano por ano da minha vida, até o
momento presente.
"Foi muito estranho quando começou, quando eu era uma
menininha brincando nas margens do riacho do bairro, e havia
outras cenas mais ou menos daquele tempo — experiências que tive
com minha irmã, coisas com as pessoas da vizinhança, e lugares
reais onde estive. E aí eu estava no pré-primário, e lembrei o tempo
em que tinha um brinquedo de que gostava muito, que o quebrei e
chorei por ele por um tempo. Foi mesmo uma experiência
traumática. As imagens continuaram através da minha vida.
Lembrei-me de quando ia acampar e de muitas outras coisas da

escola primária. Ora, quando eu estava no ginásio foi uma grande
honra ganhar uma medalha de boa aplicação, e depois, fui
representante de classe. E assim foi indo, depois o colégio, o
vestibular, e continuou pelos primeiros anos de faculdade, até o
momento que eu estava vivendo então.
"As coisas recapituladas vieram na ordem em que aconteceram na
minha vida, e eram tão vívidas! As cenas eram bem como se você
ficasse de lado e as olhasse, completamente tridimensionais, e em
cor. E tinham movimento. Era como se eu as estivesse olhando da
perspectiva do tempo. Era como se a menininha que eu via fosse
outra pessoa, como no cinema, uma menininha entre outras crianças
brincando ali no parque. Mas era eu. Via-me fazendo coisas, como
criança, e eram exatamente as mesmas que eu tinha feito, porque
me lembrava delas.
"Bem, enquanto eu estava passando por todos esses flashbacks não
estava vendo a luz. Ela desapareceu assim que me perguntou o que
é que eu tinha feito e que os flashbacks começaram; no entanto eu
sabia que estava lá comigo o tempo todo, e que me conduzia através
da recapitulação, porque eu sentia sua presença e ela fazia certos
comentários aqui e ali. Estava tentando mostrar-me alguma coisa
em cada uma dessas lembranças. Não era como se ela estivesse
tentando ver o que eu tinha feito — ela já sabia —, mas estava
escolhendo aquelas lembranças em especial de toda a minha vida
para que eu pudesse recordá-las.
"Durante tudo isso ela ficava insistindo sobre a importância do
amor. As ocasiões em que mostrou isso melhor tinham que ver com
minha irmã: eu sempre fui muito sua amiga. Ela me mostrou alguns
exemplos nos quais tinha sido egoísta com minha irmã, mas
também tantas outras vezes em que mostrei amor de fato e partilhei
com ela. Indicou-me que eu devia tentar mesmo fazer coisas para os
outros, tentar fazer o melhor. Não havia nenhuma acusação em
nada disso. Quando ela passava por ocasiões em que eu tinha sido


egoísta, sua atitude era a de que eu também estava aprendendo com
elas.
"Ela parecia também muito interessada nas coisas relacionadas com

o saber. Indicava muitas coisas que tinham relação com aprender e
disse mesmo que eu estava voltando para continuar a estudar, e
disse que, mesmo quando nos encontrássemos de novo (porque a
essa altura já tinha dito que eu ia voltar), haveria sempre a procura
do conhecimento. Disse que era um processo contínuo, por isso
acho que continua mesmo depois da morte. Acho que ela estava
tentando me ensinar, enquanto a gente perpassava, recapitulava a
minha vida.
"Bem, toda experiência foi muito estranha. Eu estava lá; estava
realmente vendo a recapitulação; estava na verdade caminhando no
meio dela; tudo era muito rápido, mas suficientemente lento para
que pudesse assimilar tudo. Ainda assim, acho que a duração temporal
daquilo não foi grande, eu creio. Parece que veio a luz, e aí
passei pelas recapitulações, e a luz sumiu. Parece que foi em menos
de cinco minutos, e provavelmente em mais de trinta segundos, mas
não posso dizer o tempo exato.
"A única vez que tive medo foi quando estava preocupada com não
poder terminar minha vida aqui. Mas gostei de passar pela
recapitulação. Foi agradável. Gostei de voltar à infância, quase
revivendo-a. Foi um modo de voltar e ver o que comumente não
acontece."
Deve ser dito também que existem relatos em que a experiência da
recapitulação ocorre, ainda que não na presença do ser de luz. Em
regra, a experiência em que o ser de luz aparece e aparentemente
"dirige" é uma experiência mais completa. Não obstante, é comumente
caracterizada como vívida, rápida e muito acurada, quer
apareça ou não o ser de luz, quer ocorra durante uma "morte" real
ou só durante o roçar com a morte.


"Depois de todo aquele barulho e de passar por aquele lugar
comprido e escuro, todos os meus pensamentos infantis, minha vida
inteira lá estava no fim do túnel, iluminada diante de mim. Estava
ali toda de uma vez. Quer dizer, não uma coisa de cada vez, mas
tudo ao mesmo tempo. Pensei na minha mãe e nas coisas que eu
tinha feito de errado. Depois pude ver as coisas mesquinhas que fiz
quando criança, e pensei em minha mãe e em meu pai, desejando
não ter feito aquelas coisas, desejando poder voltar e des-fazê-las."

Nos dois exemplos seguintes, embora não tenha ocorrido morte
clínica na ocasião da experiência, havia a ocorrência de stress ou
injúria fisiológica.

"Toda a situação se desenrolou muito depressa. Eu tinha uma
febrezinha e há duas semanas não estava me sentindo bem, mas
naquela noite fiquei rapidamente muito mal, e me sentia ainda pior.
Estava deitado na cama e me lembro de tentar segurar minha
mulher e dizer que eu estava muito doente, mas descobri que não
podia me mexer. Começou muitos anos atrás, quando eu tinha seis
ou sete anos de idade, e me lembrei de um amigo que eu tinha na
escola primária. Passei da escola primária para a secundária e daí
para o colégio e depois para a faculdade de odontologia, e depois à
clínica onde eu praticava odontologia.
"Sabia que estava morrendo, e me lembro de pensar que não queria
que a família ficasse desamparada. Entristeci ao pensar que estava
morrendo e que, no entanto, havia certas coisas em minha vida que
lamentava ter feito, e outras que lamentava não ter terminado.
"Esse flashback foi na forma de imagens mentais, mas muito mais
vívidas que as normais. Via só as principais, mas tudo era tão
rápido como olhar todo o álbum das imagens da minha vida e ser
capaz de conseguir fazer isso em segundos. Passava diante de mim
como uma fita de cinema numa velocidade tremenda, e no entanto


eu era capaz de ver e compreender absolutamente tudo. Apesar
disso, as emoções originais não voltavam com as imagens, porque
não havia tempo suficiente.
"Não vi nada além disso durante a experiência. Só havia escuridão,
exceto pelas imagens que vi. No entanto, eu definitivamente sentia a
presença de um ser muito poderoso, completamente amoroso, ali
comigo durante toda aquela experiência.
"É mesmo muito interessante. Quando me recuperei, podia dizer a
qualquer um coisas sobre todas as partes da minha vida, com
muitos detalhes, por causa do que eu tinha passado. Foi uma
experiência e tanto, mas é difícil pôr em palavras, porque aconteceu
tão rápido, porém tão nitidamente."

Um jovem veterano de guerra descreve sua recapitulação:

"Quando eu estava servindo no Vietnam, recebi vários ferimentos e
depois 'morri' em conseqüência deles. No entanto, o tempo todo eu
sabia exatamente o que estava acontecendo. Fui atingido por seis
tiros de uma rajada de metralhadora, e enquanto isso acontecia eu
não estava de modo algum contrariado. Em minha mente, eu me
sentia até aliviado quando fui ferido. Sentia-me completamente à
vontade e não estava com medo.
"No momento do impacto, minha vida começou a virar uma série
de fotografias diante de mim, e parecia que eu podia voltar ao
tempo em que ainda era bebê, e o filme parecia progredir através de
toda a minha vida.
"Podia me lembrar de tudo; tudo era tão nítido! Era tudo tão claro
ali diante de mim! Passaram bem ali defronte de mim, desde as
primeiras coisas de que me lembro até o presente, e tudo aconteceu
dentro de um breve momento. E não foi nada de mau, absolutamente:
passei por aquilo sem arrependimentos, sem sentimentos de
estima diminuída por mim mesmo.


"A melhor coisa em que posso pensar, para comparar, é uma série
de slides. Era como se alguém estivesse trocando os slides diante
de mim, muito rapidamente."

Finalmente, aqui há um caso de extrema urgência emocional, no
qual a morte é iminente, embora não tenham ocorrido ferimentos
reais.

"No verão, depois do meu primeiro ano de faculdade, arranjei um
emprego de chofer de uma grande jamanta de frete. Tive
dificuldades naquele verão para não dormir na direção. Uma
manhã, bem cedinho, eu ia com o caminhão em uma longa viagem e
estava cochilando. A última coisa que me lembro de ter visto foi
uma placa de sinalização, e aí cochilei, e a próxima coisa de que
tomei conhecimento foi um horrível barulho de raspar, pois o pneu
direito exterior estourou e, por causa do peso e oscilação do
caminhão, os pneus esquerdos também estouraram; o caminhão
capotou de lado e foi deslizando estrada abaixo na direção de uma
ponte. Fiquei aterrorizado porque sabia o que estava acontecendo,
sabia que o caminhão iria bater na ponte.
"Bem, durante o período de tempo em que o caminhão estava
derrapando, só pensei nas coisas todas que eu tinha feito. Só vi
certas coisas, as principais, e era mesmo como se aquilo fosse real. A
primeira coisa que lembrei foi de acompanhar meu pai quando ele
andava pela praia; era quando eu tinha dois anos de idade. E havia,
em ordem, umas outras poucas coisas dos meus primeiros anos, e
depois disso me lembrei de ter quebrado um carrinho vermelho que
tinha ganho no Natal quando fiz cinco anos. Lembrei-me de chorar
quando fui para o primeiro ano da escola, usando uma capa
impermeável amarela, muito vistosa, que minha mãe tinha
comprado. Lembrei alguma coisinha de cada um dos meus anos de
grupo escolar. Lembrei-me de cada uma das minhas professoras, e


alguma coisinha se destacou a propósito de cada série. Aí entrei no
ginásio, comecei a entregar jornais e fui trabalhar em um armazém,
sendo depois trazido para a atualidade, até o momento
imediatamente anterior ao meu segundo ano de faculdade.
"Todas essas coisas e muitas outras passaram num relâmpago pela
minha mente; foi mesmo instantâneo. Provavelmente não durou
mais que uma fração de segundo. E aí foi como se tudo já se tivesse
acabado, e lá estava eu olhando a jamanta, pensando que estava
morto; pensei que fosse um anjo. Comecei a me beliscar para ver se
estava vivo, se era um fantasma ou o quê.
"O caminhão estava completamente em frangalhos, mas não sofri
nem um arranhão. De algum modo, devo ter sido atirado para fora
pelo pára-brisa, pois todos os vidros estavam despedaçados. Depois
que as coisas acalmaram, pensei em como era estranho que todas
aquelas coisas acontecidas em minha vida tivessem deixado dentro
de mim uma impressão duradoura, tivessem passado pela minha
mente em um momento de crise. Agora provavelmente daria para
pensar em todas essas coisas e me lembrar de cada uma e descrevêla,
mas não poderia levar menos de quinze minutos. Mas tudo isso
veio de uma vez, automaticamente, em menos de um segundo. Foi
incrível."

A barreira ou limite

Em uns poucos exemplos, foi-me descrito como, durante suas
experiências de quase morte, as pessoas pareciam estar se
aproximando do que pode ser chamado barreira, fronteira ou uma
espécie de limite. Assumiu a forma, em vários relatos, de uma
extensão de água, uma névoa cinza, uma porta, uma cerca em volta
de um campo, ou, simplesmente, uma linha. É possível indagar,


ainda que a pergunta seja altamente especulativa, se pode ter
havido uma idéia básica ou uma experiência comum na raiz dessas
descrições. Se isso for verdade, nesse caso as diferentes versões
representam apenas maneiras individuais diferentes de lembrar, interpretar
e pôr em palavras a experiência fundamental. Vejamos
alguns relatos nos quais a idéia de barreira ou limite desempenha
um papel proeminente.

1. " 'Morri' de uma parada cardíaca, e, quando morria, me encontrei
de repente em uma campina ondulante. Era muito bonita, e tudo
era de um verde forte — cor que não se parecia com nada da Terra.
Havia luz — uma linda e inspiradora luz — por todos os lados em
volta de mim. Olhei à minha frente, até o outro lado do campo, e vi
uma cerca. Comecei a me movimentar em direção à cerca, e vi um
homem do outro lado da cerca, aproximando-se como se fosse para
vir me encontrar. Eu queria alcançá-lo, mas me sentia puxado para
trás, irresistivelmente. À medida que me sentia puxado para trás,
via que ele também recuava na direção oposta, afastando-se da
cerca."
2. "Esta experiência ocorreu durante o parto do meu primeiro filho.
Lá pelo oitavo mês de gravidez começou a aparecer o que o médico
diagnosticou como uma condição tóxica, e ele me aconselhou a me
internar no hospital, onde poderia fazer um parto prematuro. Foi
imediatamente depois do parto que tive uma forte hemorragia, e o
médico teve muita dificuldade em detê-la. Eu sabia o que estava
acontecendo, pois, tendo sido enfermeira, compreendia o perigo.
Nesse momento, perdi a consciência, e ouvi um zumbido
desagradável, um som ressoante. Quando dei por mim outra vez
parecia que eu estava em um navio ou em um pequeno barco
navegando para o outro lado de uma grande extensão de água. Na
margem distante eu via todos os meus entes queridos que já tinham

morrido — minha mãe, meu pai, minha irmã e os outros. Podia vêlos,
podia ver os seus rostos, assim como eram quando os conheci
na Terra. Pareciam estar me chamando para ir até lá, e o tempo todo
eu estava dizendo: 'Não, não, ainda não estou pronta para me
reunir a vocês. Não quero morrer. Não estou pronta para ir'.
"Bem, foi a mais estranha das experiências, porque todo esse tempo
eu podia ver também os médicos e as enfermeiras trabalhando no
meu corpo, mas era como se eu fosse espectadora, e não aquela
pessoa — aquele corpo — na qual eles estavam trabalhando. Eu
estava tentando com todas as minhas forças comunicar ao meu
médico: 'Eu não vou morrer', mas ninguém podia me ouvir. Tudo
— os médicos, as enfermeiras a sala de parto, o barco, a água, e a
margem distante — era uma espécie de conglomerado só.
Misturava tudo, como se uma cena estivesse superposta à outra.
"Finalmente quando o barco estava alcançando a margem distante,
um pouco antes de chegar, fez meia-volta e começou a retornar. Eu
estava tentando com todas as minhas forças comunicar ao meu
médico: 'Eu não vou morrer', mas ninguém podia me ouvir. Acho
que foi nesse momento que eu voltei a mim, e o doutor explicou o
que tinha acontecido, que eu tinha tido uma hemorragia post
partum e que eles quase me tinham dado por perdida, mas que eu
ia ficar boa."

3. "Eu estava hospitalizado com um grave problema de rins, e
fiquei em estado de coma por quase uma semana. Os médicos não
tinham nenhuma certeza de que eu fosse viver. Durante o período
em que estive inconsciente senti-me como se tivesse passado para
um plano superior, exatamente como se não tivesse mais um corpo
físico. Uma luz brilhante me apareceu. Era uma luz tão brilhante
que eu não podia ver através dela, mas estar na sua presença tinha
um efeito calmante e maravilhoso. Não há mesmo nenhuma experiência
igual na Terra. Na presença da luz, estes pensamentos ou
palavras me vieram à mente: 'Você quer morrer?' E eu respondi que

não sabia, pois não sabia de nada sobre a morte. Então a luz branca
disse: 'Passe para o lado de cá desta linha e você saberá'. Achei que
eu sabia onde a linha estava, diante de mim, embora não a estivesse
vendo realmente. Quando cruzei a linha, vieram-me as sensações
mais maravilhosas — sensações de paz, tranqüilidade e o
desaparecimento de todas as preocupações."

4. "Sofri um ataque cardíaco e me encontrei em um vácuo negro, e
aí soube que tinha deixado para trás o meu corpo físico. Sabia que
estava morrendo e pensei: 'Ó Deus, fiz o melhor que eu sabia fazer
na ocasião. Por favor me ajude'. Imediatamente, fui sendo movido
para fora daquela treva, através de um cinzento pálido, e fui indo,
flutuando e movendo rapidamente, e bem em frente, ao longe, via
uma névoa cinza, e eu estava indo aceleradamente para lá. Não
estava chegando tão rápido quanto queria, e, à medida que ia me
aproximando, dava para ver através dela. Além da névoa, podia ver
bem as pessoas, e as suas formas eram as mesmas que tinham tido
na Terra, e dava para ver também coisas que pareciam construções.
Toda a cena estava permeada da mais encantadora luz — uma luz
vívida, de brilho amarelo-ouro, de cor pálida, e não como o
dourado berrante que conhecemos na Terra. Quando eu me
aproximei mais, tive certeza de que ia passar através da névoa. Era
uma sensação tão alegre e maravilhosa que não há palavras que a
possam descrever. No entanto, ainda não tinha chegado a minha
vez de ultrapassar a névoa, e isso porque vindo do outro lado
instantaneamente apareceu na minha frente meu tio Carl, que tinha
morrido muitos anos antes. Ele bloqueou minha passagem dizendo:
'Volte. Seu trabalho na Terra ainda não acabou. Agora volte'. Eu não
queria voltar, mas não tinha escolha, e imediatamente estava de
volta ao meu corpo. Senti aquela dor horrível no peito e ouvi meu
filhinho chorando: 'Deus, traga a minha mãe de volta'."

5. "Fui levado para o hospital com um sério problema que eles
diziam que era uma 'inflamação', e meu médico disse que eu não
iria escapar. Disse a meus parentes para virem porque eu não ia
ficar muito tempo mais por aqui. Eles vieram, reuniram-se em torno
do meu leito e, como o médico pensava que eu estava morrendo,
meus parentes pareciam estar aos poucos se afastando de mim.
Parecia que eles estavam recuando, em vez de eu me separar deles.
Foram ficando numa penumbra cada vez mais apagada, mas eu os
via. Perdi a consciência e já não sabia nada mais do que acontecia no
quarto do hospital, mas estava em uma passagem estreita, em forma
de V, como um funil, mais ou menos da largura desta cadeira. Dava
exato para o meu corpo, e meus braços e mãos pareciam estar
esticados para baixo. Fui indo de cabeça, e era escuro, o mais escuro
possível. Fui escorregando através dele e, quando olhei, vi uma
porta toda polida e sem maçanetas. Pelas frestas da porta dava para
ver uma claridade muito brilhante, com raios de luz oscilando como
se todo o mundo estivesse feliz lá dentro, dançando uma ciranda.
Parecia que muita coisa estava acontecendo lá dentro. Olhei e disse:
'Senhor, aqui estou eu. Se me quereis, levai-me'. Homem, ele me
mandou de volta tão depressa que quase perdi o fôlego."
Voltando

Como é óbvio, todas as pessoas com as quais conversei tiveram de
"voltar" de algum ponto de suas experiências. É comum, entretanto,
que uma mudança curiosa de atitude tenha ocorrido a essa altura.
Lembre-se de que os sentimentos relatados mais comuns nos
primeiros momentos que se seguem à morte são o desejo
desesperado de voltar ao corpo e um intenso pesar com a própria
morte. Contudo, uma vez que a pessoa que está morrendo chega a


uma certa profundidade na sua experiência, não quer voltar, e pode
mesmo opor resistência ao retorno ao corpo. Isso acontece
especialmente com aqueles que chegaram suficientemente longe a
ponto de encontrar o ser de luz. Como foi dito enfaticamente por
um homem: "Eu não queria nunca ter saído da presença desse ser".

As exceções a essa afirmação geral são só aparentes. Várias
mulheres que eram mães de crianças pequenas me disseram que,
enquanto por elas próprias teriam preferido ficar, sentiam-se na
obrigação de tentar voltar e criar os filhos.

"Eu pensei se devia ficar lá, mas aí me lembrei da minha família, de
meus três filhos e meu marido. Bem, esta é a parte difícil de
comunicar: enquanto eu tinha aquele sentimento maravilhoso, lá na
presença daquela luz, eu realmente não queria voltar. Mas eu levo
minhas responsabilidades muito a sério, e sabia que tinha um dever
para com a minha família. Aí decidi tentar voltar."

Uns poucos acham que as suas próprias decisões de voltar ao corpo
e retornar à vida terrena foram os fatores determinantes.

"Eu estava fora do meu corpo e compreendi que tinha de tomar
uma decisão. Sabia que não podia ficar fora do meu corpo físico por
um período muito longo de tempo — bem, para os outros isto é
muito difícil de entender, mas para mim estava perfeitamente claro
—, sabia que eu tinha de decidir: ou bem continuar, indo embora,
ou voltar para o corpo.

"Foi maravilhoso estar lá do outro lado, e eu bem que queria ficar,
mas saber que eu tinha algo de bom para fazer na Terra era de certo
modo igualmente maravilhoso. Assim, eu estava pensando: 'Sim,
preciso voltar e viver', e cheguei de volta ao meu corpo físico. Quase


senti como se eu tivesse parado de sangrar por vontade própria. De
qualquer jeito, depois disso comecei a me recuperar."

Outros sentem que lhes foi, com efeito, dada a permissão de viver,
por "Deus" ou pelo ser de luz, quer em resposta a seu próprio
pedido de viver (em geral porque o pedido não tinha sido feito por
egoísmo), ou porque Deus, ou o ser, aparentemente, tinha em mente
alguma missão que deviam cumprir.

"Eu estava sobre a mesa, e podia ver tudo o que eles estavam
fazendo. Sabia que estava morrendo, que tinha chegado a hora. Mas
eu estava preocupada com as crianças, com quem é que iria tomar
conta delas. Por isso, não estava pronta para ir. O Senhor permitiu
que eu vivesse."

Como um homem relembra:

"Digo que Deus foi mesmo bom para mim, porque eu estava morto,
e ele permitiu que os médicos me trouxessem de volta com uma
finalidade. Essa finalidade era ajudar minha mulher, acho, porque
ela tinha um problema com a bebida, e sei que não teria conseguido
enfrentá-lo sem mim. De fato, está melhor agora, e acho realmente
que isso tem muito a ver com o que passei".

Uma jovem mãe acha que:

"O Senhor me mandou de volta, mas eu não sei por quê. Eu
definitivamente o senti lá, e sei que ele me reconheceu e sabia quem
eu era. No entanto, ele não achou oportuno me levar para o céu;
mas, por quê, eu não sei. Já pensei nisso muitas vezes desde então, e
creio que era porque eu tinha duas crianças pequenas para criar, ou
porque eu pessoalmente ainda não estava pronta para estar lá.


Ainda estou procurando a resposta, e não consigo mesmo
imaginar".

Em uns poucos casos, as pessoas expressaram o sentimento de que

o amor ou as preces de outrem tiveram o efeito de puxá-las de volta
da morte independentemente de seus próprios desejos.
"Eu fiquei com a minha velha tia durante a última doença dela, que
foi muito prolongada. Ajudei a tratar dela, e durante esse tempo
todos da família ficavam rezando para ela recuperar a saúde. Ela
parou de respirar várias vezes, mas eles a trouxeram de volta. Finalmente,
um dia ela olhou bem para mim e disse: 'Joan, eu estive
do lado de lá, do outro lado, e é muito belo. Eu queria ficar, mas não
posso enquanto você continuar rezando para eu estar aqui. Suas
rezas estão me segurando aqui. Por favor, não reze mais'. Nós paramos
de rezar e pouco tempo depois ela morreu."

Uma mulher me disse:

"O médico já tinha me dado por perdida, mas eu sobrevivi. Mas a
experiência por que passei foi de contentamento, e não senti mesmo
nada de mau. Quando eu voltei e abri os olhos, minha irmã e meu
marido me viram. Eu podia ver o alívio deles e as lágrimas correndo
dos seus olhos. Dava para ver que tinha sido um alívio para eles
que eu tivesse sobrevivido. Senti-me como se tivesse sido chamada
de volta — magnetizada de volta — pelo amor de minha irmã e de
meu marido. Depois disso, tenho a crença de que outras pessoas
podem trazer a gente de volta".

Em bem poucos casos, as pessoas se lembram de serem puxadas
rapidamente de volta através do túnel escuro pelo qual passaram
durante os momentos iniciais de suas experiências. Um homem que
"morreu", por exemplo, relata como foi propelido através de um


vale sombrio. Sentiu que estava chegando ao fim de um túnel, e
exatamente nesse momento ouviu seu nome sendo chamado atrás
dele. Foi então puxado para trás através do mesmo espaço. Poucos
experimentaram a reentrada fatual em seus corpos físicos. A
maioria relata meramente que no fim de suas experiências acha que
"dormiu" ou ficou inconsciente, e acordou mais tarde em seu corpo
físico.

"Não me lembro da volta ao meu corpo. Foi como se eu tivesse
vagado para fora, depois dormido e de repente acordado já de
volta, deitado na cama. As pessoas no quarto estavam, em
comparação, onde tinham ficado enquanto eu estive fora do meu
corpo, olhando para ele e para elas."

De outro lado, alguns se lembram de ter sido trazidos velozmente
de volta a seus corpos físicos, às vezes com uma sacudida, no fim de
suas experiências.

"Eu estava lá em cima no teto, vendo-os trabalhar em mim. Quando
eles puseram os eletrodos no meu peito, e meu corpo sacudiu, caí de
volta nele, como se fosse um peso morto. Dei por mim novamente
em meu corpo."

E:
"E eu decidi que ia voltar, e quando o fiz foi como um choque, como
uma faísca de novo no meu corpo, e senti que naquele preciso
momento tinha atravessado de volta para a vida".

Em muito poucos dos casos em que o evento é contado com algum
detalhe se diz que a reentrada ocorre "através da cabeça".


"Meu ser parecia ter uma extremidade maior e outra menor, e no
fim do acidente, depois de ter ficado suspenso sobre a minha
própria cabeça, meu 'ser' voltou para dentro. Quando ele deixou
meu corpo, parecia que a extremidade maior saíra antes, mas, ao
voltar, a extremidade menor parece que entrou primeiro."

Uma pessoa relata:

"Quando eu os vi apanharem meu corpo e tirarem-no de baixo do
volante, foi como um 'chhhhhhhh' e senti que era puxado através de
uma área limitada, uma espécie de funil, acho. Estava escuro e
negro lá dentro, eu me movia através dela rapidamente, de volta ao
meu corpo. À medida que fui sendo puxado de volta, parecia que a
sucção tinha começado vindo da cabeça, pois eu fui de cabeça. Não
senti que pudesse ter qualquer decisão sobre o que estava
acontecendo, nem mesmo tive tempo de pensar. Lá estava eu, longe
do meu corpo, e, de repente, eu estava ali com ele.

Não tive nem tempo de pensar: 'Estou sendo sugado de novo para
dentro do meu corpo' ".

Os sentimentos e emoções que foram associados com a experiência,
tipicamente, permanecem por algum tempo depois de a crise
médica propriamente dita ter sido resolvida.

1. "Depois que eu voltei, durante mais ou menos uma semana
chorei muitas vezes por ter de viver neste mundo depois de ter
visto aquele. Eu não queria voltar."
2. "Quando voltei, trouxe comigo algumas das sensações
maravilhosas que senti no além. Duraram vários dias. Ainda agora
às vezes eu as sinto."

3. "Essas sensações eram indescritíveis mesmo. Ficaram comigo de
certo modo. Nunca as esquecerei. Ainda penso em tudo aquilo com
muita freqüência."
Contar aos outros

Deve-se frisar que uma pessoa que passa por uma experiência desse
tipo não tem nenhuma dúvida quanto à realidade dela ou sobre sua
importância. As entrevistas que fiz estão geralmente recheadas de
observações desse tipo. Por exemplo:

"Enquanto eu estava fora do meu corpo, ficava menos espantada

com o que estava acontecendo comigo.
Não dava para entender. Mas era real. Eu via o meu corpo tão
nitidamente e tão longe! Minha mente não estava naquele momento
ocupada em querer fazer coisas ou manufaturar idéias, ou em
inventar qualquer coisa. Simplesmente não se tratava de um estado
mental".

E:
"Não se parecia em nada com uma alucinação. Já tive alucinação
uma vez, quando me deram codeína no hospital. Mas isso
aconteceu muito antes do acidente que me 'matou' mesmo. E essa
experiência não foi nada parecida com as alucinações,
absolutamente nada".


Tais observações foram feitas por pessoas perfeitamente capazes de
distinguir sonho e fantasia da realidade. As pessoas que entrevistei
eram personalidades sadias e equilibradas. Contudo, não falam de
suas experiências como se estivessem contando sonhos, mas sim
como eventos reais que de fato lhes aconteceram.

Apesar de sua própria certeza quanto à realidade e à importância
do que lhes aconteceu, entendem que a sociedade contemporânea
não é bem o tipo de ambiente em que relatos dessa natureza sejam
recebidos com simpatia e compreensão. Com efeito, muitos
disseram que compreenderam desde o início que os outros os
tomariam como mentalmente instáveis se fossem relatar suas
experiências. Por isso, resolveram permanecer calados a respeito, ou
revelar suas experiências só a algum parente muito próximo.

"Foi muito interessante. Só que não gosto de falar a respeito. As
pessoas olham como se a gente estivesse louca."

Outro lembra:

"Durante muito tempo não contei nada a ninguém. Não disse
mesmo nada a respeito. Não me sentia à vontade porque tinha
medo de que ninguém acreditasse que eu estava contando a
verdade, e temia que dissessem: 'Ora, você está inventando essas
coisas!'
"Um dia, decidi: .'Bem, quero ver como a minha família reage!', e
contei. Mas a ninguém mais, até agora. Mas acho que minha família
compreendeu que eu tinha mesmo ido tão longe."

Outros tentaram de início contar o ocorrido a alguém, mas, ao
encontrar oposição, resolveram daí por diante ficar quietos.

1. "A única pessoa a quem tentei contar a história foi minha mãe.
Um pouco mais tarde mencionei como tinha me sentido. Mas eu era

só um menininho, e ela não prestou nenhuma atenção. Daí, eu
nunca contei a mais ninguém."

2. "Tentei contar ao pastor, mas ele disse que eu tinha estado
delirando, aí me calei."
3. "Eu era muito popular no ginásio e no colégio, e ia com a turma,
não fazia nada de novo. Eu era uma maria-vai-com-as-outras e não
uma líder. Depois que isso aconteceu comigo, tentei contar para a
turma; eles automaticamente me rotularam de maluca. Quando eu
tentava contar, eles ouviam com interesse, mas depois eu descobria
que ficavam dizendo: 'Essa daí pirou mesmo'. Quando descobri que
para eles era tudo uma grande piada, parei de tentar comunicar
qualquer coisa. Eu não tinha estado tentando dizer: 'Vejam que
coisa mais especial aconteceu comigo'. O que eu estava tentando
dizer era que precisamos saber mais sobre a vida do que eu pensava
antes, e tenho certeza de que eles também."
4. "Tentei contar às enfermeiras que estavam comigo, quando
acordei, o que tinha acontecido, mas elas me disseram para não
falar, que eu tinha estado imaginando coisas."
Assim, nas palavras de uma pessoa:

"Você aprende rapidamente que as pessoas não aceitam isso tão
facilmente como a gente gostaria. Então simplesmente você não vai
subir a uma tribuna e começar a dizer a todo o mundo essas coisas".

É bastante curioso que em só um dos casos que estudei o médico
tenha revelado alguma familiaridade com as experiências de quase
morte ou tenha expresso alguma simpatia. Depois de sua
experiência fora do corpo, uma moça me contou:


"Minha família e eu perguntamos ao médico o que tinha acontecido
comigo, e ele disse que isso acontece com freqüência quando as
pessoas estão sofrendo muita dor ou tiveram ferimentos graves, que
suas almas deixam seus corpos".

Considerando o ceticismo e a falta de compreensão que encontram
as tentativas de discutir a experiência de quase morte, não é de
surpreender que quase todos os que se encontram nessa situação
cheguem a pensar que são casos únicos, que ninguém jamais passou
pelo que experimentaram. Um homem, por exemplo, me disse:
"Estive em um lugar onde antes de mim ninguém esteve".
Aconteceu, muitas vezes, depois de entrevistar alguém
pormenorizadamente sobre sua própria experiência e em seguida
contar-lhe que outros relataram exatamente os mesmos eventos e
percepções, esse alguém expressar os mais profundos sentimentos
de alívio.

"É uma coisa muito interessante mesmo descobrir que outras
pessoas tiveram a mesma experiência, porque eu não compreendia.
. . Estou mesmo feliz com que você tenha me contado isso, sabendo
que obviamente mais alguém também passou pelo mesmo que eu.
Agora eu sei que não estou louco.
"Foi sempre uma coisa muito real para mim, mas eu nunca diria
nada a ninguém, porque tinha medo que me olhassem e pensassem:
'Quando você parou, sua mente ficou pirada também'.
"Imaginei que alguém mais deveria ter passado pela mesma coisa,
mas que eu provavelmente nunca iria encontrar alguém que
conhecesse outra pessoa que tivesse atravessado a mesma
experiência, porque eu não acho que as pessoas vão falar. Se alguém
viesse me dizer, sem que eu tivesse estado lá, eu provavelmente
olharia e ficaria imaginando qual era a piada, porque é assim que a
nossa sociedade é."


Há ainda outra razão pela qual alguns são reticentes em contar suas
experiências aos outros. Acham que suas experiências são tão
indescritíveis, tão distantes da linguagem humana e dos modos
humanos de percepção e existência, que é infrutífero mesmo tentar.

Efeito sobre as vidas

Pelas razões que acabo de explicar, ninguém do meu conhecimento
construiu para si um púlpito portátil e saiu pregando em tempo
integral na base da sua própria experiência. Ninguém achou
apropriado fazer proselitismo, tentar convencer os outros das
realidades que experimentou. Com efeito, descobri que a dificuldade
é bem o reverso: as pessoas são naturalmente muito reticentes
em dizer aos outros o que aconteceu com elas.
Os efeitos que estas experiências tiveram sobre suas vidas parecem
ter assumido formas mais quietas, mais sutis. Muitos me contaram
que sentiam que suas vidas tinham sido ampliadas e aprofundadas
pela experiência, que por causa dela tinham se tornado mais
profundos e mais preocupados com as questões filosóficas fundamentais.


"Até esse momento — foi antes de eu ter me mudado para
freqüentar a faculdade — eu tinha sido criado em uma cidade
pequena, com gente de mentalidade muito tacanha, pelo menos as
pessoas com as quais estava ligado. Eu era um garoto típico do time
do ginásio. Ninguém, a não ser os do meu grupo de amigos,
significava algo para mim.
"Mas, depois que isso me aconteceu, eu queria saber mais. Na
ocasião, no entanto, eu não imaginava que houvesse alguém que
soubesse qualquer coisa sobre isso, porque eu nunca tinha estado


fora do mundinho em que vivia. Não sabia nada de psicologia, nem
de nada assim. Tudo o que eu sabia era que me sentia como se
tivesse envelhecido da noite para o dia depois do que aconteceu.
Abriu-se para, mim um mundo totalmente novo que eu nunca
imaginei que existisse. Ficava pensando: 'Há tanta coisa que eu
tenho que descobrir'. Em outras palavras, existem mais coisas além
do cinema no sábado e do futebol no domingo. E há mais coisas
sobre mim que eu mesmo não sei. E aí comecei a pensar: 'Qual é o
limite do ser humano e da mente?' Foi isso. Assim começou, para
mim, um mundo novo."

Outro declara:

"Desde então, tem sido uma constante na minha mente o que fiz da
minha vida, e o que fazer da minha vida. Com a minha vida
passada eu estou satisfeito. Não acredito que o mundo me deva
nada porque fiz mesmo tudo o que eu quis, ainda estou vivo e
posso fazer mais. Mas, desde que morri, repentinamente, logo
depois da minha experiência, comecei a imaginar se eu tinha feito as
coisas que fiz porque eram boas ou porque eram boas para mim.
Antes, eu reagia apenas na base do impulso; agora, eu primeiro
passo as coisas pela cabeça, devagar e cuidadosamente. Tudo parece
que tem que passar primeiro pela minha mente e ser digerido.
"Tento fazer coisas que tenham maior significado, e isso faz com
que a minha mente e a minha alma se sintam melhor. Tento não ser
parcial e não julgar as pessoas. Quero fazer coisas que sejam boas, e
não coisas que sejam boas só para mim. E parece que a
compreensão que tenho das coisas é muito melhor.

Sinto-me assim por causa dos lugares aonde fui e das coisas que vi
nessa experiência."


Outras relatam uma mudança de atitude para com a vida física a
que retornaram. Uma mulher, por exemplo, diz bem simplesmente
que já ter morrido "faz com que a vida se tenha tornado mais
preciosa para mim".

Outra pessoa relata:

"De certo modo foi uma bênção, porque antes daquele ataque do
coração eu estava tão ocupado em planejar o futuro dos filhos, e em
me preocupar com o dia de ontem, que estava perdendo as alegrias
do presente. Agora tenho uma atitude muito diferente".

Uns poucos mencionaram que o que passaram modificou suas
concepções da mente e da importância relativa do corpo físico em
comparação com a mente. Isso fica ilustrado particularmente bem
nas seguintes palavras de uma mulher que teve uma experiência
fora do corpo quando nas proximidades da morte:

"Na ocasião eu fiquei consciente da minha mente mais do que do
meu corpo físico. A mente era a parte mais importante, em vez da
forma do corpo. E, antes, toda a minha vida tinha sido exatamente o
inverso. O corpo era o interesse principal, e o que ia pela minha
mente, bem, estava indo e era tudo. Mas, depois que aquilo
aconteceu, minha mente ficou sendo o principal ponto de atração, e

o corpo em segundo lugar — não mais do que algo que servia de
embalagem para a mente. Não me incomodava ter ou não um
corpo.
Não fazia diferença, porque, tanto quanto me importava, minha
mente era o que merecia cuidado".


Em um número pequeno de casos, pessoas me contaram que depois
de suas experiências pareciam adquirir ou notar faculdades de
intuição na fronteira com o psíquico.

1. "Depois dessa experiência como que fui preenchido com um
novo espírito. Pois, desde então, muitos observaram que eu pareço
exercer um efeito calmante sobre as pessoas, instantaneamente,
quando elas estão perturbadas. E parece também que estou mais
sintonizado com as pessoas agora que eu consigo sacar as coisas
mais depressa."
2. "Uma coisa que acho que me foi dada, em conseqüência da
minha experiência de morto, é que posso perceber as necessidades
na vida de outros indivíduos. Muitas vezes, por exemplo, quando
estou com outras pessoas no elevador do edifício onde trabalho,
parece que posso ler em suas faces e dizer que precisam de ajuda e
de que tipo de ajuda. Muitas vezes, falei com essas pessoas que
estavam assim perturbadas, e as conduzi até meu escritório para um
bom papo."
3. "Desde que fui ferida, tenho a sensação de captar pensamentos e
vibrações das pessoas, e percebo também o ressentimento nas
outras pessoas. Muitas vezes sei o que as pessoas vão dizer antes
que abram a boca. Não são muitos os que vão acreditar em mim,
mas desde então tenho tido experiências muito, muito singulares
mesmo. Uma vez, eu estava numa festa e estava captando o
pensamento das outras pessoas, e alguns que não me conheciam
ficaram com medo e foram embora. Ficaram com medo de que eu
fosse uma bruxa ou coisa assim. Não sei se é alguma coisa que
adquiri enquanto estive morta, ou se estava latente e eu nunca usei
antes que isso acontecesse."

Há um notável acordo quanto às "lições", ou o que sejam, que foram
trazidas de volta desses encontros estreitos com a morte. Quase
todos insistem sobre a importância de tentar cultivar o amor pelos
outros, amor de uma espécie única e profunda. Um homem que
encontrou o ser de luz e se sentiu totalmente amado e aceito, mesmo
quando toda a sua vida estava em exibição como um panorama que
ambos podiam ver, acha que a "questão" que o ser propunha era se
ele era capaz de amar e aceitar os outros da mesma maneira.
Acredita agora que sua tarefa, enquanto estiver na Terra, é aprender
a ser capaz de fazer isso.
Em acréscimo, muitos outros acentuam a importância de buscar o
saber. Acham que foram avisados, durante suas experiências, de
que a aquisição do saber continua mesmo no além-vida. Uma
mulher, por exemplo, tem aproveitado todas as oportunidades
educacionais que tem tido desde sua experiência de "morte". Um
outro homem dá o conselho: "Não importa a idade com que você
esteja, nunca pare de aprender. Pois esse é um processo, foi como
entendi, que continua pela eternidade".
Ninguém que eu tenha entrevistado relatou ter saído da experiência
moralmente "purificado" ou aperfeiçoado. Ninguém com quem
conversei deu qualquer sinal de uma atitude "mais santa que a de
vocês". Na verdade, a maioria trouxe à baila a questão de que
sentem que ainda estão tentando, procurando ainda. Sua visão
deixou-os com novos propósitos, novos princípios morais, e
renovou sua determinação de viver de acordo com eles, mas
nenhum sentimento de salvação instantânea ou de infalibilidade
moral.

Novas visões da morte

Como bem se poderia esperar, esta experiência tem um efeito
profundo sobre as atitudes em relação à morte física, especialmente


para aqueles que não tinham nenhuma expectativa anterior de que
ocorresse qualquer coisa depois da morte. De uma forma ou de
outra, quase todas as pessoas expressaram a mim o pensamento de
que já não têm medo da morte física. Isso requer esclarecimentos,
entretanto. Em primeiro lugar, certas maneiras de morrer são
obviamente indesejáveis, e, em segundo lugar, nenhuma dessas
pessoas está ativamente procurando a morte. Todos sentem que têm
tarefas a cumprir enquanto estiverem fisicamente vivos e teriam
concordado com as palavras de um homem que disse: "Tenho ainda
de mudar um bocado antes de deixar isto aqui". Da mesma forma,
todos desaconselhariam o suicídio como um meio de voltar aos
reinos de que tiveram um relance durante suas experiências. O que
acontece é que agora o próprio estado de morte já não lhes é
proibitivo. Vejamos algumas passagens nas quais tais atitudes são
explicadas.

1. "Suponho que esta experiência modelou algo da minha vida. Eu
era apenas uma criança quando isso aconteceu, tinha só dez anos,
mas agora, depois de uma vida inteira, estou completamente
convencido de que há vida depois da morte, sem sombra de dúvida,
e não tenho medo de morrer. Não tenho. Conheço gente que tem
muito medo, pavor mesmo. Eu sempre rio comigo mesmo quando
ouço gente duvidar de que haja um após-vida ou dizer: 'Morreu,
acabou'.
"Muitas coisas me aconteceram durante a minha vida. No negócio,
já me ameaçaram com um revólver encostado às minhas têmporas.
E não me assustou muito, porque eu pensei: 'Bem, se eu morrer
mesmo, se me matarem de fato, sei que ainda vou continuar
vivendo em algum lugar!' "
2. "Quando eu era garoto, tinha um medo terrível de morrer.
Costumava acordar de noite chorando e tendo acessos. Minha mãe e
meu pai corriam para o quarto para saber o que tinha acontecido. E

eu dizia que não queria morrer, mas que sabia que tinha de morrer,
e perguntava se eles podiam impedir isso. Minha mãe conversava
comigo e me dizia: 'Não, é assim que as coisas estão dispostas, e
todos temos de enfrentá-las'. Dizia que todos temos de encarar isso
sozinhos e que quando o momento chegar vamos nos sair bem. E,
anos depois de minha mãe morrer, eu conversava sobre a morte
com minha mulher. Ainda a temia. Não queria que ela viesse.
"Mas, depois dessa experiência, não temo mais a morte.
Desapareceram aqueles sentimentos. Já não me sinto mal em
enterros. Como que me alegro com eles, porque sei pelo que passam
as pessoas mortas.
"Acredito que o Senhor me enviou essa experiência por causa do
jeito que eu me sentia com a morte. Naturalmente, meus pais me
consolaram, mas o Senhor me mostrou o que havia, ao passo que
isso eles não podiam fazer. Agora, eu não gosto de falar sobre isso,
mas sei, e estou perfeitamente satisfeito."

3. "Agora já não tenho medo de morrer. Não é que eu sinta um
desejo de morte ou queira morrer imediatamente. Não quero neste
momento estar vivendo do outro lado porque tenho que estar vivo é
aqui. A razão pela qual não tenho medo de morrer, portanto, é que
sei para onde vou quando deixar isto aqui, porque já estive lá
antes."
4. "A última coisa que o ser de luz me disse, antes que eu voltasse
ao corpo, à vida, foi que ele voltaria. Ele estava me dizendo que eu
ia continuar a viver dessa vez, mas que chegaria a hora em que ele
entraria outra vez em contato comigo, e que eu morreria de
verdade.
"Por isso eu sei que a luz voltará, e a voz também, mas quando não
estou certo. Acho que vai ser uma experiência muito semelhante,
mas creio que ainda melhor, de verdade, pois agora sei o que
esperar e não ficarei tão confuso. Não acho que eu queira voltar

muito breve, porém. Ainda quero fazer algumas coisas aqui
embaixo."

A razão pela qual a morte já não é amedrontadora é que depois da
experiência a pessoa já não entretém dúvidas quanto à
sobrevivência depois da morte corporal. Já não é uma possibilidade
meramente abstrata, mas um fato da experiência.
Cabe lembrar que no início discuti o conceito de "aniquilação" que
usa "dormir" e "esquecer" como modelos da morte. As pessoas que
"morreram" desaprovam essa espécie de modelos e escolhem
analogias que representam a morte como a transição de um estado
para outro, ou como uma entrada para um estado superior de
consciência ou de ser. Uma mulher, cujos parentes mortos lá
estavam para saudá-la na sua morte, comparou a morte a um
"chegar a casa". Outras pessoas a equiparam com outros estados
psicológicos positivos, como por exemplo acordar, formar-se ou fugir
da cadeia.

1. "Alguns dizem que não estamos usando a palavra 'morte'
porque estamos tentando escapar dela. No meu caso não é verdade.
Depois de você ter tido uma vez a experiência pela qual passei, você
sabe, dentro do seu coração, que não existe coisa tal como a morte.
Você apenas termina um curso e começa outro — como passar do
primeiro para o segundo ciclo."
2. "A vida é como um encarceramento. Neste estado, não podemos
mesmo compreender o quanto os corpos são uma prisão. A morte é
uma libertação tal. . . como uma fuga da prisão. Não posso pensar
em uma comparação melhor."
Mesmo aqueles que anteriormente possuíam alguma convicção
tradicional acerca da natureza do mundo depois da vida parecem
ter se afastado dela alguns graus após o seu próprio roçar com a


morte. De fato, de todos os depoimentos que recolhi, em nenhum
deles foi pintado o quadro mitológico do que jaz além. Ninguém
descreveu o céu do desenhista — portões de madrepérola, ruas
douradas, nem um inferno de chamas e demônios com forcados.
Assim, na maioria dos casos, o modelo de um além recompensa-
castigo fica abandonado e desconfirmado, até pelos muitos que
foram acostumados a pensar nesses termos. Descobriram, para
espanto próprio, que, mesmo quando suas ações, aparentemente as
piores e as mais pecaminosas, foram revistas diante do ser de luz, o
ser respondeu não com ira e cólera, mas só com compreensão, e até
com senso de humor. Quando uma mulher passou em revista sua
vida com esse ser, viu cenas nas quais tinha deixado de mostrar
amor e tinha exibido egoísmo. No entanto, diz ela, "a atitude dele
quando chegamos a essas cenas era só a de que eu estava
aprendendo, mesmo nessas circunstâncias". No lugar do velho
modelo, muitos parecem ter voltado com um novo modelo e um
novo entendimento do mundo além — uma visão que apresenta
não um julgamento unilateral, mas sim um desenvolvimento cooperativo
na direção da finalidade básica de auto-rea-lização. De
acordo com essas novas perspectivas, o desenvolvimento da alma,
especialmente nas faculdades espirituais de amor e conhecimento,
não pára com a morte. Em vez disso, continua do outro lado, talvez
eternamente, mas certamente por um período de tempo e com uma
profundidade que apenas pode ser vislumbrada enquanto ainda
estamos em corpos físicos, como "através de um vidro fosco".

Corroboração


A questão que agora naturalmente se propõe é saber se pode ser
obtida qualquer prova da realidade das experiências de quase


morte, independentemente das descrições das próprias
experiências. Muitas pessoas relataram ter estado fora de seus
corpos por longos períodos de tempo e ter testemunhado muitos
eventos no mundo físico durante o interludio. Será possível
verificar qualquer desses relatos pelo confronto com os de outras
testemunhas que se saiba terem estado presentes, ou com eventos
posteriores confirmativos, para assim serem confirmados ou
corroborados?
Com efeito, em uns poucos casos, a resposta algo surpreendente a
essa pergunta é "sim". E, mais ainda, a descrição de eventos
testemunhados enquanto fora do corpo tende a ser verificada
bastante bem. Vários médicos me disseram, por exemplo, que estão
completamente atônitos a respeito de como pacientes sem conhecimentos
médicos possam descrever em pormenor e tão
corretamente o procedimento usado em tentativas de ressurreição,
ainda que esses eventos tenham ocorrido enquanto os médicos
sabiam que os pacientes em questão estavam "mortos".

Em vários casos, pessoas me contaram como espantaram seus
médicos e outras pessoas com o relato de eventos que
testemunharam estando fora do corpo. Uma moça, por exemplo,
enquanto estava morrendo, saiu do corpo e foi até um outro quarto
do hospital, onde encontrou sua irmã mais velha chorando e dizendo:
"Oh, Kathy, por favor não morra, por favor não morra". A irmã
mais velha ficou completamente atônita quando, mais tarde, Kathy
lhe disse exatamente onde tinha estado e o que ela dissera, durante
esse tempo. Nos dois trechos que se seguem, estão descritos eventos
semelhantes.

1. "Depois que tudo tinha passado, o médico me disse que eu tinha
estado muito mal mesmo, e eu disse: 'É, eu sei'. Ele perguntou:
'Bem, como é que você sabe?', e eu respondi: 'Posso lhe contar tintim
por tintim o que aconteceu'. Ele não acreditou, aí eu contei toda a

história desde o momento em que parei de respirar até o momento
em que estava como que voltando. Ele ficou realmente chocado,
vendo que eu sabia tudo o que tinha acontecido. Ele não sabia o que
dizer, mas varias vezes me perguntou diversas coisas a respeito."

2. "Quando acordei, depois do acidente, meu pai estava lá, e eu nem
mesmo queria saber em que estado me encontrava, ou como estava,
ou como os médicos pensavam que eu ia ficar. Tudo o que eu queria
era falar sobre a experiência pela qual tinha passado. Contei ao meu
pai quem tinha puxado meu corpo para fora do prédio, e até a cor
das roupas que essa pessoa estava usando, e como me tiraram de lá,
e até sobre todas as conversas que estavam ocorrendo naquela área.
Meu pai disse: 'Bem, sim, essas coisas aconteceram de verdade'. No
entanto, meu corpo estava fisicamente desligado todo esse tempo, e
não havia nenhum modo de eu poder ter visto ou ouvido todas
essas coisas sem ser fora dele."
Finalmente, em uns poucos casos, consegui obter testemunhos
independentes de outrem sobre os eventos corroborantes. Checando

o valor de prova de tais relatos independentes, entretanto, surgem
vários fatores que complicam a situação. Primeiro, na maioria dos
casos o próprio evento corroborante é atestado só pela pessoa que
está morrendo e por, no melhor dos casos, um par de amigos
chegados ou conhecidos. Segundo, mesmo nos casos
excepcionalmente dramáticos e bem testemunhados que coligi,
prometi não revelar nomes reais. Mesmo que pudesse, entretanto,
não penso que estas histórias corroborativas coligidas depois do
fato possam constituir provas, por razões que explicarei no capítulo
final.
Chegamos ao fim da nossa pesquisa sobre os vários estágios e
eventos, comumente relatados, da experiência de morrer. Ao
encerrar este capítulo, quero citar longamente um relato bastante


excepcional que engloba muitos dos elementos que discuti. Além
disso, porém, contém uma trama única e não encontrada antes: o ser
de luz conta com antecedência ao homem em questão a sua morte
iminente, e depois decide deixá-lo viver.

"Na ocasião em que isso aconteceu, eu sofria, como ainda hoje, de
uma grave asma brônquica e enfisema. Um dia, entrei num acesso
de tosse e aparentemente rompi um disco da parte inferior da
espinha. Durante alguns meses consultei vários médicos,
queixando-me da dor agoniante, e, finalmente, um deles me
encaminhou a um neurocirurgião, o Dr. Wyatt. Ele me examinou e
disse que eu precisava ser internado imediatamente em um
hospital; eu o fiz, e me puseram em tração logo de início.
"O Dr. Wyatt sabia que eu sofria de séria enfermidade respiratória e
chamou um especialista de pulmão, que disse que o anestesista, Dr.
Coleman, deveria ser consultado se eu tivesse de ser submetido a
anestesia para a intervenção cirúrgica. Aí o especialista do pulmão
me tratou quase três semanas, até que finalmente eu estava em
condições para que o Dr. Coleman me fizesse dormir. Finalmente,
em uma segunda-feira, ele consentiu, embora ainda estivesse muito
preocupado. Marcaram a operação para a quinta. Segunda à noite
dormi e tive um sono reparador até terça-feira pela manhã, quando
acordei com grandes dores. Tentei vi-rar-me e ficar em uma posição
mais confortável, mas bem nesse momento uma luz apareceu em
um canto do quarto, logo abaixo do teto. Era só uma bola de luz,
quase como um globo, e não muito grande (não diria que tivesse
mais de trinta centímetros de diâmetro), e quando essa luz apareceu
um sentimento se apoderou de mim. Não posso dizer que era uma
sensação estranha, porque não era. Era uma sensação de paz e
completo relaxamento. Eu podia ver a mão se estender da luz para
mim e a luz dizer: 'Venha comigo. Quero lhe mostrar algo'. Aí,
imediatamente, sem nenhuma hesitação, levantei minha mão e
segurei a mão que me era estendida. Ao fazer isso, tive a sensação


de ser tirado para fora do meu corpo; olhei para trás e vi que ele
estava lá deitado na cama enquanto eu estava subindo para o teto
do quarto.
"Bem, nesse momento, logo que deixei o corpo, assumi a mesma
forma que a da luz. Tive a sensação, e tenho de usar minhas
próprias palavras para descrevê-lo, porque nunca ouvi ninguém
falar sobre nada parecido, de que essa forma era definitivamente
um espírito. Não era um corpo, só um vapor. Parecia-se bastante
com as nuvens de fumaça de cigarro que a gente vê quando estão
iluminadas e subindo em volta de uma lâmpada. A forma que
tomou, porém, tinha cores. Havia laranja, amarelo e uma cor muito
indistinta para mim — acho que era violeta, uma cor azulada.
"Essa forma espiritual não tinha contorno como um corpo. Era mais
ou menos circular, mas tinha o que eu chamaria de mão. Sei disso
porque, quando a luz se estendeu para mim, eu a segurei com a
minha mão. Porém, o braço e a mão do meu corpo ficaram imóveis,
porque eu podia vê-los jazendo na cama, esticados ao lado do
corpo, quando subi para a luz. Mas, quando eu não estava usando
essa mão espiritual, o espírito voltou à forma circular.
"Assim, fui puxado para a mesma posição em que a luz estava, e
começamos a nos mover, através do teto e da parede do quarto do
hospital, para o corredor, e através do corredor, parece que para
baixo, até um andar inferior do hospital. Não tínhamos dificuldades
em passar através de portas e paredes. Elas desapareciam diante de
nós quando nos aproximávamos.
"Durante esse período parecia que estávamos viajando. Sabia que
estávamos nos movendo, porém não havia sensação de velocidade.
E em um momento compreendi que tínhamos chegado à sala de
recuperação do hospital. Bem, eu antes nem mesmo sabia onde era a
sala de recuperação do hospital, mas chegamos lá, e mais uma vez
ficamos no canto do quarto perto do teto e acima de tudo o mais. Vi
médicos e enfermeiras andando pra cá e pra lá com seus aventais
verdes, e vi que estavam colocando uns leitos no lugar.


"Este ser então me disse — ele me mostrou: 'É aí que você vai ficar.
Quando o tirarem da mesa de operações, vão pô-lo naquele leito,
mas você nunca despertará da posição em que o colocarem. Você
não saberá mais nada depois de entrar na sala de operação até que
eu volte para buscá-lo algum tempo depois'. Bem, não vou dizer
que isso foi dito em palavras. Não era como se fosse uma voz
audível, porque se tivesse sido acho que os outros que estavam na
sala teriam ouvido, e eles não ouviram nada. Era mais uma impressão
que me vinha. Mas era numa forma tão vívida que não
havia jeito de eu dizer que não tinha escutado ou que não tinha
entendido. Era bem definida para mim.
"E o que eu estava vendo — bem, era muito mais fácil reconhecer
coisas enquanto eu estava nessa forma espiritual. Eu não ficava
imaginando: 'Agora, o que será que ele está tentando me mostrar?'
Eu ficava sabendo imediatamente o que era, o que ele tinha em
mente. Nunca havia nenhuma dúvida. Era aquele leito — era a
cama da direita, quando se entra vindo do corredor — onde eu ia
ficar, e ele me levou para ali com um propósito. Compreendi que a
razão para isso era que ele não queria nenhum medo quando chegasse
a hora de meu espírito passar para fora do corpo, mas queria
que eu soubesse qual seria a sensação depois desse ponto. Ele
queria me dar confiança para que eu não tivesse medo, porque
estava me dizendo que não estaria lá imediatamente, que eu tinha
de passar por outras coisas antes, mas que ele estaria supervisionando
tudo o que acontecesse e estaria lá para mim no final.
"Agora, imediatamente quando me juntei a ele para a viagem até a
sala de recuperação e tinha eu próprio me tornado um espírito, de
certo modo tínhamos estado fundidos em um só. Éramos, ao mesmo
tempo, duas coisas distintas. Porém, ele tinha controle total sobre
tudo o que estava acontecendo no que me dizia respeito. E, mesmo
se estávamos viajando pelas paredes e tetos, etc, bem, parecia que
estávamos em tal comunhão íntima que nada absolutamente podia


me perturbar. De novo, era uma plenitude de paz, calma e uma
serenidade que jamais encontrei em qualquer outro lugar.
"Assim, depois que me disse isso, ele me levou de volta para o
quarto do hospital, e quando voltei vi meu corpo, ainda jazendo na
mesma posição em que estava quando o deixei, e instantaneamente
eu estava de volta a ele. Creio que estive fora do meu corpo uns
cinco ou dez minutos, mas a passagem do tempo não tem nada a
ver com essa experiência. De fato, não me lembro de ter mesmo
pensado nela como tendo durado qualquer tempo determinado.
"Bem, tudo isso me espantou e me tomou completamente de
surpresa. Era tão vívido e real — mais ainda que a experiência
ordinária. E na manhã seguinte eu já não estava nem um pouco com
medo. Quando fiz a barba, notei que minha mão não tremia como
nas últimas seis ou oito semanas antes. Sabia que ia estar para
morrer, mas não havia arrependimento, nem medo. Não ocorria o
pensamento: 'Que é que posso fazer para isso não acontecer?' Eu
estava pronto.
"Bem, na quarta de tarde, véspera da operação na manhã seguinte,
eu estava no meu quarto do hospital, preocupado. Minha mulher e
eu temos um rapaz, um sobrinho adotado, e estávamos tendo
dificuldades com ele. Por isso decidi escrever uma carta para ela e
uma para ele, pondo minhas preocupações em palavras, e esconder
as cartas onde eles só as pudessem encontrar depois da operação.
Depois de ter escrito quase duas páginas da carta para minha
mulher, foi como se as comportas tivessem se aberto. Comecei a
chorar de uma vez, soluçando. Senti uma presença, e a princípio
pensei que eu estava chorando tão alto que tinha perturbado uma
das enfermeiras e que ela tivesse entrado no quarto para ver o que
havia comigo. Mas eu não tinha escutado a porta se abrir. E outra
vez senti a presença, mas não vi nenhuma luz dessa vez, e pensamentos
e palavras chegaram até mim, exatamente como antes, e ele
disse: 'Jack, por que você está chorando? Pensei que lhe agradasse
estar comigo'. E pensei: 'Sim, estou feliz. Quero ir muito mesmo'. E a


voz disse: 'Então, por que você está chorando?' Eu disse: 'Estamos
tendo problemas com meu sobrinho, você sabe, e tenho medo de
que minha mulher não saiba como educá-lo. Estou tentando pôr em
palavras como me sinto, e o que quero que ela tente fazer por ele.
Estou preocupado também porque acho que talvez minha presença
pudesse ajudá-lo de algum modo'.

"Então me vieram pensamentos enviados por essa presença: 'Uma
vez que você está pedindo por alguém, e pensando nos outros, não
em Jack, vou conceder o que pede. Você viverá para ver seu
sobrinho tornar-se um homem'. E, assim de repente, desapareceu.
Parei de chorar e destruí a carta para que minha mulher não a
encontrasse por acaso. À noitinha, o Dr. Coleman veio e me disse
que estava esperando ter dificuldades em me anestesiar, e que eu
não ficasse surpreso de acordar e descobrir um bocado de fios,
tubos e máquinas em volta de mim. Eu não contei nada do que
tinha experimentado, apenas concordei e disse que ia cooperar.
"Na manhã seguinte a operação demorou muito tempo, mas correu
tudo bem. Quando eu estava recuperando a consciência o Dr.
Coleman estava lá comigo, e eu disse: 'Eu sei exatamente onde
estou'. Ele perguntou: 'Em que cama você está?' Eu disse: 'Estou no
primeiro leito à direita de quem entra pelo hall'. Ele como que riu e
naturalmente pensou que eu estava falando por causa da anestesia.
"Eu quis contar o que tinha acontecido, mas bem naquele momento

o Dr. Wyatt entrou e disse: 'Ele está acordado agora. O que você
quer fazer?' E o Dr. Coleman disse: 'Não há nada que eu possa fazer.
Nunca estive tão espantado em minha vida. Aqui estou com todo
esse equipamento montado e ele não precisa de nada!' O Dr. Wyatt
disse: 'Ainda acontecem milagres, sabe?' Aí, quando consegui
levantar-me da cama e olhar ao redor, vi que era o mesmo leito que
a luz tinha me mostrado vários dias antes.
"Bem, tudo isso foi há três anos, mas ainda está tão vívido como
quando ocorreu. Foi a coisa mais fantástica que jamais me
aconteceu, e fez uma grande diferença. Mas não falo sobre isso. Só

contei a minha mulher, meu irmão, meu pastor, e agora a você. Não
sei como dizer, mas é tão difícil explicar. Não estou tentando
acontecer na sua vida, não estou tentando contar vantagem.
Apenas, depois disso, não tenho mais dúvidas. Sei que há vida
depois da morte."

III
Paralelos


Os eventos dos vários estágios da experiência de morrer são, para
dizer o mínimo, raros. Daí a minha surpresa ter aumentado quando,
com o passar dos anos, vim a encontrar um notável número de
paralelos. Estes paralelos ocorrem em escritos antigos e/ou
exotéricos da literatura de civilizações, culturas e eras muito
diversas.

A Bíblia

Na nossa sociedade a Bíblia é o livro mais lido e discutido dentre os
que tratam de questões relacionadas com a natureza e o aspecto
espiritual do homem e com a vida depois da morte. No todo,
contudo, a Bíblia tem relativamente pouco a dizer sobre os eventos
que transpiram quando da morte, ou sobre a natureza exata do
mundo depois da morte. Isso é especialmente verdade no Velho
Testamento. De acordo com alguns eruditos nos estudos bíblicos, só


duas passagens no Velho Testamento falam inequivocamente da
vida depois da morte:


Isaías, 26, 19:
"Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e
exultai, os que habitais no pó ( . . . ) e a terra lançará de si os
mortos".


Daniel, 12, 2:
"E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a
vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eternos".


Note-se que nas duas passagens há uma forte sugestão de que
ocorrerá uma ressurreição do corpo físico e que o estado de morte
física é comparado aqui também ao dormir.
Ainda assim, como ficou evidente no capítulo anterior, algumas
pessoas recorreram a conceitos especificamente bíblicos ao tentar
elucidar ou explicar o que lhes tinha acontecido. Por exemplo,
estarão lembrados de que um homem identificou o espaço escuro e
fechado pelo qual passou ao morrer como o "vale da sombra da
morte" bíblico. Duas pessoas mencionaram a declaração de Jesus:
"Eu sou a luz do mundo". Aparentemente, foi, pelo menos em parte,
com base nessa frase que ambos identificaram com Cristo a luz que
encontraram. Uma delas disse.: "Eu não cheguei a ver uma pessoa
nessa luz, mas para mim a luz era Cristo — consciência, unidade
com todas as coisas, um amor perfeito. Acho que Jesus falava
literalmente quando disse que ele era a luz do mundo".
Além disso, nas minhas próprias leituras encontrei alguns paralelos
aparentes que nenhum dos meus entrevistados tinha mencionado.
O mais interessante ocorre nos escritos do apóstolo Paulo. Ele foi
um perseguidor dos cristãos até que teve sua famosa visão e
conversão na estrada de Damasco. Diz ele:



Atos, 26, 13-26:
"Ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz no céu, que excedia o
esplendor do sol, cuja claridade me envolveu e aos que iam comigo.
"E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em
língua hebraica dizia: 'Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura
coisa te é recalcitrar contra os aguilhões'.
"E eu disse: 'Quem és, Senhor?' E ele respondeu: 'Eu sou Jesus, a
quem tu persegues. Mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque
te apareci por isto, para te pôr ministro e testemunha tanto das
coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda'.
(...)
"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celeste. ( . . . )
E, dizendo isto em minha defesa, disse Festo em alta voz: 'Estás
louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar'. Mas eu disse: 'Não
deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palavras de verdade e de
um são juízo'. "

Q episódio guarda alguma semelhança óbvia com o encontro com o
ser de luz nas experiências de quase morte. Em primeiro lugar, o ser
é dotado de uma personalidade, embora nenhuma forma física seja
vista, e uma "voz", que faz .perguntas e dá instruções, emana dele.
Quando Paulo tenta contar a outros, é ridicularizado e rotulado de
"louco". Não obstante, a visão modifica o curso de sua vida: daí por
diante torna-se um dos principais divulgadores do cristianismo
como um modo de vida que implica o amor aos outros.
Há diferenças também, naturalmente. Paulo não chega a estar perto
da morte no decorrer da sua visão. É também bastante interessante
que Paulo relate ter sido cegado pela luz e que por três dias foi
incapaz de ver. Isso vai de encontro aos relatos dos que disseram
que, embora a luz fosse indescritivelmente brilhante, de modo
algum os cegava ou impedia de ver ao redor.


Em suas discussões sobre a natureza do após-vida, Paulo diz que
alguns debatem o conceito cristão do após-vida perguntando que
espécie de corpo terão os mortos:

I aos Coríntios, 15, 35-52:
"Mas alguém dirá: como ressuscitarão os mortos? E com que corpo
virão? Insensato! O que semeias não é vivificado, se primeiro não
morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer,
mas o simples grão. ( . . . ) Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a
cada semente o seu próprio corpo. ( . . . ) E há corpos celestes e
corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes, e outra a dos
terrestres. ( . . . ) Assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-
se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em
ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza,
ressuscitará com vigor. Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo
espiritual. Se há um corpo animal, há também um espiritual. ( . . . )
Eis, aqui vos digo, um mistério: Na verdade, nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados. Num momento,
num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a
trombeta soará e os mortos ressuscitarão incorruptíveis".

É interessante que o breve esboço -de Paulo sobre a natureza do
"corpo espiritual" corresponda muito bem aos relatos daqueles que
se encontraram fora dos seus corpos. Em todos os casos, a
imaterialidade do corpo espiritual — a ausência de substância física

— é acentuada, bem como a ausência de limitação. Paulo diz, por
exemplo, que, enquanto o corpo físico era fraco e feio, o corpo
espiritual será forte e belo. Isso relembra um dos relatos de
experiência de quase morte, no qual o corpo espiritual parecia
inteiro e completo, ainda que o corpo físico estivesse à vista
mutilado, e um outro, em que o corpo espiritual parecia não ter
nenhuma idade, isto é, não ser limitado pelo tempo.

Platão


O filósofo Platão, que. foi um dos maiores pensadores de todos os
tempos, viveu em Atenas de 428 a 348 a.C. Deixou-nos um corpo de
pensamentos na forma de vinte e dois diálogos ou peças filosóficas,
a maioria dos quais inclui seu mestre Sócrates como principal
interlocutor, e deixou também um pequeno número de cartas.
Platão acreditava firmemente no uso da razão, da lógica e da
argumentação para se chegar à verdade e à sabedoria, mas só até
um certo ponto, pois foi também um grande visionário que sugeriu
que a verdade última só pode ser alcançada em uma experiência
quase mística de iluminação e intuição. Aceitava a existência de
planos e dimensões da realidade além do mundo físico, sensível, e
acreditava que o mundo natural só pode ser compreendido em
referência a esses outros e "superiores" planos da realidade. Em
conseqüência, interessava-se principalmente pelo componente
incorpóreo, consciente, dos homens — a alma —, e encarava o corpo
físico só como um veículo temporário da alma. Não é de
surpreender, pois, que estivesse interessado no destino da alma
depois da morte física, e muitos dos seus diálogos — especialmente
Fédon, e Górgias e A república — tratam em parte desse assunto
mesmo.

Os escritos de Platão estão repletos de descrições da morte que são
precisamente como as discutidas no capítulo precedente. Por
exemplo, Platão define a morte como a separação da parte
incorpórea da pessoa viva, a alma, da parte física, o corpo. E, o que
é mais, essa parte incorpórea do homem está sujeita a menos
limitações do que a parte física. Daí Platão indicar especificamente
que o tempo não é um elemento que vá além do reino físico,
sensível. Os outros reinos são eternos, e, na notável frase de Platão,

o que chamamos tempo não é senão o "reflexo movediço e irreal da
eternidade".

Platão discute em várias passagens como a alma que foi separada
do corpo pode se encontrar e conversar com os espíritos de outros e
ser guiada na transição da vida física para a seguinte. Menciona
como alguns podem esperar ser encontrados no momento das suas
mortes por um barco que os leve através de uma quantidade de
água para "a outra margem" da existência depois da morte. No
Fédon, tanto a composição dramática como a força dos argumentos
e palavras usados procuram convencer que o corpo é a prisão da
alma e que, correlativamente, a morte é uma fuga ou libertação
dessa prisão. Conquanto, como vimos no primeiro capítulo, Platão
formule (através de Sócrates) a visão antiga da morte como um
dormir ou um esquecer, só o faz para depois tentar demonstrar o
contrário. De acordo com Platão, a alma vem ao corpo físico de um
reino superior e divino do ser. Para ele é o nascimento que é o
dormir e o esquecer, uma vez que a alma, ao ser nascida no corpo,
vai de um estado de maior consciência para um bem menos
consciente, e nesse meio tempo esquece a verdade que sabia no
estado anterior fora do corpo. A morte, por implicação, é um
despertar e um relembrar. Platão observa que a alma que com a
morte foi separada do corpo pode pensar e raciocinar ainda mais
claramente do que antes, e que pode mais facilmente reconhecer as
coisas na sua verdadeira natureza. Além disso, logo depois da
morte depara-se com um "julgamento", em que um ser divino exibe
diante da alma todas as coisas — tanto boas quanto más — que ela
fez durante a sua vida, e faz com que a alma as encare.

No livro X de A república ocorre o que é talvez a mais notável
similaridade. Lá, Platão relata o mito de Er, um soldado grego. Er
partiu para uma batalha na qual muitos gregos foram mortos, e,
quando seus compatriotas foram recolher os corpos dos seus mortos
de guerra, o corpo de Er estava entre eles. Jazia, ao lado de todos os
outros, sobre a pira funerária para ser incinerado. Depois de algum
tempo seu corpo reviveu e Er descreveu o que tinha visto em sua
viagem ao reino do além. Primeiro de tudo, conta Er, sua alma saiu


do seu corpo e reuniu-se a um grupo de outros espíritos, e foram a
um lugar onde havia "aberturas" ou "passagens" que aparentemente
conduziam da Terra para os reinos depois da morte. Aqui as outras
almas foram detidas e julgadas por seres divinos, que podiam ver
num relance, em uma espécie de exibição, todas as coisas que a
alma tinha feito enquanto estava na vida terrena. Er, entretanto, não
foi julgado, e os seres disseram que ele deveria voltar e informar aos
homens do mundo físico a respeito de como era o outro mundo.
Depois de ter muitas outras visões, Er foi mandado de volta, mas
disse que não sabia como tinha voltado ao seu corpo físico.
Simplesmente acordou e descobriu que estava na pira funerária.
É importante ter em mente que o próprio Platão nos avisa que suas
descrições de pormenores precisos do mundo em que a alma
entrará depois da morte são "probabilidades, no melhor dos casos".
Embora ele não tenha dúvidas quanto à sobrevivência depois da
morte corporal, insiste em que tentar explicar o além enquanto
estivermos ainda na vida atual apresenta duas grandes
dificuldades. Em primeiro lugar, nossas almas estão aprisionadas
em corpos físicos, e por isso o que podem aprender e experimentar
fica limitado pelos sentidos físicos. Visão, audição, tato, paladar e
olfato enganam-nos, cada um deles à sua maneira. Nossos olhos
podem fazer com que um objeto enorme possa parecer pequeno se
estiver longe, podemos ouvir mal o que alguém nos disse, etc. De
tudo isso pode resultar sustentarmos falsas opiniões ou falsas
impressões sobre a natureza das coisas. Por isso as nossas almas não
podem ver a própria realidade até que sejam liberadas das
distrações e inexatidões dos sentidos físicos.
Em segundo lugar, Platão diz que a linguagem humana é
inadequada para expressar diretamente a realidade última. Segue-se
que nenhuma palavra humana pode mais do que indicar — por
analogia, através do mito, ou de outros modos indiretos — o caráter
verdadeiro do que jaz além do reino físico.


O livro tibetano dos mortos


Este trabalho notável é uma compilação dos ensinamentos que os
sábios do Tibete passaram de boca em boca durante muitos séculos
de pré-história. Foi finalmente escrito, aparentemente, no oitavo
século antes de Cristo, mas mesmo então ficava mantido em segredo
e escondido de estranhos.
A forma que esse livro raro assumiu foi modelada pelos muitos
usos inter-relacionados que lhe foram dados. Primeiro que tudo, os
homens sábios que o escreveram encaravam morrer como uma
habilidade, com efeito, como um jeito — algo que pode ser feito
tanto com arte como de maneira deselegante, dependendo de se ter

o conhecimento requerido para fazê-lo bem. Por isso, o livro era lido
como parte da cerimônia funerária, ou aos moribundos durante os
momentos finais de suas vidas. Pensava-se que poderia desempenhar
duas funções. A primeira, ajudar a pessoa que estava
morrendo a ter em mente a natureza de cada novo fenômeno à
medida que os ia experimentando. A segunda, ajudar os que ainda
ficavam vivos a ter pensamentos positivos e a não reter o
moribundo com o amor e as preocupações emocionais deles, de
modo que pudesse entrar nos planos depois da morte com uma
disposição adequada da mente, livre de todos os cuidados
corporais.
Para realizar essas funções, o livro contém uma longa descrição dos
vários estágios pelos quais passa a alma depois da morte física. A
correspondência entre os primeiros estágios da morte que o livro
retrata e aqueles que me foram relatados pelos que chegaram perto
da morte só pode ser designada como fantástica.
Primeiro que tudo, na narração tibetana a mente ou alma separa-se
do corpo. Algum tempo depois entra em uma "vertigem" e se
encontra em um vácuo — não um vácuo físico, mas um que é, com
efeito, sujeito aos seus próprios limites, e onde a consciência ainda
existe. Pode ouvir ruídos e sons perturbadores e alarmantes,

descritos como estourar, trovejar e assoviar como o vento, e
comumente se encontra, bem como tudo em volta, envolvida por
uma iluminação cinza e nevoenta.
Surpreende-se ao se encontrar fora do corpo físico. Vê e ouve
parentes e amigos velando seu corpo e preparando-o para o funeral,
porém, quando tenta lhes responder, nem a ouvem nem a vêem. A
pessoa não compreende que está morta, e fica confusa. Pergunta a si
mesma se está morta ou não, e, quando finalmente compreende que
sim, procura imaginar onde ir ou o que deve fazer. Um grande
pesar cai sobre ela, e fica deprimida por causa do seu estado. Por
um tempo permanece perto dos lugares que lhe eram familiares enquanto
estava na vida física.
Observa que ainda tem um corpo — chamado corpo "brilhante" —,
que não parece ser constituído por substância material. Por isso,
pode passar através de pedras, muros e mesmo montanhas, sem
encontrar nenhuma resistência. Viajar é quase instantâneo. Aonde
quer que deseje ir, chega lá em só um momento. Seus pensamentos
e percepções são menos limitados; sua mente se torna muito lúcida
e seus sentidos mais acurados e mais perfeitos e mais próximos em
natureza ao divino. Se tiver sido na vida física cega, surda ou
aleijada, surpreende-se ao descobrir que no seu corpo "brilhante"
todos os sentidos, bem como todas as capacidades do seu corpo
físico, foram restaurados e intensificados. Pode achar outros seres
no mesmo tipo de corpo, e pode encontrar uma luz, clara e pura.

Os tibetanos aconselham aos moribundos que se aproximam dessa
luz que tentem ter somente amor e compaixão para com os outros.
O livro descreve também a sensação de imensa paz e contentamento
que o moribundo experimenta, e ainda uma espécie de "espelho" no
qual toda a sua vida, todos os seus feitos, bons ou maus, são refletidos
vividamente para serem vistos tanto por ele como pelos seres
que o estão julgando. Nessa situação, não pode haver distorções;
mentir sobre a própria vida é impossível.


Em resumo, ainda que o Livro tibetano dos mortos inclua muitos
estágios posteriores da morte que nenhum dos meus pacientes foi
tão longe para experimentar, é mesmo óbvio que há uma
similaridade extraordinária entre o relato desse velho manuscrito e
os eventos que me foram narrados por americanos do século XX.

Emanuel Swedenborg

Swedenborg, que viveu de 1688 até 1772, nasceu em Estocolmo. Foi
muito conhecido nos seus dias, e deixou contribuições respeitáveis
em vários campos das ciências naturais. Seus escritos, no começo
orientados para a anatomia, fisiologia e psicologia, receberam
grande reconhecimento. Mais tarde, porém, passou por uma crise
religiosa e começou a contar experiências durante as quais
pretendia ter estado em comunicação com entidades espirituais do
além.
Seus trabalhos posteriores são férteis em descrições da vida depois
da morte. Mais uma vez, a correlação entre o que ele escreve de suas
experiências espirituais e o que relatam os que, voltaram da
experiência de quase morte é espantosa. Por exemplo, Swedenborg
descreve o que acontece quando cessam as funções corporais de
respiração e circulação:

"O homem não morre ainda, mas só fica separado da parte corporal
que lhe foi útil no mundo ( . . . ) o homem, quando morre, apenas
passa de um mundo para outro".

Declara que ele próprio passou pelos primeiros eventos da morte, e
que teve. experiências fora do seu corpo.


"Fui levado a um estado de insensibilidade quanto aos sentidos
corporais, quase a um estado de morte; porém, a vida interior com o
pensamento permaneceu íntegra, e com isso percebi e retive na
memória as coisas que ocorreram aos que são ressuscitados dos
mortos. ( . . . ) Especialmente me foi dado perceber ( . . . ) que
havia um puxar e ( . . . ) tirar ( . . . ) da mente, ou do meu espírito,
para fora do corpo."

Durante essa experiência, encontra seres que identifica como
"anjos". Perguntam-lhe se efetivamente está preparado para morrer.

"Esses anjos inquiriram primeiro qual era o meu pensamento, se era
como o pensamento dos que morrem, que é geralmente sobre a vida
eterna; e desejavam que eu mantivesse a mente neste pensamento."

Entretanto, a comunicação que tem lugar entre Swedenborg e os
espíritos não é da espécie terrena, humana. É, em vez disso, quase
uma transferência direta de pensamento. Por isso, não há
possibilidade de enganos:

"Pois espíritos conversam uns com os outros em uma linguagem
universal. ( . . . ) Cada homem, imediatamente depois da morte,
chega a essa linguagem universal ( . . . ) que é própria do seu
espírito. ( . . . )
"A fala de um anjo ou de um espírito com o homem é escutada tão
sonoramente quanto a fala de um homem com outros; porém, não é
ouvida pelos outros que estão próximos, mas só por ele; a razão é
que a fala do anjo ou espírito flui primeiro para o pensamento do
homem. ( . . . ) "

O recém-morto não percebe que está morto, pois ainda está em um
"corpo" que se assemelha ao corpo físico sob vários aspectos.


"O primeiro estado do homem depois da morte é semelhante ao seu
estado no mundo, pois na ocasião é como se ele ainda estivesse em
exterioridades. ( . . . ) Por isso, não tem meio de saber que já não
está no mundo. ( . . . ) Daí, depois de ter ponderado que ainda está
em um corpo, e em todos os sentidos como tinha no mundo ( . . . )
chega ao desejo de saber como são céu e inferno."

O estado espiritual, porém, é menos limitado. A percepção, o
pensamento e a memória são mais perfeitos, e tempo e espaço não
constituem mais os obstáculos que foram na vida física.

"Todas as faculdades dos espíritos. . . ficam em um estado mais
perfeito, tanto as sensações como os pensamentos e percepções."

O moribundo pode encontrar-outros espíritos falecidos que
conheceu enquanto em vida. Lá estão para ajudá-lo durante sua
passagem para o além.

"O espírito do homem que partiu recentemente ao mundo é ( . . . )
reconhecido por seus amigos, e por aqueles que conheceu no
mundo ( . . . ) são instruídos por seus amigos no que diz respeito
ao estado da vida eterna. ( . . . ) "

Sua vida anterior lhe é mostrada em uma visão, lembra todos os
detalhes dela, e não há possibilidade de mentir nem de esconder
nada.

"A memória interior ( . . . ) é tal que nela estão inscritas todas as
coisas particulares ( . . . ) que o homem em qualquer tempo pensou,
falou ou fez ( . . . ) desde a primeira infância até a extrema velhice.
O homem tem consigo a memória de todas essas coisas quando
chega a outra vida, e é sucessivamente trazido à recordação delas.
( . . . ) Tudo o que falou e fez ( . . . ) torna-se manifesto diante dos


anjos, em uma luz clara como o dia ( . . . ) e nada foi escondido no
mundo que não fique manifesto depois da morte ( . . . ) como que
visto em efígie, quando o espírito é examinado na luz do céu."

Swedenborg descreve também a "luz do Senhor" que permeia o
além, uma luz de brancura inefável que ele próprio viu de relance. É
uma luz de verdade e compreensão.

Assim, mais uma vez, nos escritos de Swedenborg, como antes na
Bíblia, nas obras de Platão e no Livro tibetano dos mortos,
achamos notáveis paralelos aos eventos das experiências de quase
morte contemporâneas. Coloca-se naturalmente, porém, a questão
de se esse paralelismo é realmente tão surpreendente. Alguém pode
sugerir, por exemplo, que os autores desses vários trabalhos podem
ter influenciado uns aos outros. Essa suposição pode ser confirmada
em alguns casos, mas não em outros. Platão admite que derivou
algumas de suas intuições em parte do misticismo do Oriente, e
pode ter sido influenciado pela mesma tradição que produziu o
Livro tibetano dos mortos. As idéias da filosofia grega, por seu
turno, influenciaram alguns dos escritores do Novo Testamento, e
assim se poderia dizer que a discussão de Paulo sobre o corpo
espiritual poderia ter suas raízes em Platão.
De outro lado, na maioria dos casos não é fácil estabelecer que
tenham ocorrido essas influências. Cada autor parece acrescentar
um novo detalhe interessante, que também ocorre nas minhas
entrevistas, e que no entanto não poderia ter obtido de autores
anteriores. Swedenborg lia a Bíblia e estava familiarizado com os
escritos de Platão. Entretanto, alude várias vezes ao fato de que
alguém que acaba de morrer não percebe que está morto durante
algum tempo. Esse fato, que aparece repetidamente nas narrativas
daqueles que estiveram muito próximo da morte, não está aparentemente
mencionado nem na Bíblia nem em Platão. E, no entanto, é
fato salientado no Livro tibetano dos mortos, obra que


Swedenborg não poderia ter lido. Com efeito, não foi traduzida
senão em 1927.
Será possível que as experiências de quase morte tenham sido
influenciadas por obras tais como as que acabei de discutir? Todas
as pessoas com quem conversei tinham tido algum contato com a
Bíblia antes de suas experiências de quase morte, e duas ou três
sabiam algo sobre as idéias de Platão. De outro lado, nenhuma sabia
da existência de livros esotéricos como os de Swedenborg ou o
Livro tibetano dos mortos. Entretanto, muitos detalhes que não
aparecem nem na Bíblia nem em Platão aparecem continuamente
nos relatos que coletei, e esses detalhes correspondem exatamente a
fenômenos e eventos mencionados nas fontes raras.
É preciso admitir que a existência de semelhanças e paralelos entre
os escritos de pensadores antigos e os relatos de americanos
modernos que sobreviveram a experiências de quase morte
permanece um fato notável e, até agora, definitivamente
inexplicável. Como é que, poderíamos perguntar a nós mesmos,
pode haver tal concordância entre a sabedoria dos antigos tibetanos,
a teologia e as visões de Paulo, as estranhas intuições e mitos de
Platão, e as revelações de Swedenborg, tanto entre si como com as
narrativas de indivíduos contemporâneos, que estiveram mais
próximos do que ninguém vivo do estado de morte?

IV
Perguntas


A esta altura, muitas dúvidas e objeções terão ocorrido ao leitor.
Durante os anos em que tenho feito palestras, tanto em particular



como em público, sobre o assunto, muitas perguntas me têm sido
feitas. Em geral, a tendência é aparecerem perguntas sobre as mesmas
coisas na maioria das ocasiões, e por isso foi possível elaborar
uma lista das perguntas que me foram feitas com mais freqüência.
Neste capítulo e no seguinte pretendo me ocupar delas.

Você não está inventando isso tudo?

Não. Não estou. Quero muito seguir carreira ensinando psiquiatria
e filosofia da medicina, e tentar perpetrar uma fraude dificilmente
me ajudaria nesse objetivo.
Além disso, a minha experiência indica que quem quer que seja que
faça um inquérito diligente e com simpatia entre suas próprias
relações, amizades e parentes sobre a ocorrência de tais experiências
terá logo as suas dúvidas dissolvidas.

Mas você não está sendo exagerado? Afinal, essas experiências
são mesmo comuns?

Sou o primeiro a admitir que, devido à natureza necessariamente
limitada da minha amostra de casos, não posso dar uma estimativa
numericamente significativa da incidência ou prevalência do
fenômeno. Entretanto, estou disposto a dizer o seguinte: a ocorrência
dessas experiências é bem mais comum do que quem não as
tenha estudado pode supor. Fiz muitas conferências públicas sobre

o assunto, para grupos de diversos tipos e tamanhos, e não houve
nunca ocasião em que não surgisse alguém depois com um caso
pessoal, e mesmo, em certas ocasiões, o narrasse publicamente.
Naturalmente, sempre se pode dizer (com certeza!) que alguém com
uma experiência assim viria, com toda a probabilidade, a uma
conferência sobre o assunto. Não obstante, em muitos dos casos que
encontrei, a pessoa em questão não veio à conferência por causa do
assunto. Por exemplo, recentemente me dirigi a um grupo de trinta
pessoas. Duas delas tinham passado por experiências de quase

morte, e ambas estavam lá só porque pertenciam ao grupo.
Nenhuma das duas sabia com antecedência qual era o assunto.

Se as experiências de quase morte são tão comuns como diz
você, por que ê que o fato não é mais conhecido?

Parece que há várias razões pelas quais isso acontece. A primeira, e
principal, é o fato de que o caráter do nosso tempo é, em geral,
decididamente contra a discussão da possibilidade de sobrevivência
depois da morte corporal. Vivemos em uma época na qual a ciência
'e a tecnologia deram passos enormes na compreensão e conquista
da natureza. Falar de vida depois da morte parece um anacronismo
para muitos, que talvez achem que a idéia pertence mais ao nosso
passado "supersticioso" do que ao nosso presente "científico". Em
conseqüência, pessoas que passam por experiências que estão fora
do reino da ciência, tal como o entendemos agora, são
ridicularizadas. Sabendo dessas atitudes, as pessoas que têm
experiências transcendentais são naturalmente relutantes, em geral,
em narrá-las de maneira muito aberta. Com efeito, estou convencido
de que há uma enorme massa de material escondido nas mentes das
pessoas que têm tais experiências, mas que, de medo de serem
consideradas "malucas" ou "demasiado imaginativas", nunca as
contaram a mais do que um ou dois amigos ou parentes chegados.
Além disso, a obscuridade pública geral sobre a questão dos
encontros quase morte parece derivar em parte de um fenômeno
psicológico comum envolvendo atenção. Muito do que se ouve ou
vê todos os dias passa despercebido pelas nossas mentes
conscientes. Se a nossa atenção for atraída para alguma coisa de
maneira dramática, então a partir daí passamos a notá-la. Muitas
pessoas já tiveram a experiência de aprender o significado de uma
nova palavra e depois vê-la em tudo o que apanham para ler
durante alguns dias. A explicação não é que a palavra tenha
acabado de pegar na linguagem e esteja aparecendo em toda parte.


Ao contrário, é que a palavra sempre estava nas coisas que as
pessoas liam, mas, não conhecendo o significado, elas em geral
passavam por cima dela sem ter consciência disso.
A mesma coisa aconteceu em uma conferência que fiz recentemente.
Quando me dispus a responder a perguntas do auditório, um
médico que fez a primeira pergunta disse: "Faz muito tempo que
estou praticando medicina. Se essas experiências são tão comuns
como o senhor diz, por que nunca ouvi falar delas?" Sabendo que
haveria provavelmente alguém que já tivesse encontrado um ou
dois casos, devolvi a pergunta à audiência. Perguntei: "Alguém aqui
já ouviu alguma coisa como o que contei?" Nesse momento a esposa
do médico levantou a mão e contou a história de um amigo íntimo
do casal.
Para dar outro exemplo, um médico que eu conheço tomou
conhecimento de experiências desse tipo lendo um velho artigo de
jornal a respeito de uma conferência que fiz. No dia seguinte, um
paciente lhe fez, por iniciativa própria, um relato de uma
experiência muito semelhante. O médico tomou o cuidado de verificar
que o paciente não poderia ter ouvido falar nem lido acerca
dos meus estudos. Com efeito, o paciente só tinha resolvido revelar
sua história porque estava confuso e algo alarmado pelo que tinha
acontecido e estava querendo ouvir uma opinião médica. Pode bem
ter acontecido que em ambos os casos os médicos tenham até
escutado alguma coisa antes, mas, pensando que se tratasse de
curiosidades individuais em vez de fenômeno muito difundido, não
tenham prestado atenção a ela.
Finalmente, há um fator adicional, no caso de médicos, que pode
ajudar a explicar por que tantos deles parecem desatentos para o
fenômeno de quase morte, quando se poderia esperar que os
médicos, de todas as pessoas, fossem as que mais deveriam tê-lo
encontrado. No decorrer de sua formação, constantemente é
inculcado na cabeça do futuro médico que deve desconfiar do que o
paciente diz a respeito de como se sente. Ensina-se ao doutor a


prestar muita atenção nos "sinais" objetivos do processo da doença,
mas a tomar os relatos subjetivos ("sintomas") do paciente com
grano salis. É muito razoável que assim seja, porque pode-se tratar
mais facilmente do que é objetivo. Essa atitude, entretanto, tem
também o efeito de esconder as experiências de quase morte, pois
são muito poucos os médicos que têm o hábito de perguntar sobre
os sentimentos e percepções dos pacientes que ressuscitam da morte
clínica. É por causa disso que eu acho que os médicos — que em
teoria deveriam ser o grupo com maior probabilidade de descobrir
experiências de quase morte — de fato não têm maior probabilidade
de ouvir experiências de quase morte do que outras pessoas.

Você percebeu alguma diferença entre homem e mulher em
relação a este fenômeno?

Parece não haver nenhuma diferença no conteúdo ou no tipo de
experiências relatadas por homens e mulheres. Já encontrei tanto
homens como mulheres que descreveram cada um dos aspectos
comuns dos encontros quase morte que foram discutidos, e não há
nenhum elemento que pese mais ou menos no relato de mulheres
em comparação com o de homens.
Apesar disso, há diferenças entre pacientes femininos e masculinos.
No geral, os homens que tiveram experiências de quase morte são
muito mais relutantes em falar nelas do que as mulheres. Bem mais
homens do que mulheres me falaram rapidamente de suas
experiências, e depois deixaram de responder às minhas cartas ou
telefonemas quando tentei obter uma entrevista mais detalhada.
Bem mais homens do que mulheres fizeram observações tais como
"tentei esquecer", "tentei fazer como se nada tivesse acontecido",
freqüentemente aludindo ao medo do ridículo ou sugerindo que as
emoções da experiência tinham sido demasiado perturbadoras para
que estivessem dispostos a relembrá-las.


Embora não possa oferecer nenhuma explicação sobre por que isso
acontece, aparentemente não estou sozinho em tê-lo notado. O Dr.
Russell Moores, conhecido pesquisador em parapsicologia, me disse
que ele e outros observaram a mesma coisa. A proporção entre
homens e mulheres que o procuram para relatar experiências
parapsicológicas é de um para três.
Outro fato interessante é que um número algo maior do que seria de
se esperar ocorre durante a gravidez. Mais uma vez, não sei dizer
por que isso acontece. Talvez seja só porque a própria gravidez é em
si mesma um estado fisiológico comportando mais riscos, suscetível
de muitas complicações médicas em potencial. Associado ao fato de
que só as mulheres ficam grávidas, e de que as mulheres são menos
reticentes ao falar do que os homens, isso pode ajudar a explicar a
freqüência das experiências que ocorrem durante a gravidez.

Como é que você sabe que todas essas pessoas não estão
mentindo?

É bastante fácil para as pessoas que não ouviram nem observaram
quando outras relataram suas experiências de quase morte entreter
intelectualmente a hipótese de que essas histórias são mentiras.
Encontro-me, porém, em uma posição única. Testemunhei adultos
maduros, emocionalmente estáveis — tanto homens como mulheres
—, perdendo a compostura e chorando enquanto me contavam
eventos que tinham acontecido até três décadas antes. Percebi nas
suas vozes sinceridade, calor e sentimento que não podem ser
facilmente transmitidos em uma narrativa escrita, por isso, para
mim, de um modo que é infelizmente impossível que muitos outros
partilhem, aceitar a noção de que esses relatos possam ser invenções
é completamente inadmissível.
Em acréscimo ao peso que a minha opinião possa ter, há algumas
fortes considerações que deveriam ser decisivas contra a hipótese da
invenção. A mais óbvia é a dificuldade em explicar a semelhança de


tantos relatos. Como é que acontece que tantas pessoas contem a
mesma mentira durante oito anos? Teoricamente, a conspiração é
uma possibilidade que não pode ser eliminada. É certamente
possível conceber que uma simpática velhinha da parte ocidental da
Carolina do Norte, um estudante de medicina de Nova Jersey, um
veterinário da Geórgia e muitos outros tenham se reunido vários
anos atrás e conspirado para elaborar esta fraude contra mim. Não
considero, entretanto, que isso seja algo muito provável.

Se não estão mentindo abertamente, talvez estejam distorcendo
os jatos de maneira mais sutil. Não é possível que com o
passar dos anos tenham elaborado suas histórias?

Esta pergunta alude ao fenômeno psicológico muito conhecido no
qual uma pessoa pode começar com o relato bastante simples de
uma experiência ou de um caso e depois de um certo período de
tempo desenvolvê-lo em uma narrativa trabalhada. Em cada relato
adiciona um pormenor sutil, e o próprio narrador acaba por
acreditar, ele próprio, no que diz, até que no fim a história fica tão
aumentada que quase não tem semelhança com o original.

Não creio que esse mecanismo tenha operado em grau significativo
nos casos que estudei. Em primeiro lugar, o relato das pessoas que
cheguei a entrevistar logo depois de suas experiências — em alguns
casos, quando ainda estavam no hospital em convalescença — são
do mesmo tipo que o das pessoas que relembraram experiências
ocorridas há décadas. Além disso, em uns poucos casos, pessoas
que entrevistei fizeram por escrito descrições de suas experiências
logo depois que tinham acontecido, e leram para mim essas notas
durante a entrevista. Mais uma vez, essas descrições eram do
mesmo tipo que as experiências que foram contadas de memória
depois do lapso de anos. Há também o fato de que com freqüência
fui só a primeira ou segunda pessoa a quem a experiência foi relatada,
e ainda assim com grande relutância, mesmo nos casos em


que a experiência tinha acontecido anos antes. Embora tenha havido
pouca ou nenhuma oportunidade de elaboração nesses casos, esses
relatos, mais uma vez, não são, enquanto grupo, diferentes dos
relatos que foram repetidos mais vezes durante um período de
anos. Finalmente, é bem possível que, em muitos casos, o oposto de
uma elaboração tenha ocorrido. O que os psiquiatras chamam
"supressão" é o mecanismo mental pelo qual é feito um esforço
consciente para controlar ou eliminar memórias, sentimentos ou
pensamentos indesejáveis. Em numerosas ocasiões, no decorrer de
entrevistas, pessoas fizeram observações que são fortemente
indicativas de que tenha havido supressão. Por exemplo, uma
mulher me contou uma experiência muito elaborada que ocorreu
durante sua "morte". Disse: "Sinto que há mais do que eu contei,
mas não consigo de modo algum lembrar. Tentei suprimir isso da
memória porque eu sabia que de qualquer modo as pessoas não
iriam me acreditar". Um homem que sofreu uma parada cardíaca
durante uma operação por causa dos graves ferimentos que recebeu
no Vietnam contou sua dificuldade em tratar emocionalmente suas
experiências fora do corpo. "Eu me engasgo ainda hoje só de tentar
falar sobre isso. . . Acho que há muito que não lembro. Tentei
esquecer." Em resumo, parece que se pode argumentar com
bastante certeza que a tendência a aumentar histórias não foi um
fator significante nesses casos.

Essas pessoas professavam alguma religião antes de suas
experiências? Se assim for, não foram suas experiências
moldadas pelas suas crenças e passado religiosos?

De algum modo parecem ser. Como dito antes, embora a descrição
do ser de luz seja invariável, a identidade que lhe é atribuída varia,
aparentemente, em função do passado religioso individual. Durante
a minha pesquisa, entretanto, não ouvi uma só referência ao céu ou
ao inferno, nem a nada que se assemelhe ao quadro costumeiro com


que somos postos em contato em nossa sociedade. Na verdade,
muitas pessoas acentuaram o quanto suas experiências foram
dessemelhantes ao que tinham sido levadas a esperar no decurso de
sua instrução religiosa. Uma mulher que "morreu" relata: "Sempre
ouvi dizer que quando se morre a gente vê o céu e o inferno, mas
não vi nenhum dos dois". Outra senhora que teve uma experiência
fora do corpo depois de graves ferimentos diz: "A coisa estranha foi
que sempre me ensinaram, na minha educação religiosa, que no
minuto em que a gente morre se encontra nos portões celestes. Mas
lá estava eu planando sobre meu próprio corpo físico, e isso era
tudo!" Além disso, em alguns casos os relatos vieram de pessoas
sem qualquer crença ou educação religiosa anterior, e as descrições
que fazem não diferem em conteúdo das de outras pessoas que
tinham fortes convicções religiosas. Em outros poucos casos,
pessoas que tinham tido contato com doutrinas religiosas, mas que
as tinham rejeitado, adquiriram sentimentos religiosos de uma
profundidade nova depois da experiência. Outros dizem que,
embora tenham lido escritos religiosos, tais como a Bíblia, nunca
realmente entenderam certas coisas que tinham lido até a
experiência de quase morte.

Qual a relação, se há alguma, entre as experiências estudadas
e a possibilidade de reencarnação?

Nenhum dos casos que examinei é de alguma forma indicativo de
que ocorra reencarnação. Entretanto, é importante ter em mente que
nenhum deles elimina a possibilidade de reencarnação. Se a
reencarnação ocorre, parece provável que exista um interlúdio em
algum outro reino entre o tempo de separação do velho corpo e o de
entrada no novo. De qualquer modo, se é assim, a técnica de
entrevistar as pessoas que voltaram da proximidade da morte não
seria o melhor modo de estudar a reencarnação.


Outros métodos podem e têm sido experimentados no estudo da
reencarnação. Por exemplo, alguns têm tentado a técnica de
"regressão até uma idade longínqua". O sujeito é hipnotizado e lhe é
feita a sugestão de que ele recue ou volte mentalmente a etapas
sucessivamente anteriores de sua vida. Quando ele alcança o tempo
das mais antigas lembranças que consegue ter, diz-se a ele que tente
voltar ainda mais longe!

Nesse ponto muitas pessoas começam a contar histórias complexas
sobre vidas anteriores em tempos atrás e lugares distantes. Em
alguns casos essas histórias podem ser verificadas com notável
exatidão. Isso tem acontecido mesmo quando pode ser assegurado
que o paciente não poderia ter sabido de nenhuma maneira normal
sobre os eventos, pessoas e lugares que descreve com tanta
exatidão. O caso de Bridey Murphy é o mais famoso, mas há muitos
outros, alguns ainda mais impressionantes e mais bem
documentados, que não são tão amplamente conhecidos. Aos
leitores que desejem continuar a obter informações sobre essa questão,
o excelente estudo do Dr. Ian Stevenson, Vinte casos que
sugerem reencarnação, é indicado. Vale também a pena notar que

o Livro tibetano dos mortos, que tão acuradamente relata os
estágios correspondentes aos encontros quase morte, diz que a
reencarnação ocorre efetivamente depois de um ponto posterior,
depois dos eventos que foram relatados pelos meus entrevistados.
Você conhece casos de outras culturas?

Não. Não conheço. Com efeito, uma das muitas razões pelas quais
digo que o meu estudo não é "científico" é que o grupo de
indivíduos que entrevistei não é um grupo randômico de seres
humanos. Gostaria muito de ouvir acerca de experiências de quase
morte ocorridas com esquimós, índios kwakiult, navajos, africanos
watusi, etc. Entretanto, devido a limitações geográficas e outras,
não tive ocasião de localizar nenhum deles.


Existem exemplos históricos do fenômeno quase morte?

Tanto quanto sei, não há nenhum. Porém, como estive totalmente
ocupado com casos contemporâneos, simplesmente não tive tempo
de pesquisar adequadamente a questão. Por isso não me
surpreenderia encontrar relatos assim que tenham sido feitos no
passado. De outro lado, suspeito muito que experiências de quase
morte tenham sido enormemente mais comuns nas últimas décadas
do que em períodos anteriores. A razão para isso é simplesmente
que só em tempos muito recentes passou a existir uma tecnologia
avançada de ressurreição. Muitas das pessoas que têm sido trazidas
de volta na nossa era não teriam sobrevivido anos antes. As injeções
de adrenalina no coração, o coração artificial e o pulmão artificial
são exemplos desses progressos médicos.

Você investigou a história clínica dessas pessoas?

Tanto quanto possível, investiguei. Nos casos em que fui convidado
a pesquisar, os registros médicos confirmavam as afirmações das
pessoas em questão. Em alguns casos, devido à passagem do tempo
e/ou morte das pessoas que fizeram a ressurreição, não havia
registros disponíveis. Os relatos para os quais não há registros
confirmadores não são diferentes dos casos em que há registros
disponíveis. Em muitos casos, em que não pude obter as fichas
médicas, procurei o testemunho de outras pessoas — amigos,
médicos e parentes do informante — para confirmar a ocorrência do
evento quase morte.

Ouvi dizer que depois de cinco minutos é impossível a
ressurreição, e no entanto você diz que alguns dos seus casos
estiveram "mortos" até por vinte minutos. Como isso é
possível?

A maioria dos números e quantidades que se ouve citar na prática
médica são médias que não devem ser tomadas como números


absolutos. O número "cinco minutos" que se ouve dizer com tanta
freqüência é uma média. É uma regra clínica prática não tentar a
ressurreição depois de cinco minutos, porque, na maioria dos casos,
depois desse tempo pode ter ocorrido uma lesão cerebral devido à
falta de oxigênio. Entretanto, como é apenas uma média, é de se
esperar que os casos individuais caiam dos dois lados. Já encontrei
mesmo casos em que a ressurreição ocorreu depois de vinte
minutos sem que houvesse evidência de lesão cerebral.

Essas pessoas estavam mortas mesmo?

Uma das principais razões pelas quais esta pergunta é tão difícil de
responder e confunde tanto é em parte o problema semântico
implicado no significado da palavra "morte". Como a recente
controvérsia que a questão do transplante de órgãos provocou
revela, a definição de "morte" não é uma questão de modo algum
resolvida, mesmo entre os profissionais no campo da medicina.
Critérios de "morte" variam não só entre leigos e médicos, mas
também de médico para médico e de hospital para hospital. Assim,
a resposta a essa pergunta depende do que se quer significar com a
palavra "morte". Cabe examinar, uma a uma, três definições, e pode
ser proveitoso comentá-las aqui.

1. "Morte" como ausência de sinais vitais clinicamente detectáveis.
Alguns estarão dispostos a dizer que uma pessoa está "morta" se
seu coração parar de bater, se ela parar de respirar por um longo
período de tempo, se sua pressão sanguínea cair tão baixo que não
possa mais ser medida, se suas pupilas se dilatarem, se a
temperatura do corpo cair, etc. Essa é a definição clínica, e tem sido
empregada há séculos tanto por leigos como por médicos. Com
efeito, a maioria das pessoas que foram declaradas mortas foram
assim consideradas na base desse critério.


Não há nenhuma dúvida de que esse padrão clínico foi encontrado
em muitos casos que estudei. Tanto o testemunho dos médicos
como a prova dos registros médicos confirmam adequadamente o
argumento de que ocorreram "mortes" neste sentido.


2."Morte" como ausência de atividade de ondas cerebrais.
O avanço da tecnologia acarretou o desenvolvimento de técnicas
mais sensíveis para detectar processos biológicos, mesmo aqueles
que não podem ser observados a olho nu. O eletrencefalógrafo
(EEG) é um aparelho que amplia e registra os minúsculos potenciais
elétricos do cérebro. Recentemente, a tendência dominante tem sido
basear a verificação de morte "real" na ausência de atividade elétrica


no cérebro, como é determinada pela presença de traços "retos" no
EEG.
Obviamente, em todos os casos de ressurreição com que tratei,


havia uma grave emergência clínica. Não havia tempo de instalar
um EEG; OS clínicos estavam corretamente preocupados só com
trazer o paciente de volta. Por isso alguns podem dizer que
nenhuma dessas pessoas pode ser considerada como tendo estado
"morta".
Suponha por um momento, entretanto, que tivessem sido obtidas
leituras de EEG "retos" em uma grande porcentagem de pessoas que
se supunha mortas e que foram então ressuscitadas. Acrescentaria
este fato muita coisa? Penso que não, por três razões.
Primeira: as tentativas de ressurreição são sempre emergências que
duram no mais tardar cerca de trinta minutos. Instalar um aparelho
de EEG é um trabalho técnico bem complicado, e é comum que um
técnico bastante experiente tenha de trabalhar algum tempo até
obter leituras corretas, mesmo em condições ótimas. Em, uma
emergência, com toda a confusão que a acompanha, haveria
provavelmente uma probabilidade aumentada de enganos. Por isso,
mesmo que se pudesse apresentar um EEG de traços retos de uma



pessoa que relata uma experiência de quase morta, ainda seria
possível a um crítico dizer — com justiça — que a leitura poderia
não ter sido correta.
Segunda: mesmo esse maravilhoso aparelho não permite,
corretamente instalado e ajustado, determinar infalivelmente se é
possível a ressurreição em um dado caso. Traços retos de EEG
foram obtidos de pessoas que a seguir foram ressuscitadas. Doses
excessivas de drogas que deprimem o sistema nervoso central, bem
como a hipotermia (baixa da temperatura do corpo), podem ambas
ter como resultado esse fenômeno.
Terceira: mesmo que eu obtivesse um caso em que pudesse ser
comprovado que o aparelho estava corretamente instalado e
aferido, ainda assim haveria problemas. Alguém poderia dizer que
não há nenhuma prova de que a experiência de quase morte
relatada tenha ocorrido durante o período em que os traços do EEG
eram retos, mas talvez antes ou depois. Concluo, pois, que o EEG
não é de muita valia no estágio atual das investigações.

3. "Morte" como uma perda irreversível das funções vitais.
Outros adotarão uma definição ainda mais rigorosa, mantendo que
não se pode dizer que uma pessoa tenha jamais estado "morta", não
importa por quanto tempo os sinais vitais tenham estado ausentes,
nem por quanto tempo seu EEG esteve reto, se foi subseqüentemente
ressuscitada. Em outras palavras, a "morte" é definida
como o estado do corpo do qual é impossível voltar à vida. É óbvio
que, por essa definição, nenhum dos meus casos seria incluído, pois
todos eles supõem a ressurreição.
Vimos, pois, que a resposta a esta pergunta depende do que se quer
dizer com "morte". É preciso lembrar que embora isso seja em parte
uma questão de semântica, é não obstante uma questão importante,
porque todas as três definições incorporam discriminações


importantes. Com efeito, eu tendo a concordar em grande parte com
a terceira e mais rigorosa definição. Mesmo nos casos em que o
coração deixou de bater por longos períodos, os tecidos do corpo,
particularmente o cérebro, devem ter de algum modo sido supridos
de oxigênio e nutrientes. Não é necessário pressupor que em
qualquer desses casos tenha sido violada alguma lei da biologia ou
da fisiologia. Para que a ressurreição fosse possível, pelo menos um
certo grau mínimo residual de atividade biológica deveria estar
ocorrendo nas células do corpo, ainda que os sinais dessa atividade
não pudessem ser clinicamente percebidos pelos métodos
empregados. Entretanto, parece que é impossível atualmente
determinar exatamente o ponto á qual não se volta. Pode ser que
existam variações individuais, e que não seja exatamente um ponto,
mas a amplitude mutável de um contínuo. Com efeito, há umas
poucas décadas a maioria das pessoas com quem conversei não
poderia ter sido trazida de volta. No futuro, poderão se tornar
disponíveis técnicas que nos permitirão reviver pessoas que hoje
não podem ser salvas.
Seja-nos, pois, permitido formular a hipótese de que a morte é a
separação da mente e do corpo, e que a mente, neste ponto, passe a
outros reinos da existência. Seguir-se-á que existe algum mecanismo
pelo qual a alma ou a mente seja libertada, quando da morte. Não
há nenhuma base para supor, então, que esse mecanismo trabalhe
exatamente de acordo com o que nestes nossos tempos tomamos,
algo arbitrariamente, como o ponto do qual não há volta. Nem será
preciso pressupor que trabalhe perfeitamente em todos os casos
mais do que temos de pressupor que qualquer sistema corporal
trabalhe sempre perfeitamente. Talvez esse mecanismo possa
algumas vezes começar a funcionar até antes da crise fisiológica,
permitindo a algumas pessoas relances de outras realidades. Isso
ajudaria a explicar os relatos de pessoas que tiveram uma
recapitulação de suas vidas, experiências fora do corpo, etc, quando


tinham certeza de que iam morrer, antes mesmo que ocorresse
qualquer injúria.
Tudo o que, no fim das contas, quero afirmar é o seguinte: qualquer
que seja o ponto em que se diz ser a morte irreversível — quer no
passado, presente ou futuro —, aqueles com quem falei estiveram
mais perto dela do que a vasta maioria dos outros seres humanos.
Só por essa razão, eu estaria disposto a ouvir o que eles têm a dizer.

Em última análise, é, pois, sem sentido especular sobre definições
exatas da "morte" — irreversível ou não — no contexto desta
discussão. O que as pessoas que levantam essas objeções à
experiência de quase morte têm em mente é alguma coisa de mais
fundamental. Raciocinam que, enquanto houver possibilidade de
que haja qualquer atividade biológica residual no corpo, então é
essa atividade que deve ter causado, e por isso explica, a
experiência.
Bem, concordei antes que deve ter havido alguma função biológica
residual em todos os casos. Assim, a questão de saber se ocorreu
efetivamente uma morte "real" fica reduzida ao problema mais
elementar de qual a função biológica que pode explicar a ocorrência
dessas "experiências". Em outras palavras:

Não são possíveis outras explicações (além da sobrevivência à
morte do corpo)?

Esse é o assunto do próximo capítulo.


V
Explicações


Existem, naturalmente, outras "explicações" para o fenômeno de
quase morte. Com efeito, de um ponto de vista puramente
filosófico, uma infinidade de hipóteses pode ser construída para
explicar qualquer experiência, observação ou fato. Em outras
palavras, é sempre possível continuar a elaborar sempre novas
explicações teoricamente possíveis para qualquer coisa que se deseje
explicar. Acontece o mesmo no caso das experiências de quase
morte; ocorrem todos os tipos de explicações possíveis.
Dos muitos tipos de explicação que podem ser teoricamente
propostos, há alguns que têm sido freqüentemente sugeridos pelos
auditórios a que me dirigi. Em conseqüência, tratarei agora dessas
explicações mais comuns, e de uma outra que, embora não me tenha
sido nunca proposta, bem poderia ter sido. Dividi essas explicações
mais ou menos arbitrariamente em três tipos: sobrenaturais,
naturais (científicas) e psicológicas.

Explicações sobrenaturais

Ocasionalmente, alguém em um dos meus auditórios propôs
explicações demoníacas para as experiências de quase morte. Como
resposta a tais explicações, só posso dizer isto: me parece que a
melhor maneira de distinguir entre experiências inspiradas por
Deus e experiências inspiradas pelo Diabo seria observar o que a
pessoa implicada faz e diz depois de sua experiência. Deus,
suponho, tentará obter, daqueles a quem aparece, que sejam


capazes de amor e perdão. O Diabo, presumivelmente, dirá a seus
servidores que sigam uma trajetória de ódio e destruição. As
pessoas com que tratei, manifestamente, voltaram com uma
renovada decisão de seguir o primeiro caminho e desaconselhar o
segundo.

Explicações naturais (científicas)

1. A explicação farmacológica
Alguns sugerem que as experiências de quase morte são causadas
pelas drogas terapêuticas administradas à pessoa no momento de
sua crise. A plausibilidade superficial dessa opinião advém de
vários fatos. Por exemplo, a maioria dos cientistas, tanto médicos
como leigos, geralmente concorda em que certas drogas causam
experiências e estados mentais ilusórios e alucinatórios. Além disso,
estamos agora passando por uma era em que há um grande
interesse pelo problema do abuso de drogas, e muito da atenção
pública se focaliza no uso ilícito de drogas tais como LSD, maconha,
etc, que parecem com efeito causar tais episódios alucinatórios.
Finalmente, há o fato de que mesmo muitas drogas medicamente
aceitas estão associadas com vários efeitos sobre a mente que
podem ser parecidos com os eventos da experiência de morrer. Por
exemplo, a droga ketamina (ou cicloexanoma) é um anestésico
intravenoso com efeitos colaterais que são semelhantes em alguns
aspectos com as experiências fora do corpo. É classificado como um
anestésico "dis-sociativo", porque durante a indução o paciente
pode se tornar insensível não só à dor mas também ao ambiente


como um todo. Sente-se "dissociado" de seu ambiente, inclusive de
partes de seu próprio corpo — suas pernas, braços, etc. Algum
tempo depois da recuperação, pode ainda sofrer perturbações
psicológicas, inclusive alucinações e sonhos extremamente vívidos.
(Observar que algumas pessoas usaram esta mesma palavra —
"dissociação" — para caracterizar suas sensações enquanto no
estado fora do corpo.)
Além disso, eu próprio coletei alguns relatos de pessoas que,
enquanto anestesiadas, tiveram o que identificaram claramente
como visões da morte de tipo alucinatório. Deixem-me dar um
exemplo.

"Aconteceu há algum tempo, no começo da minha adolescência. Fui
ao consultório do dentista para fazer uma obturação e fui
anestesiada com gás. Eu estava com medo de inspirar porque
achava que não ia acordar. Quando a anestesia começou a fazer
efeito, senti que estava dando voltas em uma espiral. Não era como
se eu estivesse girando, mas como se a cadeira do dentista estivesse
subindo em espiral, cada vez mais alto.

"Tudo estava muito claro e brilhante e, quando cheguei no topo da
espiral, anjos desceram para me encontrar e me levar para o céu.
Uso o plural, 'anjos', porque, ainda que tudo tenha sido um tanto
vago, tenho certeza de que havia mais de um. Mas não sei dizer
quantos.
"Em dado momento o dentista e a enfermeira estavam conversando
sobre uma terceira pessoa, e eu escutava, mas quando eles
acabavam uma frase eu já não lembrava como tinha começado. Mas
sabia que eles estavam falando, pois as palavras ficavam ecoando
em volta. Era um eco que parecia ir se afastando, cada vez mais
longe, como nas montanhas. Lembro mesmo que eu parecia estar
por cima, porque sentia que estava bem alto, indo para o céu.


"Isto é tudo que lembro, exceto que não tinha medo, nem fiquei em
pânico ao pensar que estava morrendo. Fiquei muito surpresa
depois, com o fato de que pensar na morte não me tivesse
perturbado, mas finalmente compreendi que no meu estado de
anestesiada nada me incomodava. Foi tudo até que bem feliz, pois
estou certa de que o gás me deixou completamente despreocupada.
Ponho a culpa no gás. Foi uma coisa muito vaga. Não fiquei
remoendo depois."

É preciso observar que existem alguns pontos de similaridade entre
essa experiência e outras que foram tomadas como reais por aqueles
a quem aconteceram. Esta mulher descreve uma luz clara brilhante,

o encontro com outros que lá estavam para levá-la ao outro lado, e
falta de preocupação quanto a estar morta. Há também dois
aspectos que sugerem uma experiência fora do corpo: a impressão
dela de que ouvia as vozes do dentista e da enfermeira de uma
posição acima da deles, e a sensação de "flutuar".
De outro lado, os outros detalhes dessa história são bastante
atípicos de experiências de quase morte que são relatadas como
tendo ocorrido na realidade. A luz brilhante não foi personificada e
não ocorreram sensações inefáveis de paz e felicidade. A descrição
do mundo pós-morte é muito literal e, diz ela, em concordância com
a educação religiosa que recebeu. Os seres que ela encontrou são
identificados como "anjos", e ela fala em ir para um "céu" que está
localizado na direção "para cima", para onde ela está indo. Ela nega
ter visto o próprio corpo ou ter estado em qualquer outra espécie de
corpo, e fica claro que o movimento que percebeu é o da cadeira do
dentista e não o seu próprio. A cadeira do dentista era a fonte do
movimento rotatório. Repetidamente acentua que foi uma experiência
vaga, e aparentemente não teve efeito em sua crença na vida
depois da morte. (Na verdade, ela agora tem dúvidas sobre a
sobrevivência depois da morte corporal.)


Ao comparar relatos em que a experiência é claramente atribuída a
uma droga com as experiências de quase morte que foram relatadas
como reais, vários pontos precisam ser mencionados. Em primeiro
lugar, as poucas pessoas que descreveram tais experiências de
"drogas" não são nem mais nem menos românticas, imaginativas ou
estáveis do que as pessoas que relatam experiências de quase morte.
Em segundo lugar, essas experiências induzidas por drogas são
extremamente vagas. Em terceiro lugar, as histórias variam entre si
e também notavelmente das visões de quase morte "reais". Devo
dizer que, ao escolher o exemplo específico de um caso do tipo
"anestésico", escolhi de propósito o que mais de perto se
assemelhava ao grupo de experiências "reais". Por isso, sou de
opinião que existem, em geral, diferenças muito grandes entre esses
dois tipos de experiências.
Além disso, existem muitos fatores adicionais que pesam contra a
explicação farmacológica do fenômeno de quase morte. O mais
significativo é que em muitos casos simplesmente não houve
administração de nenhuma droga antes da experiência nem, em
alguns casos, depois da experiência. De fato, muitas pessoas fizeram
questão de insistir em que a experiência claramente ocorreu antes
que fosse dado qualquer medicamento, em alguns casos muito
antes que qualquer tipo de assistência médica fosse obtida. Mesmo
nos casos em que foram administradas drogas terapêuticas mais ou
menos na ocasião do evento de quase morte, a variedade de drogas
empregadas é enorme. Vão desde substâncias como a aspirina,
passando por antibióticos, adrenalina, até anestésicos locais e
gasosos. A maioria dessas drogas não está associada com o sistema
nervoso central nem com efeitos psíquicos. Deve ser também
notado que não há diferenças entre o grupo de relatos feitos por
aqueles que não tomaram nenhuma droga e as experiências
relatadas por aqueles que sofreram medicação de vários tipos.
Finalmente, quero mencionar, sem comentários, que uma mulher
que "morreu" duas vezes, em ocasiões separadas por anos, atribuiu


a falta de uma experiência da primeira vez ao fato de que estava
anestesiada. Da segunda vez, quando não estava sob o efeito de
nenhuma droga, teve uma experiência muito complexa.
Um dos pressupostos da moderna farmacologia médica é a noção,
que também parece ter ganho aceitação entre grande massa de
leigos em nossa sociedade, de que as drogas psicoativas causam os
episódios psíquicos com os quais seu uso está associado. Esses
eventos psíquicos são, em conseqüência, considerados "irreais",
"alucinatórios", "delirantes" ou "só na mente". É preciso lembrar,
entretanto, que esse ponto de vista não é de modo algum aceito
universalmente; há um outro ponto de vista sobre a relação entre
drogas e as experiências esperadas pelo uso delas. Refiro-me ao uso
iniciatório e exploratório do que chamamos drogas "alucinógenas".
Através dos tempos os homens voltaram-se para esses compostos
psicoativos em sua tentativa de chegar a outros estados de
consciência e alcançar outros planos da" realidade. (Para uma exposição
contemporânea viva e fascinante deste lado do uso de drogas,
ver o livro recente The natural mina, de Andrew Weil, doutor em
medicina.) Assim, o uso de drogas tem sido historicamente
associado não só com a medicina e o tratamento de doenças, mas
também com a religião e com o alcançar a iluminação. Por exemplo,
no muito difundido ritual do culto do peiote encontrado entre os
índios americanos no oeste dos Estados Unidos, a planta Cactus
peiote (que contém a substância mescalina) é ingerida para se
conseguir obter visões religiosas e iluminação. Existem cultos
similares em todas as partes do mundo, e seus membros participam
da crença de que a droga que eles empregam provê um meio de
passagem para uma outra dimensão da realidade. Assumindo que
esse ponto de vista seja válido, pode-se levantar a hipótese de que o
uso de drogas seja um caminho entre os muitos que podem
conduzir à iluminação e à descoberta de outros reinos da existência.
A experiência de morrer pode, pois, ser outro desses caminhos, e
tudo isso ajudaria a explicar a semelhança das experiências induzi



das por drogas, como a citada acima, com as experiências de quase
morte.

2. Explicações fisiológicas
A fisiologia é o ramo da biologia que trata das funções das células,
órgãos e corpos inteiros dos seres vivos, e das inter-relações entre
essas funções. Uma explicação fisiológica do fenômeno de quase
morte que tenho ouvido ser freqüentemente proposta é que, uma
vez que o suprimento de oxigênio ao cérebro fica interrompido
durante a morte clínica ou outro tipo de stress corporal severo, os
fenômenos percebidos devem representar uma espécie de último
hausto compensatório do cérebro que morre.
A principal coisa errada com esta hipótese é simplesmente o
seguinte: como se pode facilmente depreender do levantamento das
experiências de morrer relatadas antes, muitas das experiências de
quase morte ocorreram antes que o referido stress fisiológico tenha
ocorrido. Com efeito, em alguns casos não houve mesmo nem
injúria física durante o encontro. No entanto, cada elemento
singular que aparece nos casos de injúria severa pode ser observado
em outros exemplos onde não houve qualquer injúria.

3. Explicações neurológicas
A neurologia é a especialidade médica que cuida das causas,
diagnóstico e tratamento de doenças do sistema nervoso (isto é, do
cérebro, espinha e nervos). Fenômenos semelhantes aos relatados
por pessoas que quase morreram aparecem também em certas
condições neurológicas. Assim, alguém pode propor explicações
neurológicas das experiências de quase morte em termos de
supostas disfunções do sistema nervoso das pessoas que estão
morrendo. Consideremos os paralelos de casos neurológicos para


dois dos mais notáveis eventos da experiência de morrer: a
"recapitulação" instantânea dos eventos da vida do moribundo e o
fenômeno estar fora do corpo.
Encontrei um paciente de uma enfermaria de neurologia de hospital
que descreveu uma forma peculiar de ataques nos quais via
flashbacks de eventos de sua vida pregressa.

"A primeira vez que aconteceu, eu estava olhando para um amigo
no outro lado do quarto. O lado direito da face dele como que
começou a ficar distorcido. De repente, houve uma intrusão na
minha consciência de cenas de coisas que tinham decorrido no
passado. Eram exatamente como tinham sido quando aconteceram
realmente — vívidas, coloridas e tridimensionais. Me senti enjoado,
e fiquei tão assustado que tentei evitar as imagens. De lá para cá,
tenho tido muitos desses ataques, e aprendi a deixar que sigam seu
curso até o fim. A comparação mais próxima que posso fazer é com
os filmes que passam na televisão no Ano Novo. Cenas de coisas
que aconteceram durante o ano são projetadas tão rapidamente, que
quando se tenta pensar sobre uma delas, já desapareceu. É assim
que acontece com esses ataques. Vejo alguma coisa e penso: 'Ah, eu
me lembro disso'. E tento estabilizá-la na minha mente, mas qual
nada, aparece imediatamente outra.
"As imagens são coisas que realmente aconteceram. Nada foi
modificado. Quando acabam, no entanto, é muito difícil lembrar
quais foram as imagens que eu vi. Algumas vezes são as mesmas
imagens, outras vezes, não. Quando aparecem eu lembro: 'Oh, estas
são as mesmas que eu já vi antes', mas quando desaparecem é
impossível lembrar quais eram. Não parecem ser eventos
particularmente significativos na minha vida. De fato, nenhum
deles é. Todos parecem ser muito triviais. Não aparecem em
nenhuma ordem, nem mesmo na ordem em que aconteceram.
Chegam como que ao acaso.


"Quando as imagens vêm, ainda posso perceber o que está
acontecendo em volta, mas a consciência fica diminuída. Não é
exata. É quase como se metade da minha mente ficasse tomada
pelas imagens, e a outra metade com o que estou fazendo. Pessoas
que já me viram durante esses ataques me dizem que duram cerca
de um minuto, mas para mim parece que foi um tempão."

Existem certas semelhanças óbvias entre esses ataques, sem dúvida
causados por um foco de irritação no cérebro, e as lembranças
panorâmicas relatadas por alguns dos meus pacientes de quase
morte. Por exemplo, os ataques deste homem tomam a forma de
imagens visuais que eram incrivelmente vívidas e também tridimensionais.
Além disso, as imagens parece que vinham a ele de
forma totalmente independente de qualquer evocação voluntária.
Relata também que as imagens chegavam e iam embora com grande
rapidez e acentua a distorção do sentido do tempo que acompanhava
os ataques.
De outro lado, há também notáveis diferenças. Diversamente das
imagens vistas nas experiências de quase morte, as cenas da
memória não ocorrem na ordem em que foram vividas, nem foram
vistas todas de uma vez, numa visão unificada. Não eram pontos
altos, nem mesmo eventos significativos de sua vida; ele acentua a
trivialidade delas. Assim, não parecem ter sido apresentadas com
propósitos de avaliação ou educativos. Enquanto muitos pacientes
de experiências de quase morte indicam que depois da
"recapitulação" podiam lembrar os eventos de suas vidas com maior
clareza e mais detalhes do que antes, este homem declara que não
podia lembrar quais eram as imagens depois dos ataques terem
passado.
As experiências fora do corpo têm uma analogia neurológica nas
assim chamadas "alucinações autoscó-picas" (ver a si mesmo), que
são assunto de uni excelente artigo do Dr. N. Lukianowicz na
revista especializada Archives o f Neurology and Psychiatry.


Nestas estranhas visões, o paciente vê uma projeção dele mesmo no
seu próprio campo visual. Esta estranha "cópia" imita as expressões
faciais e os outros movimentos corporais do original, que fica
completamente aturdido e confuso quando de repente vê uma
imagem de si próprio a certa distância, em geral bem na frente.
Embora essa experiência seja algo análoga com as visões fora do
corpo antes descritas, as diferenças são muito maiores que as
semelhanças. O fantasma autos-cópico é sempre percebido como
vivo — algumas vezes o paciente pensa que é até mais vivo e
consciente que ele próprio —, enquanto nas experiências fora do
corpo o corpo é visto como algo sem vida, como uma concha. O
sujeito autoscópico pode "ouvir" sua cópia falando com ele, dando
instruções, provocando-o, etc. Enquanto nas experiências fora do
corpo o corpo todo é visto (a menos que esteja parcialmente coberto
ou de outra forma oculto), a cópia autoscópica é bem mais
freqüentemente vista só do peito ou do pescoço para cima.
De fato, cópias autoscópicas têm muito mais aspectos em comum
com o que chamei corpo espiritual do que com o corpo físico que é
visto pela pessoa que está morrendo. Cópias autoscópicas, embora
sejam algumas vezes vistas em cor, são mais freqüentemente
descritas como transparentes, vaporosas e incolores. O paciente
pode mesmo ver sua imagem passar através de portas fechadas ou
outros obstáculos, sem dificuldade aparente.
Apresento aqui um relato de aparente alucinação autoscópica que
me foi descrita. É o único a envolver duas pessoas simultaneamente.

"Cerca das onze horas da noite, há dois anos, no verão, antes de
minha mulher e eu nos termos casado, eu a estava levando para
casa no meu carro conversível. Parei o carro na rua mal-iluminada
defronte à casa dela, e ambos ficamos estarrecidos quando, ao olhar
ao mesmo tempo para cima, vimos enormes imagens de nós
mesmos, da cintura para cima e sentados uma ao lado da outra, nas
grandes árvores que sombreavam a rua, cerca de trinta metros bem


na frente da gente. As imagens eram escuras, quase que silhuetas, e
não se podia ver através delas, mas eram, de qualquer modo,
réplicas exatas. Nenhum de nós teve dificuldade em reconhecê-las
imediatamente. Elas se moviam, mas não imitando nossos
movimentos, pois só estávamos sentados quietos olhando para elas.
Faziam coisas assim: minha imagem apanhou um livro e mostrou
algo nele à imagem da minha mulher, que se inclinou e o olhou
mais de perto.
"Sentados ali, durante algum tempo eu ia narrando a cena —
dizendo a minha mulher as coisas que eu via as imagens fazendo —
, e o que eu estava dizendo correspondia exatamente ao que ela
também estava vendo as imagens fazerem. Aí trocávamos. Ela me
contava o que estava vendo as imagens fazerem, e era exatamente o
que eu estava vendo.
"Ficamos sentados ali bastante tempo — pelo menos meia hora —,
olhando e falando acerca do que estávamos vendo. Acho que
poderíamos ter continuado a noite toda. Mas minha mulher tinha
que entrar, assim finalmente subimos juntos os degraus que levavam
à casa dela. Quando voltei, vi as imagens outra vez, e ainda
estavam lá quando dei a partida e me afastei.
"Não há nenhuma chance de que tenha sido uma espécie de reflexo
no pára-brisa porque o carro estava com a capota levantada e
estávamos olhando o tempo todo por cima do pára-brisa. Nenhum
de nós bebeu — somos abstêmios até hoje —, e isso aconteceu
muitos anos antes que tivéssemos ouvido falar em LSD OU coisa
assim. Também não estávamos cansados, ainda que fosse bem
tarde, e por isso não estávamos dormindo, nem sonhando.
Estávamos bem acordados, alerta, espantados e excitados enquanto
víamos as imagens e conversávamos sobre elas."

Concedo que as alucinações autoscópicas são, sob muitos aspectos,
como o fenômeno fora do corpo nas experiências de quase morte.
Entretanto, mesmo que só focalizássemos as semelhanças,


negligenciando completamente as diferenças, a existência de
alucinações autoscópicas não nos daria uma explicação para a ocorrência
de experiências fora do corpo. Pela simples razão de que
também não existem explicações para as alucinações autoscópicas.
Muitas explicações conflitantes têm sido propostas por diferentes
neurologistas e psiquiatras, mas ainda estão sendo debatidas, e
nenhuma teoria ganhou ainda aceitação geral. Assim, tentar
explicar todas as experiências fora do corpo como sendo alucinações
autoscópicas seria apenas substituir a perplexidade pelo enigma.
Finalmente, há um outro ponto que é relevante para a discussão das
explicações fisiológicas das experiências de quase morte. Em um
dos casos encontrei um paciente que tinha um problema
neurológico residual derivado de um quase encontro com a morte.
O problema consistia em uma ligeira deficiência causando paralisia
parcial em um pequeno grupo de músculos de um lado do corpo.
Embora eu tenha freqüentemente perguntado se havia qualquer
deficiência residual, esse foi o único exemplo que encontrei de dano
neurológico posterior a um encontro quase mortal.

Explicações psicológicas

A psicologia ainda não alcançou nada que se pareça com o grau de
rigor e precisão conseguido por algumas outras ciências nos tempos
modernos. Os psicólogos ainda estão divididos em escolas de
pensamento que contestam mutuamente pontos de vista em
conflito, abordagens metodológicas e a compreensão fundamental
da existência e da natureza da mente. As explicações psicológicas
das experiências de quase morte, em conseqüência, variam
enormemente segundo a escola de pensamento à qual o explicador
pertença. Em vez de considerar cada um dos tipos de explicação


psicológica que possa ser concebivelmente proposto, ficarei só com
alguns que tenho com mais freqüência ouvido de membros das
minhas audiências, e me deterei em um que me parece de certo
modo o mais tentador.
Já abordei anteriormente duas explicações de tipo psicológico mais
comumente propostas — as que formulam a hipótese de que pode
ter ocorrido quer a mentira consciente, quer a inconsciente
elaboração fabulosa. No presente capítulo quero considerar duas
outras.

1. Pesquisas de isolamento
Em todas as conferências públicas em que apresentei meus estudos,
ninguém nunca adiantou uma explicação das experiências de quase
morte nos termos dos resultados das pesquisas de isolamento. No
entanto, é precisamente nessa área relativamente nova e em grande
crescimento das ciências do comportamento que têm sido estudados
e produzidos, em condições de laboratório, fenômenos que mais
estreitamente se assemelham a estágios da experiência de quase
morte.

A pesquisa de isolamento é o estudo do que acontece na mente e no
corpo de uma pessoa que de um modo ou de outro fica isolada; por
exemplo, ao ser afastada de todo contato social com outros seres
humanos, ou ao ser submetida por longos períodos a uma tarefa
repetitiva e monótona.

Dados sobre situações deste tipo podem ser obtidos de várias
maneiras. Relatos escritos das experiências de exploradores
solitários dos pólos ou desertos, ou de sobreviventes de desastres e
naufrágios, contêm muita informação. Durante as últimas décadas,
pesquisadores têm tentado investigar fenômenos semelhantes em
condições de laboratório. Uma técnica muito divulgada é suspender


voluntários em um tanque de água que está com a mesma
temperatura que o corpo. Isso faz com que as sensações de peso e
temperatura sejam reduzidas ao mínimo. O voluntário tem também
os olhos vendados, as orelhas tapadas para intensificar o efeito do
tanque escuro e à prova de som. Os braços são enfiados em tubos,
para que o voluntário não possa movê-los, ficando assim privado de
muitas das sensações normais de movimento e posição.
Nestas e em outras condições de solidão, algumas pessoas têm
experimentado fenômenos psicológicos desusados, muitos dos
quais se assemelham muito aos que esbocei no segundo capítulo.
Uma mulher que passou longos períodos sozinha na desolação do
pólo norte relata uma visão panorâmica dos acontecimentos de sua
vida. Marinheiros náufragos, perdidos e solitários durante muitas
semanas em pequenos botes, descrevem alucinações nas quais estão
sendo salvos, algumas vezes por seres paranormais, como
fantasmas ou espíritos. Isso guarda certa analogia cega com o ser de
luz ou os espíritos dos mortos que muitos dos meus informantes
encontraram. Outros fenômenos do tipo quase morte que
repetidamente ocorrem nos relatos de isolamento incluem:
distorções do sentido do tempo, sensações de estar parcialmente
dissociado do corpo, resistência em voltar para a civilização ou
deixar o isolamento, e sensações de ser "uno" com o universo. Além
disso, muitos dos que estiveram isolados em naufrágios ou outros
eventos tais dizem que, depois de estar nessas condições por
algumas semanas, voltaram à civilização com uma modificação
profunda em seus valores. Podem relatar que se sentem mais
seguros interiormente. É bastante claro que essa reintegração da
personalidade é semelhante à descrita por muitos dos que voltaram
da morte.
Da mesma forma, há certos aspectos das situações dos moribundos
que são muito parecidos com experiências características dos
estados de isolamento. Os pacientes que chegam às proximidades
da morte ficam com freqüência isolados e imóveis em salas de


recuperação nos hospitais, muitas vezes em condições de luz
atenuada, som reduzido e sem visitas. Pode-se mesmo imaginar se
as modificações fisiológicas com a morte do corpo não poderiam
produzir uma espécie de isolamento radical resultante da quase
total interrupção dos impulsos sensoriais para o cérebro. Além
disso, como foi antes discutido longamente, muitos pacientes de
quase morte me contaram de sentimentos perturbadores de
isolamento, solidão, e de estarem completamente separados do
contato humano, sentimentos que os acometeram quando estiveram
fora do corpo.
Com efeito, é sem dúvida possível encontrar casos que não podem
ser nitidamente classificados, quer como experiências de quase
morte, quer como experiências de isolamento.

"Eu fiquei extremamente doente no hospital, e enquanto ficava lá
deitado apareciam cenas para eu ver, como se estivessem em uma
tela de televisão. As cenas eram de gente, e eu podia ver uma
pessoa, como se estivesse no espaço a distância, e ela começava a se
aproximar de mim, aí passava e uma outra aparecia. Eu tinha plena
consciência de que estava no hospital e que estava doente, mas
comecei a me preocupar com o que estava acontecendo. Bem,
algumas dessas pessoas eu conhecia pessoalmente — eram meus
amigos ou parentes —, mas a outras não conhecia. De repente compreendi
que todos os que eu conhecia eram pessoas que tinham
morrido."

Pode-se bem perguntar como classificar essa experiência, uma vez
que tem pontos de semelhança tanto com as experiências de quase
morte como com as de isolamento. Parece algo análoga com as
experiências de quase morte nas quais houve encontro com os espíritos
de indivíduos desaparecidos, e no entanto é diferente em não
ter ocorrido nenhum outro fenômeno de quase morte. É interessante


que, em um estudo de isolamento ou privação sensorial, o sujeito
que estava sozinho em um cubículo já por algum tempo descreveu
alucinações em que via imagens de homens famosos passando por
ele. Assim, o exemplo que acabamos de citar deve ser classificado
como uma experiência de quase morte, ou como uma experiência de
isolamento acarretada pelas condições de confinamento provocadas
pelo seu estado de saúde? Pode bem ser o caso de que não haja
nenhum critério que possa ser estabelecido para permitir a
classificação de cada uma de tais experiências em uma das duas
categorias independentes. Talvez haja sempre casos de indecisão.
Apesar dessa sobreposição, entretanto, os resultados das pesquisas
de privação sensorial não constituem uma explicação satisfatória
para as experiências de quase morte. Em primeiro lugar, os diversos
fenômenos mentais que ocorrem em condições de isolamento não
podem eles próprios ser explicados por nenhuma teoria atual.
Recorrer aos estudos de isolamento para explicar as experiências de
quase morte seria, como no caso de "explicar" as experiências fora
do corpo recorrendo às alucinações autoscópicas, meramente substituir
um mistério por outro. Pois há duas correntes de pensamento
em conflito acerca da natureza das visões que ocorrem em
condições de isolamento. Alguns sem dúvida as tomam como
"irreais" e "alucinatórias", mas, no entanto, através de toda a
história, místicos e xamãs procuraram a solidão dos desertos para
encontrar iluminação e revelação. A idéia de que um renascimento
espiritual possa ser alcançado pelo isolamento é parte integral dos
sistemas de crenças de muitas culturas e se reflete em muitas
escrituras religiosas, inclusive a Bíblia.

Embora essa idéia seja algo estranha à estrutura de crenças do
Ocidente contemporâneo, há ainda muitos defensores dela, mesmo
na nossa sociedade. Um dos pioneiros e mais influentes
pesquisadores do isolamento, Dr. John Lilly, escreveu recentemente
um livro, uma autobiografia espiritual, chamada The center o f
the cyclone. Nesse livro ele deixa claro que considera as


experiências pelas quais passou em condições de isolamento como
experiências reais de iluminação e compreensão, de modo algum
"irreais" ou "ilusórias". E também interessante notar que relata uma
experiência própria de quase morte que é muito parecida com
aquelas de que tratei e que ele coloca a sua experiência de quase
morte na mesma categoria que suas experiências de isolamento. O
isolamento pode, por isso, ser muito bem, ao lado das drogas
alucinatórias e da proximidade da morte, um dos vários caminhos
para alcançar novos reinos da consciência.

2. Sonhos, alucinações e ilusões
Talvez, de certo modo, as experiências de quase morte sejam só
sonhos que realizam desejos, fantasias ou alucinações que são
postos em ação por diferentes fatores — em um caso, drogas, em
outro, anorexia cerebral, em um terceiro, isolamento, e assim por
diante. Assim, as experiências de quase morte poderiam ser
explicadas como ilusões.
Penso que vários fatores pesam em contrário. Em primeiro lugar,
considere-se a grande semelhança do conteúdo e progressão que
encontramos entre as descrições, apesar do fato de que o que é mais
comumen-te relatado não é obviamente o que no nosso meio
cultural se imagina mais freqüentemente como o que acontece com
os mortos. Além disso, descobrimos que o quadro de eventos do
morrer que emerge desses relatos corresponde de maneira notável
ao que é pintado nas escrituras muito antigas e esotéricas
totalmente desconhecidas dos meus informantes.
Em segundo lugar, permanece o fato de que as pessoas com as quais
tenho falado não são vítimas de psicoses. Elas me deram a
impressão de ser pessoas emocionalmente estáveis, gente normal
que funciona em sociedade. Mantêm empregos e posições de impor



tância e se conduzem responsavelmente. Têm casamentos estáveis e
estão envolvidas com suas famílias e amigos. Quase ninguém com
quem conversei teve mais do que uma dessas experiências
estranhas em toda a sua vida. E, o que é ainda mais significativo,
esses entrevistados são pessoas que sabem distinguir entre sonhos e
experiências de quando se está acordado.
No entanto, são pessoas que relatam o que passaram quando
estiveram nas proximidades da morte, não como sonhos, mas como
eventos que aconteceram com elas. Quase invariavelmente, no
decurso de suas narrativas, me asseguraram que suas experiências
não foram sonhos, mas sim, definitivamente, enfaticamente reais.
Finalmente, há o fato de que existe certa corrobo-ração
independente para alguns dos relatos de episódios fora do corpo.
Embora compromissos assumidos com outrem me impeçam de
fornecer nomes e detalhes identificadores, vi e ouvi o suficiente para
dizer que continuo perplexo e estarrecido. É minha opinião que
qualquer um que encare as experiências de quase morte de maneira
organizada provavelmente irá descobrir essas corroborações
aparentemente estranhas. Pelo menos, creio que descobrirá fatos
suficientes para fazê-lo suspeitar que as experiências de quase
morte, longe de ser sonhos, podem bem pertencer a uma categoria
bastante diferente.

Como nota final, deixem-me indicar aqui que "explicações" são
apenas sistemas intelectuais abstratos. São também, sob certos
aspectos, projeções dos egos das pessoas que as defendem. As
pessoas tornam-se emocionalmente casadas, por assim dizer, com as
normas de explicação científica que elaboram ou que adotam.
Nas numerosas conferências sobre minha coleção de narrativas
sobre acontecimentos de quase morte, encontrei proponentes de
muitos tipos de explicação. Pessoas que pensam fisiológica,


farmacológica ou neurologicamente encaram as suas próprias
orientações como fontes de explicação que são intuitivamente óbvias,
mesmo que os casos trazidos à baila pareçam contrariar aquela
particular explicação. Aqueles que esposam as teorias de Freud
agradam-se por ver no ser de luz uma projeção do pai do paciente,
enquanto os adeptos de Jung vêem arquétipos do inconsciente coletivo,
e assim por diante, ad injinitum.
Embora eu queira afirmar mais uma vez que não estou propondo
nenhuma nova explicação pessoal para tudo isso, tentei dar
algumas razões do porquê de as explicações que com freqüência são
propostas me parecerem pelo menos discutíveis. Com efeito, tudo o
que quero realmente sugerir é isto: deixemos pelo menos aberta a
possibilidade de que as experiências de quase morte representem
um fenômeno novo para o qual talvez seja preciso elaborar novos
modos de explicação e interpretação.

VI
Impressões


Ao escrever este livro tinha plena consciência de que meu propósito
e minhas perspectivas poderiam ser facilmente mal entendidos. Em
particular, gostaria de dizer aos leitores que pensam cientificamente
que estou ciente, de maneira cabal, que o que fiz não constitui um
estudo científico. E, aos meus colegas filósofos, gostaria de insistir
que não estou tendo a ilusão de ter provado que existe vida depois
da morte. Tratar dessa questão de maneira cabal acarretaria à


discussão de detalhes técnicos que estão além do escopo deste livro,
e por isso limitar-me-ei às seguintes e breves observações.
Em áreas de estudo especializadas, tais como a lógica, o direito e a
ciência, as palavras "conclusão", "prova" e "testemunho" são termos
técnicos e têm um significado mais refinado do que no uso vulgar.
Um passar de olhos por qualquer revista popular de notícias
sensacionais mostrará que qualquer conto impossível pode ser
apresentado como "prova" de alguma alegação inverossímil.
Na lógica, o que pode e o que não pode ser dito a partir de um
conjunto de premissas não é de modo algum uma questão
arbitrária. Ao contrário, é precisa e vigorosamente definido por
regras, convenções e leis. Quando alguém diz que tirou certas
"conclusões", está implicitamente afirmando que qualquer um que
parta

das mesmas premissas deve chegar às mesmas conclusões, a menos
que tenha cometido um erro de lógica.
Essas observações indicam por que me recuso a tirar qualquer
"conclusão" de meu estudo e por que não estou tentando construir
uma prova da doutrina antiga da sobrevivência depois da morte
corporal. No entanto, penso que estes relatos de experiências de
quase morte são muito significativos. O que quero fazer é encontrar
um jeito de interpretá-los que nem as rejeite na base de que estas
experiências não constituem prova científica ou lógica, nem faça
delas sensacionalismo apelando para argumentos vagamente
emocionais dizendo que "provam" que há vida depois da morte.
Ao mesmo tempo, parece-me ser uma possibilidade aberta a de que
nossa inabilidade atual de construir uma "prova" possa não
representar uma limitação imposta pela natureza dos dados (as
próprias experiências de quase morte). Talvez, em vez disso, a
limitação seja dos modos correntemente aceitos de pensamento
científico e lógico. Pode bem acontecer que a perspectiva dos
cientistas e lógicos do futuro seja bem diferente. (É preciso lembrar


que historicamente a metodologia científica e a lógica não foram
sistemas estáticos e fixos, mas sim processos dinâmicos.)
Assim, o que me resta não são conclusões, provas ou testemunhos,
mas algo muito menos definido — sentimentos, questões, analogias
e fatos intrigantes a serem explicados. Na verdade, pode ser mais
apropriado perguntar, não quais as conclusões a que cheguei na
base desse estudo, mas, ao invés, como o estudo me afetou
pessoalmente. Como resposta só posso dizer: há algo extremamente
convincente no ouvir alguém descrever sua experiência que não
pode ser facilmente posto por escrito. As experiências de quase
morte foram acontecimentos reais para essas pessoas, e, através da
minha associação com elas, essas experiências tornaram-se para
mim também eventos reais.
Compreendo, no entanto, que esta é uma consideração psicológica e
não lógica. A lógica é um assunto público e as considerações
psicológicas não são públicas da mesma maneira. O mesmo
conjunto de circunstâncias pode afetar ou modificar de um certo
modo dada pessoa, e de outro, completamente diferente, outra
pessoa. É uma questão de disposição e temperamento, e não quero
sugerir que as minhas próprias reações a este estudo devam se
tornar um paradigma de pensamento para todo o mundo. Em vista
disso, alguém pode perguntar: "Se a interpretação dessas experiências
é, no fim das contas, uma questão tão subjetiva, por que estudálas?"
Não posso pensar em nenhuma outra resposta senão mais uma
vez indicar a preocupação humana universal com a natureza da
morte. Acredito que qualquer luz que possa ser lançada sobre a
natureza da morte é para o bem.
Membros de muitas profissões e campos acadêmicos necessitam
esclarecimentos sobre este assunto. São necessários para o médico
que tem de lidar com o medo e as esperanças do moribundo e para
os que ministram ajuda a outros diante da morte. São necessários
também aos psicólogos e psiquiatras, porque para elaborar métodos
válidos e úteis para a terapia dos distúrbios emocionais precisam


saber o que a mente é e se pode ou não existir independentemente
do corpo. Se não pode, então a ênfase da terapia psicológica irá
mudando gradativamente na direção dos métodos físicos — drogas,
choque elétrico, cirurgia do cérebro e outros que tais. De outro lado,
se existirem indicações de que a mente pode existir à parte do corpo
e de que é alguma coisa por direito próprio, então a terapia das
desordens mentais acabará por ser algo muito diferente.

Entretanto, a questão diz respeito a mais do que problemas
acadêmicos e profissionais. Refere-se também a assuntos
profundamente pessoais, pois o que aprendemos sobre a morte
pode fazer uma diferença importante em como vivemos nossas
vidas. Se experiências do tipo que venho discutindo são reais, elas
têm implicações muito profundas para o que cada um de nós está
fazendo com sua vida. Pois será então verdade que não podemos
compreender inteiramente esta vida enquanto não vislumbrarmos o
que jaz além.

Posfácio


Cerca de um ano decorreu entre a conclusão do manuscrito deste
livro e sua publicação. Nesse ínterim, muitos dados adicionais
chegaram ao meu conhecimento. De particular importância foram
os relatos de fenômenos de quase morte que ocorreram associados
com tentativas de suicídio. Creio que são suficientemente
significativos para serem incluídos no presente volume. Essas
experiências foram uniformemente caracterizadas como
desagradáveis. Como disse uma mulher: "Se você deixa aqui um
espírito atormentado, também lá você será um espírito
atormentado". Em resumo, essas pessoas relatam que os conflitos


dos quais quiseram escapar tentando o suicídio ainda estavam
presentes depois que elas morreram, mas com complicações adicionais.
No seu estado fora do corpo não eram capazes de fazer
nada com relação aos seus problemas, e ainda tinham que ver as
conseqüências infelizes que resultaram de seus atos.
Um homem, desalentado com a morte de sua esposa, deu um tiro
em si mesmo, "morreu" em conseqüência disso e foi ressuscitado.
Ele conta:

"Não fui para onde estava minha esposa. Fui para um lugar terrível.
. . Imediatamente, vi o engano que tinha cometido. . . Pensei:
'Gostaria de não ter feito isso' ".

Outros que experimentaram esse desagradável estágio no "limbo"
contam que tiveram a sensação de que permaneceriam lá por muito
tempo. Seria esse o seu castigo por terem "quebrado as regras",
tentando libertar-se prematuramente daquilo que era, com efeito,
uma "atribuição" para cumprir um certo propósito na vida.
Tais observações coincidem com o que tem sido dito por diversas
pessoas que "morreram" de outras causas; disseram que, enquanto
estavam nesse estado, foi-lhes dado a entender que o suicídio era
um ato muito infeliz, punido com uma severa penalidade. Um
homem que "morreu" após um acidente disse:

"Enquanto estava lá tive a sensação de que as duas coisas que me
eram completamente vedadas fazer seriam matar-me ou matar
outra pessoa.(. . . ) Se estivesse para cometer suicídio, estaria
lançando a dádiva de Deus diretamente de volta à sua face. ( . . . )
Matando outra pessoa, estaria interferindo nos propósitos de Deus
para com aquele indivíduo".

Sentimentos como esse, que agora têm sido expressos a mim em
muitos relatos separados, são semelhantes àqueles incorporados à


maior parte da antiga argumentação moral e teológica a respeito do
suicídio — e que aparece sob várias formas nos escritos de pensadores
tão diferenciados como São Tomás de Aquino, Locke e Kant. Do
ponto de vista de Kant, um suicida está agindo em oposição aos
propósitos de Deus e, chegando ao outro lado, é visto como alguém
que se rebelou contra o seu criador.

Dr. Raymond A. Moody, Jr.

A VERDADE SOBRE REENCARNAÇÃO

Desde tempos imemoriais, uma das maiores preocupações da
humanidade está ligada ao seu destino depois da morte. E, por
consequência, à sua ascendência, antes de nascer.
A problemática tem sido estudada por grandes filósofos e
pensadores em todo o mundo, mas ninguém conseguiu se
aproximar tanto da verdade quanto o Dr. Raymond A. Moody Jr..
Por isso, este livro é o de maior repercussão em todo o mundo.
A pesquisa revelada por Vida Depois da Vida cita inúmeras
experiências dramáticas, reais, de pessoas declaradas clinicamente
"mortas". Os relatos são tão semelhantes, tão reais, tão
convincentemente positivos, que poderão mudar a visão da
humanidade sobre a vida, a morte, e a sobrevivência eterna do
espírito e da alma.
A opinião de outros médicos de fama internacional como a Dra.
Elisabeth Kubler-Ross tem sido fundamental para o sucesso do livro
e das reportagens que sobre o assunto, feitas, inclusive, na televisão.


Diz a Dra. Kubler-Ross: "Recomendo este livro a qualquer pessoa
que tenha a mente aberta. E congratulo o Dr. Moody pela coragem
de publicar os seus resultados."
Vida Depois da Vida tem vendido milhões de exemplares, desde a
sua publicação em mais de 40 países, incluindo o Brasil.

A LUZ DO ALÉM
novas revelações de
VIDA DEPOIS DA VIDA


Segundo o Dr. Moody, existem mais de oito milhões de pessoas
vivas, no mundo, que passaram pela experiência da "morte" clínica,
mas sobreviveram para contar as suas experiências.
Em seu novo livro A LUZ DO ALÉM, O Dr. Moody amplia o
alcance das suas revelações e reflexões, com casos novos,
impressionantes, e pesquisas conclusivas sobre a mais fascinante
das fronteiras, a ponte entre a vida e a morte.
Ele agora apresenta:
—1.000 novos casos, incluindo EQM (Experiência de Quase Morte)
de infância e em combate;


— O testemunho de como as EQM têm influenciado as vidas
daqueles que as experimentaram;
— Uma visão do profundo efeito causado sobre cientistas,
estudiosos, clínicos e médicos especializados que lidam com as
EQM;

— As mudanças extraordinárias nos valores e crenças, os dilemas e
as dificuldades, de famílias e amigos de mulheres e homens que já
estiveram do "outro lado" da vida.
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  Vida Depois da Vida - Dr. Raymond Moody, Jr.
 
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   Digitalização:  M. Loureiro


Sinopse:

O que acontece quando uma pessoa morre? Uma pesquisa séria e impressionante do fenômeno da sobrevivência à morte física.


Nos últimos anos o Dr. Raymond Moody Jr. Conduziu um estudo envolvendo mais de uma centena de indivíduos que  experimentaram a morte clínica e reviveram.


Os relatos de suas experiências são espantosamente semelhantes em seus detalhes e fornecem uma prova incontestável da sobrevivência do espírito humano depois da morte.


Este livro vem confirmar o que nós temos pensado durante dois mil anos: que existe vida depois da morte!


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