"Ah, que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais". Estava lendo poesias de Casimiro de Abreu e deparei-me com essa frase, do poema "Meus oito anos", publicado em 1859 no livro As Primaveras. Parei para pensar e percebi que não: não tenho saudades da aurora da minha vida. Não tenho saudades do passado. Tenho boas lembranças sim, mas... saudades? Não. Estou a exatamente um mês de completar 40 anos de idade e, quer saber? Estou adorando! Ouço tantas pessoas falarem das coisas boas do passado, de como a vida era melhor, da saudade daquilo que ficou para trás, tendo vergonha de dizer a idade, enfadadas por estarem envelhecendo... e me sinto um ET por gostar da maturidade. Sim, vivi coisas boas. Muitas. Mas refletindo sobre essa poesia de Casimiro me dei conta de que o presente e o futuro me instigam muito mais do que o passado. E também me alegram muito mais.
E olha que vivi um passado rico. Com dores e mágoas, naturalmente, mas também com alegrias. Cantei em óperas, velejei, viajei mais de 12 vezes ao exterior, tive experiências riquíssimas com Deus, li livros emocionantes e transformadores, assisti a deliciosas peças de teatro, tive amigos que me acrescentaram muito, vi castelos, naveguei entre icebergs, afaguei cachorros, deitei na areia fofa da praia, escrevi poesias ruins e livros que para minha surpesa até foram premiados, vi alguns entardeceres dos mais lindos do mundo, tomei sorvete Bertillon, dormi em chalés de Lumiar com paisagens de tirar o fôlego, toquei instrumentos musicais, comi fondue, ganhei de Deus a filha mais linda e carinhosa do mundo, casei-me com uma mulher rara, tive pais que me deram cultura e um irmão que é chato mas eu amo...e ainda por cima deitei muitas vezes nas pedras do Arpoador para ouvir as ondas baterem nas rochas. É...que passado legal...
Mas penso na minha trajetória e vejo que tudo o que me aconteceu até hoje foi uma preparação para o que está por vir. Porque olho para a vida da esmagadora maioria das pessoas e percebo que as coisas acontecem nessa progressão: você nasce, estuda na escola se preparando pra universidade, passa pra universidade se preparando pro mercado de trabalho, começa a trabalhar se preparando para a aposentadoria, se aposenta se preparando para um período de repouso e repousa se preparando para a morte. E aí morre. Meu Deus! Que perspectiva é essa?! Eu prefiro ver por outro ângulo.
Ao contrário de Casimiro, eu não tenho saudades da aurora da minha vida porque eu tinha vivido tão pouco! Experimentado tão pouco! Amado tão pouco! Com oito anos eu era um girino ambulante que só pensava bobagens. Fui crescendo e a cada novo dia algo novo ia sendo acrescentado a essa pessoinha chamada Mauricio Zágari, algo que ajudava a me lapidar, me forjar, me afiar, formar o quarentão que em breve eu serei. E quer saber? Me perdoe, querido irmão ou irmã mais novo ou mais nova do que eu, você que é adolescente, jovem ou um neoadulto pelo que vou dizer a seguir, mas é a pura expressão da realidade.
Quando era adolescente eu era um toupeira. Achava que sabia tudo, peitava meus pais, era o dono da verdade. Um tolo. Cresci um pouquinho mais, cheguei aos meus 20 anos e acreditava ser um homem. Dá vontade de rir. Hoje eu olho para o Mauricio de 20 anos e percebo que era um pouquinho melhor do que quando adolescente, mas ainda era um boboca. Um completo energúmeno. Sabia pouco ou nada sobre a vida. E o engraçado é que achava que sabia tudo! Cheguei aos 24 para os 25, idade da minha conversão. Sofri muito naquela época e graças a isso amadureci bastante, mas olhando hoje para trás vejo como ainda era cru, bobo, sem traquejo, ignorante em milhões de coisas.
Aos 27 me casei. Pronto, cumpri uma etapa da vida, agora podia ser independente, fugir da pressão da sociedade para me casar, podia ter meu cantinho, fazer minhas coisas...mas hoje, olhando para aquela época percebo que não era apenas 21 quilos a menos que eu tinha, mas muito menos entendimento da vida, conhecimento do mundo, sabedoria e cultura. Meu Deus, eu tinha chegado aos 27 anos, era um homem casado e mal sabia lidar com o ser humano, com o meu próximo...como eu ainda tinha a evoluir! E sabe o que é o mais engraçado? Eu não fazia ideia disso. Achava que estava abafando. Que era maduro. Mas não passava de um meninão brincando de casinha.
Aos 30 eu comecei a pensar mais. Sempre fui uma pessoa reflexiva, mas naquela etapa as reflexões começaram a se intensificar. Eu via coisas bobas e simples e conseguia viajar até a China e voltar apenas vendo uma formiga escalar um galho. Sei lá, é como se o cérebro tivesse mudado de algum modo. Também comecei a ler livros diferentes. Foi quando comecei a me tornar um a pessoa que valia a pena. Ainda não era, mas estava no caminho. Aos 35, percebi que já não era tão bobo. Conseguia ter conversas mais profundas e inteligentes, embora a cada novo livro que devorava percebia, como dizia o fillósofo Sócrates, que "só sei que nada sei". Descobri que gostava de aprender. Entrei no meu segundo seminário teológico e me deleitei com a aquisição de mais conhecimento. Como eu era ignorante...
Para abreviar...estou com 39. Em um mês faço 40. A história da minha vida me mostra que a cada novo dia eu vou aprender mais, viver mais, ter novas experiências. Não devo viver mais do que 30 anos, pois a média do homem brasileiro é de 70 anos. Mas isso não me incomoda. Em 30 anos tem tanta coisa boa que posso fazer, tantos livros a ler, tanto amor a trocar, tanto a ensinar, tanto a aprender! A história da minha vida me diz para não ter saudades dos meus oito anos, lamento, Casimiro. O que ela me ensinou é que cada dia é uma oportunidade nova. Oportunidade de crescer, de sentir, de conhecer mais Deus, de cometer erros e aprender com eles - para, aos 45, não cometê-los mais.
Estou feliz. Vou fazer 40 anos. Serão 14.600 dias de aprendizado, de sensações, de poesia, leitura, oração, comunhão com a coisa mais fascinante que há sobre a face da terra, que é o ser humano. Em alguns desses dias abracei pessoas, em outros consolei gente triste, conversei com muitas pessoas - coisas sérias e coisas divertidas. Meus Deus, embora não tenha saudades (por que de qu e adianta ter saudades "dos anos que não voltam mais", pare para pensar), aprendi com tudo isso, com minha puerilidade de criança, minha tolice de adolescência, minha prepotência de juventude, minha ignorância de neoadultice...enfim, tudo o que vivi em quase 40 anos me ensinaram, num grande resumo da minha vida, algo muito importante: meus próximos anos me reservam ainda muitas coisas espetaculares para viver.
Não faço a mínima ideia do que o futuro me reserva. Ele é um grande ponto de interrogação. Mas uma certeza eu tenho: com 45 serei uma pessoa ainda melhor do que com 40. E com 50, melhor do que com 45. Essa tem sido a progressão da minha vida. Tudo indica que continuará a ser. Pois hoje me vejo até como alguém que tem algo a acrescentar. Mas com 50 vou olhar para hoje e certamente pensar "como eu com 40 era um bobo que não sabia nada..."
Agora...você pode estar se perguntando: o que tem a ver esse papo todo num blog que deveria falar das coisas de Deus? O que me interessa saber da vida do Zágari? Meu irmão, minha irmã, a Biblia nos diz que nossa vida é como um "sopro" e como uma "neblina". Tanto um como a outra são coisas breves, que se desanuviam em um segundo. Acredite: sua vida vai passar num piscar de olhos. Faça tudo o que estiver ao seu alcance para ela valer a pena. Que cada dia da sua vida tenha um significado. Um aprendizado. Uma doação. Uma entrega. Uma manifestação de amor a Deus e ao próximo. Isso principalmente: amor.
Assim, quando você chegar lá no finalzinho da sua jornada na terra, vai saber que o entardecer da sua vida terá sido muito mais bonito do que a aurora da sua vida.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
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