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Re: "Retinas Amarelas" ( máh luporini/ jonas santos) — comentários (paulo)


Vamos à nova parceria e ao que eu mais curto:


"recorto a brisa das artérias na silhueta do silêncio"
(a imagem é complexa, mas soa simples)

"Eu sou a lembrança das raposas que param diante da lua"
(me emociona; cena de cinema)

"A madeira se aproxima da minha raiz"
(inversão interesting)

"Finjo que a natureza é transitória e que a carne é mortal"
(ironia deliciosa)

"Cruzo os elevadores nas vértebras da lâmina amanhecida 
A margem do corpo apodrece a líquida agonia derramada no meu quarto"
(boa sequência de versos)

"Esboço de sonhos na arquitetura dos girassóis"
(imagem bonita demais)

"Eu quero que o mundo beba meu sangue e conte histórias de terror para as crianças ninarem sabendo de todas as desgraças dos horários de almoço e janta"
(prosa surpreedente em meio aos versos, mas mantém algo)

"a geometria bêbada dos teus joelhos"
(queria ter escrito)

"Na caixa solitária do teu crânio os ramos dançam na poltrona dos teus ombros"
(final lá no alto, tanta cousa em pouco espaço)



Aquele abraço,
Paulo
http://poenocine.blogspot.com.br


--- Em seg, 6/8/12, MAH <mairaluporini@gmail.com> escreveu:

De: MAH <mairaluporini@gmail.com>
Assunto: "Retinas Amarelas" ( máh luporini/ jonas santos)
Para: oficina-do-willer-sesc-2012@googlegroups.com
Data: Segunda-feira, 6 de Agosto de 2012, 15:47

"Retinas Amarelas" 

Nas esquinas pontilhadas recorto a brisa das artérias na silhueta do silêncio.
Dentro dos copos molhados descansa uma manada de moedas amarelas. 
Eu sou a lembrança das raposas que param diante da lua –
Já não é mais a raposa e a lua que choram três vezes pelas crianças 
que tropeçaram e não se levantam mais 
N
os poros dos bosques encontro teus olhos na agulha flamejante 
Costurando a contorno das árvores 
Velejo sobre o terraço subterrâneo
A madeira se aproxima da minha raiz
O cimento avança sobre minhas mãos
As pessoas reclamam do cheiro que os cães deixam nos elevares
Eu vejo tudo como quem está de passagem
Finjo que a natureza é transitória e que a carne é mortal 
É preciso retalhar a antemanhã das horas tingidas de cobre
Caminho pelas avenidas fumando os neurônios dos passantes 
cheirando o tempo do inconsciente na cabeceira do edifício intrometido
Umidade da lembrança exorcista
Cruzo os elevadores nas vértebras da lâmina amanhecida 
A margem do corpo apodrece a líquida agonia derramada no meu quarto
Onde derramo palavras no grafite de Blake 
A calçada morta junto à lápide me encara

Um violão grita em direção da rocha quando meus olhos piscam
para o abismo das paredes em festa
No jazz da noite penduro os cristais na antena do teu uivo
Olhar amanteigado no muro da desordem 
Esboço de sonhos na arquitetura dos girassóis 

Eu quero que o mundo beba meu sangue e conte histórias de terror para as crianças ninarem sabendo de todas as desgraças dos horários de almoço e janta, obrigado meu deus, mas acho que enlouqueci, ou não, talvez tenha sido a linguagem que começou a se dizer na infinita tarde vermelha da rua direita com a Av. Consolação

Tarde de domingo devorando papoulas na mesa do café observando a geometria bêbada dos teus joelhos, pânicos se multiplicam na cinza anatomia do teu corpo. Cruzando o tráfego rubro da Praça Afonso Pena escrevo minha autópsia. 

Quero você na rosa
diária das águas
No dia
Na noite
Na sombra 

Na caixa solitária do teu crânio os ramos dançam na poltrona dos teus ombros. 

(Máh Luporini/ Jonas Pereira Santos)
 

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