Quando eu era criança,
meu pai soprava meu cabelo ao me pentear, para que não doece.
Ele deixava meu cabelo "lambido", de lado, eu ficava feia assim, mas deixava.
Me sentir cuidada superava tudo.
Depois ele me levava até a porta de casa, e me dizia:
"Vai filha, eu fico te olhando daqui!".
Eu não olhava pra trás, mas sabia que ele estava lá e eu estaria segura,
e constatava isso ao dobrar a esquina e dar o último tchau pra ele.
Dalí em diante, me cercava de cuidados, todos os que ele me alertou,
tinha que ter cuidado com o papa-figo, tinha que olhar pros dois lados
antes de atravessar a rua, não falar com estranhos, principalmente
se parasse um carro pra pedir informação, nessa hora pedia que eu corresse,
e eu corria.
Ao chegar na escola, antes de entrar lá eu assanhava meu cabelo
e só depois ía para a sala de aula estudar.
A professora me assustava,
lembro-me que ela era gorda, baixinha e má.
Eu não sabia escrever meu nome, na minha mesa uma plaquinha pra eu copiar:
"JACIRLENE".
A professora reclamava, mas esse nome era difícil pra mim.
Antes das pessoas errarem o meu nome, eu já fazia isso muito bem.
Eu era uma aluna boa, em notas e em comportamento.
Nunca cheguei a ser uma "CDF", mas estava bem próxima disso,
se eu não achasse minha inteligência limitada.
Eu não frequentava os banheiros da escola, e passei maus bocados por conta disso.
Nessa época ainda não era por ter paranóias com bactérias, como hoje,
mas sim, por medo da terrível "loira do banheiro". Quem não passou por isso?
No final da aula, eu não ficava por lá perambulando como as outras crianças e,
ao voltar pra casa, voltava correndo e brincando,
já nem me lembrava de fazer mais nada que meu pai havia mandado,
meus anjos me guardavam.
Olhava para o semáforo e pensava:
"Qual a cor mesmo que devo passar? Acho que o verde!".
Eu observava as pessoas e as acompanhava, menos chance de errar,
só não podia falar com elas.
Lembro que um dia, numa dessas voltas pra casa,
chovia muito com relâmpagos e trovoadas,
nesse dia o colégio inundou,
uma árvore caiu sobre as escola numa hora em que eu passava bem perto,
o muro caiu ao meu lado,
eu comecei a correr com muito medo e já cansada parei na venda do Seu Salu,
chorando, e ele me trouxe uma toalha e junto me deu um banquinho pra sentar.
Apesar de assustada, não recusei.
E graças a Deus aquele homem gentil não me fez mal, só me ajudou.
A chuva parou, voltei pra casa com meus olhinhos assustados.
Meu pai perguntou, "O que houve filha?"
Falei que nada, tive medo dele reclamar.
Ele me deu um abraço, me pôs no banho, me vestiu uma roupa quentinha,
como que o único perigo fosse o de eu gripar.
E hoje, eu já com filhos imagino, o que eles passam por aí?
Essas cenas por vezes me passam na cabeça
e hoje me fazem pensar nos riscos que corrí e, mesmo assim, sobreviví.
E graças a Deus e aos conselhos do meu saudoso pai,
tenho hoje como lembrança apenas histórias de uma bela e feliz infância
que me fazem entender que viver é recordar...!
Jal Magalhães
06/01/2013
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