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[Mar de Poesias] Inteira - Texto de Yohana Sanfer

 

Inteira  Texto de Yohana Sanfer extraído do blog:  Papel, Palavra, Coração em http://yosanfer.blogspot.com.br/

 
Imprimo o que me contém.
Não espere que eu seja contida.
Minhas emoções extravasam minhas bordas, borbulham na superfície, transbordam de mim. 
Expresso o que me toca. Não me peça pra ser impassível. Sou feita de sentir.
E meu sentir faz bagunça, sobe no palco, salta do peito.
Gosto de viver assim: des-me-di-da-men-te-a-pai-xo-na-da. 
Quisera eu, ser feita de silêncios. Daqueles que restauram e espelham. Daqueles que traduzem.
Tem muito barulho por aqui. Tem o riso solto, a alegria escancarada, a música alta.
Tem a vontade de realizar e uma implicância danada com essa coisa de se bastar. Uma fé infantil no futuro. 
Sou feliz e grata com a vida que tenho mas vivo seguindo o conselho de Fernando Pessoa:
não acostumo com o que não me faz feliz e revolto-me quando julgo necessário.  
Não sei fingir sentimentos. Não sei ensaiar simpatia. Ainda não aprendi a ignorar o que me ofende,
me acomodar com o que incomoda, usar o silêncio como suposta superioridade e pseudo-atestado de controle.
Jamais conseguiria, vivo à flor da pele, obedeço o coração.
Meu riso será indecente quando surgido, meu questionamento será inevitável quando provocado,
meu choro, um convite: me conheça. 
Me faça surpresas, me leve para ver o pôr do sol. Sou cativada por detalhes, uma encantada por pequenices.
Me escreva qualquer frase que combine com o seu querer, apareça do nada e me presenteie com cheiros, com cores, com vinho, com móbiles e palavras.
Não é difícil me fazer sorrir.
Não me queira cética. Acredito em milagres, em intuições, em abraços e em declarações de amor.
Desacreditar seria desistir, seria entristecer. E eu recuso todo e qualquer convite da tristeza.
Alegria é o que me inspira. Emoção o que me traduz. Acreditar é o que explica a minha vida. 
Me faça convites, me conte uma história. Vamos deitar numa pedra e admirar o céu sem procurar saber da hora.
Meu relógio pára numa prosa em boa companhia.
Espere de mim ideias, perguntas e também respostas. Respostas gentis, atenciosas, debochadas ou tortas.
Tem opção para todos os gostos e reciprocidade para todos os gestos. Mas não espere de mim amarguras.
Não confunda a minha receita. Tenho doses de doçura e pimenta para muitas porções, mas nunca cultivei o rancor.  
Espere de mim o perdão, o pedido e o concedido. Sei reconhecer minhas falhas e acredito em qualquer um até mesmo depois que me prove o contrário.
Sei dar segunda chance a quem merece, a quem faz valer a caminhada. E assumo todos os riscos.
Prefiro assim do que me confortar com serás. Sou adepta do tentar e também do refazer. 
Conte comigo, te dou meu ombro e minha sinceridade. Chegue mais perto, pegue na minha mão.
Divido meus sonhos contigo, te empresto meus discos e meus livros.
Me dê conselhos, me dê espaço.
Repouso no teu colo e te conto a minha história. Tenho essa mania errante de me espalhar por aí. 
Não tenho muita paciência, releve esse meu pesar. Não tenho vocação pra viver a conta-gotas.
Me instigue mas não me provoque tanto. Me queira serena, quieta, satisfeita.
Tenho febres elevadas, desejos insaciáveis, tenho coragens infinitas quando desafiada. 
Tenho a mania de deixar o desaforo da porta pra fora. Sabe aquele texto da Martha Medeiros que diz:
"Não grite comigo. Tenho o péssimo hábito de revidar"?
Pois é. Se eu pudesse, estenderia a mão e diria a autora: bate aqui. Meu maior defeito talvez seja este. Minha defesa primeira. 
Conte com a minha bondade, abrace o meu afeto mas não subestime a minha mansidão. Não apronte comigo contando com a minha suavidade.
Ainda não aprendi com a sabedoria daqueles que deixam pra lá, não compactuo com aqueles que se contém corroendo por dentro.
Nessas horas extravio a educação bonita que mamãe me deu e sigo concordando que respeito é pra quem tem. 
Pareço vento e de repente eu seja mesmo.
Mas veja, sou simples de se capturar.
Meu parecer talvez seja este: eu simpatizo com os urgentes e me recolho na intensidade.
Suplico a paciência e enlouqueço na espera.
O talvez não me responde, o quase não me convence, o "não sei" me sufoca o peito e me arde toda.  
Eu vivo é de quereres, insaciáveis e emergentes.
Reciclo minhas coragens e não confiro a temperatura da água.
Eu mergulho. Inteira.
E descubro que sei nadar.

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