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'rouco como o silêncio das orquestras (jonas/giovanna) — comentários (paulo)


Parto do pressuposto democrático de a maioria gostar das troca de figurinhas poéticas
— recebi alguns e-mails incentivando —
e prossigo comentando os dos colegas e enviando novas parcerias em breve.

Jonas e Giovanna, dupla que promete muito já peli primeiro exemplar do gênero:


"Os cavalos gritam
Nas paredes dos teus olhos
"
(um dos começos mais belos da promiscuidade literária até hoje)

"Me beije no verão da morte absurda
Com teus lábios de folha silvestre
Entre lobos, livros e rosas de jasmim
"
(bela sequência)

"Não corra como o vento"
(simplicidade desconcertante)

"Pude ver o dobrar de pernas serenas
Onde ninguém ouve ninguém
E as calçadas do pensamento
Gritam pelos olhos sensíveis dos cães
"
(dois versos finais, uma misturada nervosa)

"Ou se come vagens azuis com bolas selvagens"
(inusitado, tem brilho próprio, me gera sensações bem diferentes)

"Mas você insiste em reinventar o sangue"
(como eu queria ter escrito esse verso!)

"Aquele que cai dos ponteiros coberto de traças
Não sei por que quis reviver a praga
"
(a imagem do relógio me hipnotiza)

"E que as caveiras rezam
Loucas para que o ódio
Não tome conta de nossas mentes carentes
"
(gosto muito dos dois primeiros versos)

"Vamos errar como todos os reis erraram
Quero conhecer seus pés de lírios
Dos trigos que prendi na porta branca da sua casa
Quando já não aguentava esperar
"
(primeiro verso, magistral; restante, força lírica surrealista, tipo Éluard)


Aquele abraço,
Paulo
http://poenocine.blogspot.com.br


--- Em seg, 13/8/12, Jonas Santos <jonasp.santos@hotmail.com> escreveu:

De: Jonas Santos <jonasp.santos@hotmail.com>
Assunto: RE: 'gênese das muralhas' (élvio/paulo)
Para: "universo da poesia unioverso da poesia" <universodapoesia@googlegroups.com>, "oficina Willer" <oficina-do-willer-sesc-2012@googlegroups.com>, "Oficina Willer" <oficina-literaria-willer@googlegroups.com>
Cc: surrealismo2011@googlegroups.com
Data: Segunda-feira, 13 de Agosto de 2012, 3:28

No ritmo das Parcerias, Alá Willerianos and Friends:

Rouco Como O Silêncio Das Orquestras

Os cavalos gritam
Nas paredes dos teus olhos
Quando a morte pingar sobre o lábio seco
Corra para a via clara
Me beije no verão da morte absurda
Com teus lábios de folha silvestre
Entre lobos, livros e rosas de jasmim

O lençol flutuou sob a pele rosada

Levando palmeiras sedentas por taças cheias de gim
Não corra como o vento

Ontem eu te vi atravessando a rua

Com seus belos olhos e andar diurno
Na calçada manchada de nanquim
Pude ver o dobrar de pernas serenas
Onde ninguém ouve ninguém
E as calçadas do pensamento
Gritam pelos olhos sensíveis dos cães

Estou na rua com um milhão de amigos

Todos caídos
Esmagados por esferas cubanas
Já não sabendo se corre no pátio-eucalipto
Ou se come vagens azuis com bolas selvagens
Tento esquecer as matas
Onde os onze estão nos esperando
Para falar do trabalho
Me sinto cansado
Tenho vontade de me deitar
Mas você insiste em reinventar o sangue

Aquele que cai dos ponteiros coberto de traças

Não sei por que quis reviver a praga

Demônios da minha mente

Me digam
O que querem de mim
Estou no teto dos relógios
Não aguento mais os sussurros
A ventania sórdida que espanca minha janela de prazeres não mais sadios
Sei que vieram visitar minha sombra num sonho sedutor
E que as caveiras rezam
Loucas para que o ódio
Não tome conta de nossas mentes carentes

Quando outro é uma possibilidade

A carência é razão inabalável
Quando meu pulso sentir seu corpo nu
Saberemos que a pele é um deus que reza por nós
De dentro de nós

Teus cabelos são cor de rosa

Seu anel é um brilho de azul
Você é uma criança rigorosa
Meu verso atravessa teu corpo
Meu corpo teme a palavra
Eis a hora do descanso

O verso diz algo sobre você e bem mais que você

Vamos errar como todos os reis erraram
Quero conhecer seus pés de lírios
Dos trigos que prendi na porta branca da sua casa
Quando já não aguentava esperar
Seu abraço de baldes d'agua
De colunas de concreto numa casinha do interior
Me de tua mão para atravessar a rua
Está chovendo muito
Não quero me perder de ti.

( Giovanna Falarara/ Jonas Santos)



Date: Tue, 31 Jul 2012 07:26:51 -0700
From: paulo_sposati@yahoo.com.br
Subject: 'gênese das muralhas' (élvio/paulo)
To: oficina-do-willer-sesc-2012@googlegroups.com; oficina-literaria-willer@googlegroups.com
CC: surrealismo2011@googlegroups.com; universodapoesia@googlegroups.com


Gênese das Muralhas

 

A nostalgia que move meu terceiro pulso comove a menor abelha que descobre meus vestígios entre as grades do arco-íris. Deixei meus pertences na areia onde a noite pulava corda com as crianças. Bem sei: não há lugar melhor para abandonar o que amamos.

 

A companhia do horizonte, em certa hora, é apenas despedida, entre os raios do caranguejo e o colo das vértebras; por isso, a saia perdida entre as rochas me joga contra a memória, trapos de uma paixão, antes tão incendiária, que persigo as nuvens que se esqueceram de aterrissar.

 

Quem poderá dizer onde dança a chaga da estrela? Ouço ainda o tolo e sua música de ostras sobre o mar. Quem poderá descrever a canção, a estrela da ostra como uma chaga para o tolo? No caule seco do mar fechou-se a única saída.

 

Quando avistei teu lábio de casco de navio apontando meu ventre, percebi a força das pedras. Minha mais fervorosa oração foi a prata das espadas que deceparam tua música. Não abra os dentes: escorrerei de qualquer maneira pelas espumas que se espalham no passeio das manhãs. Assim as águas fizeram adormecer os teus cabelos. Agora encontro refúgio e paz na tua aurora, oculta sob o teu orvalho que sonha um livro.

 

Descanso por um instante o pulso, agora crispado de espinhos e chamas. Você sabe quantos anos têm os meus olhos? Você, torso da minha primavera, saberia dizer qual a cor da minha lua? Viro o rosto. Metade da máscara que uso é o trovão da minha infância.

 

Cacos, cacos, cacos constroem o caminho à frente, e nele preciso depositar meus pés nus.

 

(Elvio Fernandes Gonçalves Junior/ Paulo Sposati Ortiz)




Aquele abraço,
Paulo
http://poenocine.blogspot.com/


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