Coisas Das Quais Você Não Sabe Nada I Nada funciona Por isso minha barba é um tufão por aldeias talhadas no ruído dos tratores Sob o verde esfacelado das colinas sem sino SOU REI Porque nada funciona Uma caixa de fósforos para a qual o batuque ainda não nasceu O elevador não corresponde expectativas Ocupado de desculpas E sem lenços O mundo pode ter o tamanho do meu punho Não se aproxime Eu sei Por isso EU sou rei E você NÃO Porque não irei às aulas ou lerei os clássicos ou farei baderna ou piscarei para a lua A cabeça goteja por um pavilhão de passagem No viaduto perto do metrô mais longínquo eu deixei um embrulho com um laço Tudo será jornal Mas não HOJE Hoje SOU REI Há um garoto mal amado pelas cintas que desfila em meu tapete Com os soldados daqui para lá na sala de estar Há uma rebelião de ratos famintos em meus tendões Com guardanapo quadriculado ao redor do pescoço Há despedidas que me dissecam Cada vez que me sento Como na barbearia que frequento anos a fio Eu rosnava enfurecido para as maçãs das moças Enquanto a tarde pouco doce deixava escapar a noite que não tive Enquanto equilibro um talher Enquanto atravesso o deserto com os olhos em degelo Enquanto a companhia de um vagão interroga olhos tão perdidos Lembrei-me Certo dia tinha um canhão na garganta Acordei sem resposta Embora já vestido para os ganchos que me surpreenderão daqui a pouco Canso-me dos desalinhos E das vilas trepadas por lajes e sobrados invadidos Como o final do trabalho repleto de torradas e as geleias do desânimo Um negro ancião em jejum balbucia naquele desfiladeiro indigesto Naquele local Antes chamávamos de lugar Fui santificado O vilarejo deixado nas costas flui Como se eu fosse um cativeiro arrombado Rolei por sete colinas E sete vezes mergulhei com pele Relógio E outras futilidades AGORA Ontem também E é o que dizem nas cartas não enviadas Tento trabalhar é como se um cachorro falasse E todos consentissem Um bairro erguido por dentes e doces POR ISSO SOU REI Antes que por ventura Concentre-me em qualquer outra bobagem Menos Você. II Ando Mas me despeço dos fantasmas As flores que regavam minha fronte nos dias de desespero Beberam os rios Estão Hoje Com as nuvens Para onde os meus pés sempre planejaram Você Que não é rei Ouça alguém que já possui o paraíso E o lançou num cesto Há torneiras mais importantes para se observar Curvas de estrada cujas madrugadas ainda não as têm de cor Completamente As conversas são fundamentais Por isso visto um manto tão longo como esse Minha perversão Cada um lida com suas lacunas como pode Eu não posso O pó desenha meu destino e não saberia dizer algo diferente Enquanto a fumaça se enrola em meu ouvido esquerdo Enquanto me levanto e grito POR ISSO SOU REI Mas as colinas apenas abrem os braços III O penúltimo minuto mirou-me nos olhos E um buquê de seios prateava o ponto mais alto da noite Vírus me importunam Não teria olhos senão para o sino sob a montanha As velas se amassam ao gatilho das cinturas Aquecendo as marés A relva toma lugar na última estrela Desço para investigar O que sobrou do caminho Que estrangulei na década passada As estradas aceleram suas portas Na floresta de gente ancestral à morte Na cadeia de insetos e músculos de campanha Sem pescoço e sem socorro Mentiria Calmamente no último instante Eu já disse SOU REI Não real E nada Nada funciona (Michell Ferreira/ Paulo Sposati Ortiz)
Aquele abraço, Paulo http://poenocine.blogspot.com/ |
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